segunda-feira, 5 de março de 2012

VILLA LOBOS E O FOLCLORE NACIONAL

“A MÚSICA FOLCLÓRICA É A EXPANSÃO

O DESENVOLVIMENTO LIVRE DO PRÓPRIO POVO

EXPRESSO PELO SOM” (VILLA LOBOS)


Nesta série de pequenos textos que produzi em 1995, vamos conversar um pouco sobre aspectos e presença do folclore na obra de Villa Lobos, que em 5 de março faria 125 anos.

Villa Lobos e o folclore nacional

“O folclore sou eu”... com esta frase, dita diversas vezes, o compositor Heitor Villa Lobos (1887/1959 ) queria dizer que a música brasileira se dividia em antes e depois de seu aparecimento em nosso cenário cultural. Conhecido e reconhecido por grandes intérpretes e pela imprensa internacional por encontrar inspiração para canções de câmara ou obras sinfônicas em fontes populares, Villa Lobos desejava deixar evidente que o folclore como arte só podia ser percebido quando engrandecido através de sua assinatura. O resto, para ele seria mera manifestação espontânea, sem o alcance universal da música erudita. E por este prisma, se pode compreender outra frase de efeito sua, segundo a qual o compositor alemão Johann Sebastian Bach ( 1685/1750) estaria na raiz do folclore universal.

Nascido em 05 de março de 1887, no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro,Villa Lobos passou a infância em um lar musical e escreveu sua primeira composição”Panqueca” para violão aos 13 anos de idade. Com a morte do pai, Raul, Villa fugiu de casa aos 16 anos e 02 anos depois percorreu o Nordeste, recolhendo temas e canções folclóricas. Quando se casou com a pianista Lucília Guimarães, em 1913, havia percorrido o Sul, Oeste brasileiro e a Amazônia, sempre trazendo na bagagem, composições inspiradas na paisagem do Brasil. Villa Lobos participou da Semana de Arte Moderna, em 1922 (SP) e em 23, fez sua primeira viagem à Europa, fixando-se em Paris.


Nos anos 30, Villa Lobos cria o canto orfeônico para escolas públicas e inicia a série “Bachianas Brasileiras” e os Choros (para formações instrumentais diversas ), onde, respectivamente a música de Bach e o choro carioca se integram à elementos do folclore brasileiro e da linguagem ritualística indígena e negra do Brasil. Obras para piano, violão, quartetos de cordas, câmara diversos, sinfônicas, As 12 Sinfonias, As 14 Serestas (canto e piano), As 16 Cirandas, Os Choros e as Bachianas Brasileiras reúnem cerca de 1.500 composições, que vão desde a fase impressionista ao nacionalismo e finalmente à fase de música universal de Villa Lobos. Esta produção, na qual cantigas de roda harmonizadas com suavidade convivem com afrescos sonoros complexos que beiram ao ruído, só pode mesmo ser chamada de Amazônica. Sua música fala da maneira de ser brasileiro com ritmos marcados e gingados, harmonias coloridas e melodias fortemente delineadas em que se resgata o sentimento do povo miscigenado e generoso.



Adhemar da Nóbrega, um dos grandes conhecedores da obra do compositor, trabalhou à seu lado e analisou seu legado e personalidade, dividindo esta produção em 05 agrupamentos:

1) com influência folclórica indireta (uiapuru, Sinfonias 1 e 2 , ciclo brasileiro e suíte floral )
2) com alguma influência folclórica direta (danças africanas, saci pererê, momo precoce, sexteto místico, noneto, prole do bebê, as cirandas, lenda do caboclo, serestas)
3) Com transfigurada influência folclórica
A série dos choros, curupira, mandú-carará, descobrimento do Brasil, canções típicas brasileiras
4) Com transfigurada influência folclórica e o ambiente musical de Bach (06 prelúdios p/ violão, 09 bachianas, poema de Itabira e José )
5) Domínio do universalismo (sinfonias 6 e 7, fantasia p/ vc e orquestra, concerto para piano 01 )

Personalidade internacional, o Jornal New York Times dedicou um editorial na comemoração dos 70 anos do compositor, que faleceu em novembro de 1959, aos 72 anos. Alguns anos depois, sua viúva Arminda e o Ex-presidente Juscelino Kubitscheck fundaram o Museu Villa Lobos, que cuida da obra de uma das grandes personalidades do Brasil, em todos os tempos.

Aldo Moraes/Compositor
composermoraes@hotmail.com

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