sábado, 10 de março de 2012

ARTIGO DESAFIOS DA INFANCIA E JUVENTUDE POBRE NO BRASIL

Desafios da infância e juventude pobre no Brasil

"Atualmente, vivemos no Brasil duas visões e práticas diferenciadas com relação à situação da infância e juventude, 20 anos depois de criado o Estatuto da Criança e do Adolescente: uma consiste nos sistemas prisionais que se espalham pelo país e que tem demonstrado que em nada recuperam, nem adulto, criança ou adolescente. E de outro lado, iniciativas de organizações não governamentais, que conquistam a criança e o adolescente com práticas comunitárias de esporte, arte e cultura. O problema do abandono social à que crianças e jovens são submetidos (na maior parte das vezes, por carência econômica da própria família) é grande e mirar este desafio com esperança e determinação de "dias melhores" é realmente apontar para um novo Brasil.

Há 10 anos, o Banco Mundial divulgou um estudo sobre o impacto da educação pré-escolar, confirmando que intervenções-chave no início da vida são pequenos investimentos que trazem bom retorno e bem estar físico, mental e econômico ao longo da vida do futuro adulto. Mas o que espera uma criança brasileira que nascem em um lar muito pobre e tem seu destino quase sempre traçado pela falta de oportunidades, a começar pela desvantagem no acesso aos estímulos adequados, à creche e à pré-escola? Tendo aumentadas suas chances de fracassar (repetências e evasões escolares) o futuro jovem/adulto virá ter uma profissão mal remunerada e constituirá uma família pobre, completando o ciclo de pobreza, que se alimenta desde o início da vida.

Em situação de extrema exclusão social, os jovens são cooptados pelas drogas e pelo mundo do crime, o que é profundamente lamentável. Levados a instituições de sistema prisional infanto-juvenil, muitas vezes se degradam pelo convívio violento e sem atividades de inserção (arte, cultura, educação e esporte) em um modelo que também onera os Estados e Municípios. Um estudo da Secretaria Nacional de Direitos Humanos divulgou que o custo para manter uma criança ou adolescente infrator internado, chega até à R$ 7.000,00 mensais, sendo que o gasto médio no país, de acordo com o mesmo estudo é de R$ 4.000,00/mês, aproximadamente.

Por outro lado, projetos sociais que trabalham atividades culturais, esportivas e educativas têm se mostrado eficientes na reconstrução da identidade não só de crianças, mas das próprias comunidades. Tenho uma experiência muito interessante através do projeto Batuque na caixa, que nasceu em 1999 e que ao longo dos anos, contemplou 5.400 crianças e adolescentes com oficinas gratuitas de música, literatura, teatro e desenho em espaços, os mais diversos: Centros Comunitários, Escolas Públicas, Albergues Infantis.

Neste período, tomamos contato com realidades diversas de violência familiar, drogas, incompreensão e mesmo a falta de provimento alimentar. Nos aprofundamos nas questões que norteiam, de fato, a inserção social de indivíduos talentosos e inteligentes, porém desfavorecidos economicamente e ainda pesando sobre eles, o preconceito social.

Tivemos contato com trabalhos conhecidos como o Olodum (Bahia) e Afro-reagge (RJ) e temos comprovado a eficácia de projetos, que além de tudo, tem conquistado a juventude na busca por dias melhores e nos levado a enxergar que o Brasil tem encontrado soluções criativas de custo baixo e perspectivas de inserção social à médio e longo prazo na luta pela transformação do indivíduo e da sociedade."

Publicado em 19/07/2003 no Jornal Panorama, em Londrina/Paraná/Brasil
O autor Aldo Moraes é músico, coordenador do projeto Batuque na caixa e Presidente do Instituto Cultural Arte Brasil.


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