Zuenir Ventura acaba de ser eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Ariano Suassuna.
Zuenir Ventura é mineiro de Além Paraíba, cidade onde nasceu em 1º de junho de 1931. Na adolescência, trabalhou como contínuo no Banco Barra do Piraí, faxineiro no Bar Eldorado e balconista da Camisaria Friburgo, entre outras ocupações. Mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1954 e ingressou na Faculdade Nacional de Filosofia, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj). Formou-se em 1958, em Letras Neolatinas.
Em 1956 tornou-se redator de A História em Notícia (RJ), obra paradidática dirigida por Amaral Netto (1921-1995), que abordava os fatos históricos em linguagem jornalística. No ano seguinte, indicado por um professor da faculdade, conseguiu uma vaga de arquivista na Tribuna da Imprensa (RJ). Ganhou bolsa de estudos do governo francês, em 1959, para estudar no Centro de Formação de Jornalistas, em Paris. Paralelamente, trabalhou como correspondente da Tribuna, fazendo coberturas históricas, como a passagem de Jango por Paris antes de se tornar presidente da República e o encontro de cúpula entre Kennedy e Kruschev, em Viena.
De volta ao Brasil, ficou um tempo na redação da Tribuna e, depois, passou a trabalhar como editor de Internacional no Correio da Manhã, além de dar aula de Comunicacação Verbal na Escola Superior de Desenho Industrial, da qual é um dos criadores. Em 1965, assumiu o cargo de chefe de Reportagem da revista O Cruzeiro. Dois anos depois, tornou-se chefe da filial Rio da revista Visão.
Em 1968 foi preso, acusado de atividades subversivas pela ditadura militar, e passou três meses em uma cela com pessoas influentes como
Hélio Pellegrino (1924-1988),
Ziraldo,
Gerardo Mello Mourão (1917-2007) e
Osvaldo Peralva (1916-1992). Sua mulher e seu irmão também foram presos no mesmo dia, mas ficaram detidos por menos tempo. Escreveu o livro
1968: O Ano que Não Terminou, que se tornou
best-seller e serviu de inspiração para a minissérie
Anos rebeldes, exibida pela Rede Globo.
Em 1969, lançou uma série de reportagens – Os Anos 60: A década que mudou tudo – para a Editora Abril, que mais tarde se transformaria em livro. Em 1975, colaborou com o roteiro do documentário Que país é esse?, de Leon Hirzsman. Dois anos depois, passou a chefiar a sucursal carioca da revista Veja (SP). Junto com outros colegas investigou a morte da jovem Cláudia Lessin Rodrigues (1956-1977), reportagem que lhes conferiu o Prêmio Esso. Em 1980, fez entrevista com Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), rompendo um longo silêncio do poeta.
Em 1981 assumiu o cargo de diretor da filial Rio de Janeiro da revista IstoÉ (SP). Em 1989, como repórter especial do Jornal do Brasil (RJ), investigou o crime do seringueiro Chico Mendes (1944-1988). A série de reportagens lhe rendeu dois prêmios: o Esso de Jornalismo e o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Em 1983 após as chacinas da Candelária e do Vigário Geral colaborou para a criação do Viva Rio, uma organização não governamental dedicada a projetos sociais e campanhas antiviolência. Em 1994, após nove meses frequentando a favela de Vigário Geral, editou um livro contando sua experiência: Cidade Partida, um retrato das causas da violência no Rio, obra que ganhou o Prêmio Jabuti de Reportagem.
Em 1998, ao ser surpreendido por um câncer em fase inicial na bexiga, resolveu publicar o livro Inveja – Mal secreto, onde contou a sua luta e vitória contra a doença, entre outras coisas. Em 2003, depois de 13 anos, voltou ao Acre para escrever a última parte de Chico Mendes – Crime e castigo, lançado pela Companhia das Letras.
É colunista de O Globo