Um dos mais ativos opositores da tortura do regime militar e que chegou a enfrentar pessoalmente o Presidente Médici, Dom Paulo Evaristo Arns, completou 90 anos em 14 de setembro de 2011. Conheça a história do Cardeal que em 1973, vendeu o Palácio Episcopal por US$ 5 milhões para investir o dinheiro na periferia.
Hoje, vive recolhido em uma chácara, em Taboão da Serra, nos arredores da capital paulista, ouvindo música erudita e orando muito. Maior ícone vivo da Igreja Católica Brasileira, sua história vale a pena ser conhecida:
Quinto de treze filhos do casal Gabriel Arns e Helena Steiner, brasileiros, descendentes de imigrantes provenientes da Alemanha (região de Rio Mosela).
Realizou seus estudos fundamentais em Forquilhinha. Depois ingressou no seminário franciscano, no Seminário Seráfico São Luís de Tolosa, em Rio Negro (Paraná). Em 1940, entrou no noviciado, em Rodeio (Santa Catarina). A Filosofia cursou em Curitiba e a Teologia, em Petrópolis.
Três de suas irmãs são freiras, e um irmão faz parte da Ordem dos Frades Menores.
Foi ordenado presbítero no dia 30 de novembro de 1945, em Petrópolis, por Dom José Pereira Alves, arcebispo de Niterói.
Em 2 de maio de 1966 foi eleito bispo titular de Respecta e auxiliar de São Paulo, aos 44 anos. Recebeu a ordenação episcopal em 3 de julho de 1966, na igreja matriz do Sagrado Coração de Jesus em Forquilhinha, sendo sagrante principal Dom Agnelo Rossi, arcebispo de São Paulo, e consagrantes Dom Anselmo Pietrulla OFM, então bispo de Tubarão, e Dom Honorato Piazera SCI, então bispo coadjutor de Lages. No dia 22 de outubro de 1970, o Papa Paulo VI o nomeou arcebispo metropolitano de São Paulo, tendo tomado posse a 1 de novembro de 1970, exercendo o cargo até 15 de abril de 1998, quando renunciou, por limite de idade, detendo o título de Arcebispo Emérito de São Paulo.
ATIVIDADE E CONTRIBUIÇÕES
Sua atuação pastoral foi voltada aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros, principalmente os mais pobres, e à defesa e promoção dos direitos da pessoa humana.
Enquanto bispo auxiliar, trabalhou na Zona Norte paulistana, no bairro de Santana. Durante a ditadura militar, na década de 1970, notabilizou-se na luta pelo fim das torturas e restabelecimento da democracia no país, junto com o rabino Henry Sobel, abrindo uma ponte entre o judaísmo e igreja católica em solo paulista. No mesmo período, também foi um dos escritores do livro "Brasil nunca mais" e integrou o movimento "Tortura nunca mais".
Renovou o plano pastoral da São Paulo, criando novas regiões episcopais, criou quarenta e três novas paróquias. Em 1972 criou a Comissão Justiça e Paz, de São Paulo. Incentivou a Pastoral da Moradia a Pastoral Operária.
Em 22 de maio de 1977 recebeu o título de "Doutor Honoris Causa" (juntamente com o presidente norte-americano Jimmy Carter) na Universidade de Notre Dame, Indiana, Estados Unidos. A distinção, concedida também ao Cardeal Kim da Coréia e ao Bispo Lamont da Rodésia, deveu-se ao seu empenho em prol dos direitos humanos.
Entre 1979 e 1985, coordenou com o Pastor Jaime Wright, de forma clandestina, o projeto Brasil: Nunca Mais. Este projeto tinha como objetivo evitar o possível desaparecimento de documentos durante o processo de redemocratização do país. O trabalho foi realizado em sigilo e o resultado foi a cópia de mais de um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar (STM). Contudo, este material foi microfilmado e remetido ao exterior diante do temor de uma apreensão do material. Em ato público realizado dia 14 de junho de 2011, foi anunciada a futura repatriação, digitalização e disponibilização para todos os brasileiros deste acervo.
Em 3 de junho de 1980 recebeu, em São Paulo o Papa João Paulo II. Em 30 de novembro de 1984 inaugurou a Biblioteca Dom José Gaspar.
Em 1985, com a ajuda de sua irmã, a pediatra Zilda Arns Neumann, implantou a Pastoral da Criança.
Em 1989 a Arquidiocese de São Paulo, por decisão do papa João Paulo II, teve seu território reduzido com a criação das novas dioceses: Osasco, Campo Limpo, São Miguel Paulista e Santo Amaro. Especula-se que esta redução do território da Diocese de São Paulo por parte do papa tenha a ver com as afinidades que D. Paulo tinha com a Teologia da Libertação, movimento católico de caráter esquerdista-socialista que pregava a igualdade e a opção social pelos pobres, em oposição a um certo conservadorismo do papa.
Em 1992, Dom Paulo criou o Vicariato Episcopal da Comunicação, com a finalidade de fazer a Igreja estar presente em todos os meios de comunicação. Em 22 de fevereiro de 1992 inaugurou uma nova residência destinada aos padres idosos, a Casa São Paulo, ano em que também criou a Pastoral dos Portadores de HIV. Em 1994 criou o Conselho Arquidiocesano de Leigos.
Em 1996, após completar 75 anos, apresentou renúncia ao papa, em função das normas eclesiásticas, renúncia esta que foi aceita. A partir de então, tornou-se arcebispo emérito de São Paulo e foi substituído por Dom Frei Cláudio Cardeal Hummes.
BIBLIOGRAFIA
- Autor de 49 livros, suas obras versam sobre a ação pastoral da Igreja nas grandes cidades e estudos da literatura cristã dos primeiros séculos, além de centenas de artigos escritos para as diversas revistas das quais foi redator, antes do episcopado.
- Umas das principais obras foi a pesquisa por ele organizada, em que foi abordada a tortura durante os Anos de Chumbo: Brasil, Nunca Mais.
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