a) Olá
Anídria, conte um pouco sobre sua infância
Segunda filha de quatro irmãos, de uma família
muito humilde. Uma infância difícil, mesmo assim maravilhosa. Mesmo com toda
dificuldade, o amor e união da minha família tornava tudo mais fácil.
Adorava comandar
os primos nas brincadeiras. Fazia pequenos roteiros e dizia, quem ia fazer o
que, na brincadeira. Passava os textos que cada um tinha que falar. Essa era
minha brincadeira preferida quando criança. Lembro que nos divertíamos muito correndo
e atuando no pequeno cenário improvisado com tijolos, pedras e folhas,
encontrados no terreno na casa da minha vó Elenna.
b) Em que
momento você se interessa por artes cênicas? Como foi o inicio?
Sempre
quis ser atriz, mas queria fazer cinema. Muito pequena eu ouvia outros atores
dando entrevistas dizendo que para ser um bom ator de cinema, tinha que passar
pelo teatro. Aí surgiu meu interesse por artes cênicas. Lembro que ainda não
alfabetizada me pediram pra desenhar o que eu queria ser quando crescesse e me
desenhei em cima de um palco com um microfone na mão. Ou seja, eu sabia que
essa seria minha profissão, mesmo sem entende-la ainda. Quando falava para as
pessoas que seria atriz, ouvia respostas como: que é isso menina? Nasceu pobre
vai morrer pobre. Gente pobre não faz essas coisas de artista...
hoje penso,
quanta ingenuidade na resposta dessa pessoa, pois essa escolha não tem nada
haver com valores financeiros. Ser artista e fazer o que gosta tem haver com
outras riquezas e valores que não podem ser contabilizados.
Iniciei
num grupo de teatro amador chamado “Família Ideal” dirigido por meu professor
de OSPB (organização social e política Brasileira) e história; Joao Alberto
Batista Lima, nome artístico Beto Lima. Isso foi num domingo, dia 15 de abril
de 1990. Com apenas 14 anos. Quando consegui entrar no disputadíssimo grupo de
teatro o diretor me disse que eu ficaria dois anos aprendendo todas as funções
do teatro, para depois subir no palco. Iniciei então meu processo de
aprendizado com iluminação, sonoplastia, contra-regragem, produção, objetos
cênicos...
Mas eu era
uma menina danada de espontânea e acabei conquistando o diretor com essa minha
inquietude e vontade de subir no palco como atriz, que resolveu, um mês depois, me dar uma
personagem na peça que estava em montagem. “Um romance na Lapa”. Mas essa
personagem de uma jornalista da peça era feita por outra atriz que tinha mais
personagens na peça. Mesmo tendo outros personagens ela ficou triste por perder
este.
Então num
domingo, dia que ensaiávamos, ela resolveu sair do grupo. Mas teríamos uma
apresentação de outra peça do grupo na sexta-feira seguinte. Ninguém teria
tempo de ensaiar para a personagem principal da peça “Republica”.
Resumindo...Acabou sobrando pra mim. E lá estava eu com menos de uma semana
para decorar o texto e criar uma personagem. Que loucura! Andava no ônibus
observando movimentações das pessoas. Principalmente dos homens, pois a
personagem era uma escritora que entrava numa republica caracterizada como
homem pra escrever sobre a vida dos homens que moravam sozinhos. O que
dificultava ainda mais o meu trabalho, pois era uma personagem interpretando
outra. Que sufoco. E sem experiência e sem ensaio foi assim que subi no palco
pela primeira vez. Confesso que fiquei apavorada, mas depois dessa experiência
tive certeza que o palco era o meu lugar.
c) Quais trabalhos marcantes e momentos
inesquecíveis em sua trajetória?
Cada
personagem tem uma dedicação impar e se tornam inesquecíveis. Mas uma
personagem foi um divisor de águas na minha carreira. Manuela Sáenz no
espetáculo “A Libertadora do Libertador”.
Um
monólogo que conta a história de amor e de luta de Manuela Sáenz amante do
libertador Bolivar. Uma revolucionária que lutou ao Lado de seu grande amor
pela independência das colônias espanholas sul-americanas.
Já no
cinema tem outros momentos incríveis. Foi marcante fazer o meu primeiro curta-metragem
“Terezinha”, filme baseado na música de Chico Buarque! Ali percebi que
realmente era isso que queria, que além do palco meu outro lugar era na frente
da câmera.
O primeiro
Casos e Causos “ O Nó do Afeto” para RPC/TV também foi outro marco.
A primeira
vez que fiz espetáculo de rua “A Loucura de Isabela” com o Grupo Arte da
Comédia. E no final do espetáculo um morador de rua muito emocionado vir falar
comigo. Isso com certeza foi um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida.
Sou tão
apaixonada pelo meu trabalho que poderia ficar horas falando dos bons momentos.
d) Quais seus
atores, autores, músicos preferidos?
Diretor de cinema: Federico Felline, Almodovar,
Tarantino, Pasolini, Scorsese, Kubrick, Polanski, Tim Burton, David Lynch, Wim
Wenders, Fabio Barreto, Bruno Barreto, Fernando Meirelles, Walter Salles.
Atores: Wagner Moura, Lazaro Ramos, Mateus
Nachtergaele, Luís Miranda, Selton Melo, Rodrigo Santoro, Marlon Brando, Morgam
Freeman, Robert De Niro, Al Pacino, Charlie Chaplin, Johnny Depp, Clark Gable,
Omar Sy, Will Smith, Danny Glover...
