Mestre da arte percussiva e sofisticado compositor, o baterista Paul Motian era uma lenda viva do jazz até a última terça-feira. Ele morreu, aos 80 anos, vítima de síndrome mielodisplásica — uma doença degenerativa que atinge a medula óssea.
Há quatro meses, Motian parecia muito bem disposto — embora como sempre impenetrável, atrás dos inseparáveis óculos escuros — no Village Vanguard, sua “segunda casa” em Nova York, num set de mais de uma hora, à frente de um novo conjunto. Ao seu lado, músicos que poderiam ser seus filhos, como os saxofonistas Bill McHenry e Chris Cheek, o incrível pianista Jacob Sacks e o baixista Thomas Morgan — os dois últimos na faixa dos 30 anos.
Um dos músicos mais singulares do jazz contemporâneo, Motian deixa como legado uma preciosa discografia. Desde quando, entre 1959 e 1961, formou com o pianista Bill Evans e o contrabaixista Scott LaFaro aquele fascinante trio que estabeleceu padrões tão elevados de conteúdo musical e de interação entre os “atores” desse tipo de conjunto, que os trios mais convencionais, com baixo e bateria funcionando como metrônomos, passaram a ser tão obsoletos como os gramofones. São antológicos os registros do Bill Evans Trio, num domingo à tarde de junho de 1961, no Village Vanguard, com as primorosas interpretações de Waltz for Debby e Gloria’s step.
Paul Motian nada tinha a ver com o protótipo do jazz drummer fixado por Gene Krupa, Buddy Rich e Louie Belson, afeitos a malabarismos com as baquetas e a longos solos que levantavam as plateias. Muito pelo contrário, com um gestual discreto, criava desenhos rítmico-melódicos pontilhistas em clima camerístico, por sobre um fundo claro-escuro, em que nuvens sonoras sombrias eram iluminadas, de quando em vez, por relâmpagos providos pelos seus címbalos mágicos. Foi um ás do abstracionismo lírico na música, um Paul Klee do jazz.
Fonte: Jornal do Brasil
Texto: Luiz Orlando Carneiro
Há quatro meses, Motian parecia muito bem disposto — embora como sempre impenetrável, atrás dos inseparáveis óculos escuros — no Village Vanguard, sua “segunda casa” em Nova York, num set de mais de uma hora, à frente de um novo conjunto. Ao seu lado, músicos que poderiam ser seus filhos, como os saxofonistas Bill McHenry e Chris Cheek, o incrível pianista Jacob Sacks e o baixista Thomas Morgan — os dois últimos na faixa dos 30 anos.
Um dos músicos mais singulares do jazz contemporâneo, Motian deixa como legado uma preciosa discografia. Desde quando, entre 1959 e 1961, formou com o pianista Bill Evans e o contrabaixista Scott LaFaro aquele fascinante trio que estabeleceu padrões tão elevados de conteúdo musical e de interação entre os “atores” desse tipo de conjunto, que os trios mais convencionais, com baixo e bateria funcionando como metrônomos, passaram a ser tão obsoletos como os gramofones. São antológicos os registros do Bill Evans Trio, num domingo à tarde de junho de 1961, no Village Vanguard, com as primorosas interpretações de Waltz for Debby e Gloria’s step.
Paul Motian nada tinha a ver com o protótipo do jazz drummer fixado por Gene Krupa, Buddy Rich e Louie Belson, afeitos a malabarismos com as baquetas e a longos solos que levantavam as plateias. Muito pelo contrário, com um gestual discreto, criava desenhos rítmico-melódicos pontilhistas em clima camerístico, por sobre um fundo claro-escuro, em que nuvens sonoras sombrias eram iluminadas, de quando em vez, por relâmpagos providos pelos seus címbalos mágicos. Foi um ás do abstracionismo lírico na música, um Paul Klee do jazz.
Fonte: Jornal do Brasil
Texto: Luiz Orlando Carneiro
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