terça-feira, 3 de abril de 2012

FICA NANA CAYMMI, FICA...


No dia 31 de março, para um público lotado, emocionado e saudoso de sua voz e interpretações únicas, Nana Caymmi anunciou sua aposentadoria.

Prestes a completar 71 anos, a cantora fez um show ao lado de Danilo e Dori Caymmi e segundo a Agência O Estado de São Paulo, reclamou do atual momento da música brasileira, com muita aeróbica, pouca música e nenhuma letra.

Já em 2008 ela havia afirmado em entrevistas que pararia. Foi o ano em que perdeu o pai, Dorival, e a mãe, Stella, num intervalo de doze dias. Muito ligada aos dois, ficou deprimida. De lá para cá, estimulada pela família e por admiradores, lançou o CD Sem Poupar Coração, emplacou a música-título na novela Insensato Coração e fez shows pelo país.

Ouço Nana desde criança: primeiro num velho vinil de Dorival, em que ela faz Acalanto. Depois fui descobrindo seus trabalhos lançados nos 60 e nos anos 70: sua maravilhosa interpretação, quase impossível de ser imitada, com o fôlego morrendo em frases melódicas que ela mesma aumenta para além do original e que renasce firme e cristalino, já no início da frase seguinte. Professores e especialistas do canto desaconselham isto há séculos, porque a frase tende a chegar sôfrega no final da melodia.

Mas Nana consegue! Ela inventa, reinventa, ela é cuidadora de canções e sabe o que faz...

Toninho Horta, Dorival e Dori Caymmi, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Ivan Lins, João Donato, João Bosco e Radamés Gnatalli. São tantos os autores recriados pela personalidade difícil da cantora. Personalidade que se torna mágica e de um carisma enorme, quando abre a boca e canta... E como canta!


Já ouvi jazzistas e apreciadores do gênero; que muito mais que músicos; sabem o valor da voz como instrumento e não como mero elemento técnico da música, abordarem sobre a urgente necessidade de avaliação da voz, da obra e das interpretações de Nana Caymmi.

Concordo com o que ouço, pois algumas canções na voz de Nana valem por um disco inteiro: é só pensar que repetimos por horas e horas a mesma canção, encantados que estamos com sua personalidade única.

Porque cantar, fazer música e tocar um instrumento de modo a contribuir com algo novo ou diferenciado, exige personalidade.

Agora imagine: uma bela e única voz, com repertório intocável e uma personalidade única!

Esta é Nana Caymmi, cantora como poucas!
Nana, não pára, não...
O Brasil precisa de você!

Aldo Moraes
composermoraes@hotmail.com

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