Atrizes: Marilia Pera, Fernanda Montenegro, Renata
Sorrah, Drica Moraes, Claudia Abreu, Sonia Braga, Ruth de Souza, Geisa Costa,
Viola Davis, Regina Vogue, Lala Schneider, Bibi Ferreira, Cleyde Yáconis, Laura
Cardoso...
Autores: Bertolt Brecht, Oduvaldo Vianna Filho,
Antunes Filho, Eugenio Barba, Algusto Boal, Nelson Rodrigues, Gianfrancesco
Guarnieri, Ariano Suassuna...
Músicos/cantores: Chico Buarque de Holanda, Maria
Bethania, Antonio Carlos Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina,
Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Cartola, Tim Maia, Mariza Monte, Cassia
Eller, Legião Urbana, Titãs, Luiz Gonzaga, Djavan, Ney Matogrosso, Vinicius de
Moraes, Rita Lee, Noel Rosa, Tom Zé, Paulinho da Viola, Seu Jorge, Wilson
Simonal, Zeca Pagodinho, Demonios da Garoa, Leci Brandão, Bezerra da Silva,
Toquinho, Pixinguinha, Elza Soares, Adoriran Barbosa, Zé Ramalho, Martinho da
Vila, Édith Piaf, Cher, Aerosmith, Tina Tuner, Sade, John Legend, Michael
Jackson, Beyonce, Madonna, Mart’nália, Ivete Sangalo...
e) O blog que
está te entrevistando é realizador do batuque na caixa, um projeto que ensina
música, teatro e literatura para crianças, adolescentes e jovens na periferia
de Londrina, Cambé, Bauru e Indiaroba. Que recado você pode deixar a estes
alunos?
Fazer
qualquer tipo de arte nesse país é uma luta constante! Para ela chegar onde
está e cada professor desenvolver sua técnica para dar aula, precisaram estudar
muito. Valorizar cada ato dos que vieram antes de nós é essencial.
Venho de
uma escola onde precisávamos saber fazer todas as funções para realizarmos nosso
trabalho da maneira mais completa possível. E tínhamos os nossos mais velhos
como verdadeiros mestres. Hoje infelizmente não vejo mais isso. Então o recado
que tenho pra deixar é que precisamos sempre estudar cada vez mais a arte e
valorizar nossos antecessores. Pois eles lutaram muito para que pudéssemos
aprender.
Cada experiência é valida e tem que ser valorizada. Precisamos entender que
historicamente sempre se repete o processo metodológico embasado nas experiências de troca entre mestres e alunos. Porem o acesso ao fazer teatral
está mais democratizado, o que é ótimo para surgir novos atores e grupos. Mas
tem o lado negativo quando deixamos de reverenciar aos nossos mestres. Também
dou aula de interpretação diferenciando as quatro linguagens: TV, Cinema,
Teatro e publicidade. E vejo como a arte é importante na vida das pessoas. Não
só para quem quer se tornar um artista, mas a arte vem para ajudar no
desenvolvimento de qualquer profissional.
f) Como você
vê a arte paranaense em geral no momento atual?
Nesse
momento tão difícil pra arte no mundo, penso que vamos precisar criar outra
forma de manifestação artística. Ainda está tudo muito confuso, mas penso que
provavelmente depois dessa pandemia vão surgir muitos solos autorais. Acredito
que não vamos ver espetáculos com muitos atores em cena. Para haver um
espetáculo é necessário um triangulo: Uma história pra ser contada, um artista,
uma pessoa para assistir.
A arte não
morre ela é resistência e precisamos dela para contar nossas histórias. Hoje
tudo está voltado para a tecnologia, e segundo a segundo algo é criado no
mundo. O virtual é o que está imperando no momento, mas sabemos que nada
substitui o abraço, o olho no olho e essa troca, dentro da casa de espetáculo,
ou nos espetáculos de rua é de extrema importância.
No Paraná
vejo movimentações e lutas para que possamos sobreviver. Faço parte do grupo de
Teatro em Movimento em Curitiba e ali buscamos discutir tudo que está
acontecendo. Procurando assim uma forma de unir forças para um produzir
artístico melhor. Cobramos do nosso sindicato e governos ações que fortaleçam
nossa classe.
g) Agradecemos
a gentileza da entrevista. Deixamos o espaço aberto para que você mande um
recado aos nossos leitores e deixe seus contatos nas redes sociais
Quero agradecer o convite e a oportunidade de falar
um pouquinho sobre o meu trabalho que amo tanto. Não vejo a hora de voltar, para
poder reencontrar o público e ter essa troca tão feliz que a arte proporciona.
Tenho 30 anos de carreira e quem me conhece sabe
que, para me ver feliz eu tenho que estar trabalhando. A arte é uma válvula de escape e precisa ser
valorizada.
Para quem quiser me chamar para algum trabalho ou
bater um papo sobre: cinema ou teatro, seguem os meus contatos.
Instagran – @anidria.stadler
Facebook – Anidria Stadler Zielinski
Entrevistou Anídria Stadler, o jornalista e músico Aldo
Moraes (MTB 0010993/PR)
Orgulho de ter sido aluna dela!!! 😘😘♥️♥️ Bjos de luz 😘😘
ResponderExcluir@Ariih😘🤭
Que carinho!
ExcluirMeus alunos são minhas crias! Amo e protejo pra sempre!