terça-feira, 25 de agosto de 2015

COMPOSITORES: EMOCIONANTE DEPOIMENTO DE JORGE ANTUNES SOBRE JACEGUAY LINS

Em 1967 (aos 25 anos de idade) eu era professor de Música Eletroacústica no Instituto Villa-Lobos (ex-Conservatório Nacional de Canto Orfeônico). Era o primeiro curso desse tipo no Brasil.

Em meados de agosto apareceu no IVL, querendo me conhecer, um rapaz cinco anos mais jovem que eu, recém-chegado do Espírito Santo. Estava um tanto quanto maltrapilho. Visitou meu Estúdio de Pesquisas Cromo-Musicais, ouviu minha Valsa Sideral e mostrou-me algumas de suas partituras. Era o compositor Jaceguay Lins.

Lá pelas tantas me disse que estava com fome, e que não tinha dinheiro. Levei-o à minha casa, no bairro de Santo Cristo, e almoçamos juntos. Ao final, Dona Olinda, minha mãe, perguntou-lhe se precisava de roupas. Enfim, ele levou, para minha alegria, algumas peças de roupa, inclusive um paletó de que eu gostava muito.
Ele passou a, seguidamente, frequentar o IVL e algumas de minhas aulas.


Um dia apareceu com uma folha de abacateiro na mão, e chamou-me a atenção para a beleza das nervuras e suas ramificações. Chamou-me ao piano. Colocou a folha na estante e começamos a improvisar a quatro mãos, utlizando a folha como partitura, interpretando, quase sempre em glissandos, as nervuras da folha.
Saiu belíssima música. Lamento não ter gravado.


Ao escrever, agora, a peça “Rituel Vert”, para flauta e sons eletrônicos, a pedido do compositor-flautista Rodrigo Cicchelli Velloso, lembrei-me da história, e resolvi usar, na parte central da obra, uma folha de abacate para ser “lida” pelo flautista.


Meu querido amigo, o compositor J. Lins, faleceu em agosto de 2004.

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