segunda-feira, 18 de maio de 2020

ARTE BRASIL ENTREVISTA A ATRIZ ANÍDRIA STADLER



a)      Olá Anídria, conte um pouco sobre sua infância

 Segunda filha de quatro irmãos, de uma família muito humilde. Uma infância difícil, mesmo assim maravilhosa. Mesmo com toda dificuldade, o amor e união da minha família tornava tudo mais fácil.

Adorava comandar os primos nas brincadeiras. Fazia pequenos roteiros e dizia, quem ia fazer o que, na brincadeira. Passava os textos que cada um tinha que falar. Essa era minha brincadeira preferida quando criança. Lembro que nos divertíamos muito correndo e atuando no pequeno cenário improvisado com tijolos, pedras e folhas, encontrados no terreno na casa da minha vó Elenna. 




b)      Em que momento você se interessa por artes cênicas? Como foi o inicio?

Sempre quis ser atriz, mas queria fazer cinema. Muito pequena eu ouvia outros atores dando entrevistas dizendo que para ser um bom ator de cinema, tinha que passar pelo teatro. Aí surgiu meu interesse por artes cênicas. Lembro que ainda não alfabetizada me pediram pra desenhar o que eu queria ser quando crescesse e me desenhei em cima de um palco com um microfone na mão. Ou seja, eu sabia que essa seria minha profissão, mesmo sem entende-la ainda. Quando falava para as pessoas que seria atriz, ouvia respostas como: que é isso menina? Nasceu pobre vai morrer pobre. Gente pobre não faz essas coisas de artista...

hoje penso, quanta ingenuidade na resposta dessa pessoa, pois essa escolha não tem nada haver com valores financeiros. Ser artista e fazer o que gosta tem haver com outras riquezas e valores que não podem ser contabilizados.

Iniciei num grupo de teatro amador chamado “Família Ideal” dirigido por meu professor de OSPB (organização social e política Brasileira) e história; Joao Alberto Batista Lima, nome artístico Beto Lima. Isso foi num domingo, dia 15 de abril de 1990. Com apenas 14 anos. Quando consegui entrar no disputadíssimo grupo de teatro o diretor me disse que eu ficaria dois anos aprendendo todas as funções do teatro, para depois subir no palco. Iniciei então meu processo de aprendizado com iluminação, sonoplastia, contra-regragem, produção, objetos cênicos...

Mas eu era uma menina danada de espontânea e acabei conquistando o diretor com essa minha inquietude e vontade de subir no palco como atriz,  que resolveu, um mês depois, me dar uma personagem na peça que estava em montagem. “Um romance na Lapa”. Mas essa personagem de uma jornalista da peça era feita por outra atriz que tinha mais personagens na peça. Mesmo tendo outros personagens ela ficou triste por perder este.

Então num domingo, dia que ensaiávamos, ela resolveu sair do grupo. Mas teríamos uma apresentação de outra peça do grupo na sexta-feira seguinte. Ninguém teria tempo de ensaiar para a personagem principal da peça “Republica”. Resumindo...Acabou sobrando pra mim. E lá estava eu com menos de uma semana para decorar o texto e criar uma personagem. Que loucura! Andava no ônibus observando movimentações das pessoas. Principalmente dos homens, pois a personagem era uma escritora que entrava numa republica caracterizada como homem pra escrever sobre a vida dos homens que moravam sozinhos. O que dificultava ainda mais o meu trabalho, pois era uma personagem interpretando outra. Que sufoco. E sem experiência e sem ensaio foi assim que subi no palco pela primeira vez. Confesso que fiquei apavorada, mas depois dessa experiência tive certeza que o palco era o meu lugar.   



c)        Quais trabalhos marcantes e momentos inesquecíveis em sua trajetória?

Cada personagem tem uma dedicação impar e se tornam inesquecíveis. Mas uma personagem foi um divisor de águas na minha carreira. Manuela Sáenz no espetáculo “A Libertadora do Libertador”.

Um monólogo que conta a história de amor e de luta de Manuela Sáenz amante do libertador Bolivar. Uma revolucionária que lutou ao Lado de seu grande amor pela independência das colônias espanholas sul-americanas.

Já no cinema tem outros momentos incríveis. Foi marcante fazer o meu primeiro curta-metragem “Terezinha”, filme baseado na música de Chico Buarque! Ali percebi que realmente era isso que queria, que além do palco meu outro lugar era na frente da câmera.

O primeiro Casos e Causos “ O Nó do Afeto” para RPC/TV também foi outro marco.
A primeira vez que fiz espetáculo de rua “A Loucura de Isabela” com o Grupo Arte da Comédia. E no final do espetáculo um morador de rua muito emocionado vir falar comigo. Isso com certeza foi um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida.
Sou tão apaixonada pelo meu trabalho que poderia ficar horas falando dos bons momentos.



d)      Quais seus atores, autores, músicos preferidos?

Diretor de cinema: Federico Felline, Almodovar, Tarantino, Pasolini, Scorsese, Kubrick, Polanski, Tim Burton, David Lynch, Wim Wenders, Fabio Barreto, Bruno Barreto, Fernando Meirelles, Walter Salles.

Atores: Wagner Moura, Lazaro Ramos, Mateus Nachtergaele, Luís Miranda, Selton Melo, Rodrigo Santoro, Marlon Brando, Morgam Freeman, Robert De Niro, Al Pacino, Charlie Chaplin, Johnny Depp, Clark Gable, Omar Sy, Will Smith, Danny Glover...

Atrizes: Marilia Pera, Fernanda Montenegro, Renata Sorrah, Drica Moraes, Claudia Abreu, Sonia Braga, Ruth de Souza, Geisa Costa, Viola Davis, Regina Vogue, Lala Schneider, Bibi Ferreira, Cleyde Yáconis, Laura Cardoso...

Autores: Bertolt Brecht, Oduvaldo Vianna Filho, Antunes Filho, Eugenio Barba, Algusto Boal, Nelson Rodrigues, Gianfrancesco Guarnieri, Ariano Suassuna...

Músicos/cantores: Chico Buarque de Holanda, Maria Bethania, Antonio Carlos Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Cartola, Tim Maia, Mariza Monte, Cassia Eller, Legião Urbana, Titãs, Luiz Gonzaga, Djavan, Ney Matogrosso, Vinicius de Moraes, Rita Lee, Noel Rosa, Tom Zé, Paulinho da Viola, Seu Jorge, Wilson Simonal, Zeca Pagodinho, Demonios da Garoa, Leci Brandão, Bezerra da Silva, Toquinho, Pixinguinha, Elza Soares, Adoriran Barbosa, Zé Ramalho, Martinho da Vila, Édith Piaf, Cher, Aerosmith, Tina Tuner, Sade, John Legend, Michael Jackson, Beyonce, Madonna, Mart’nália, Ivete Sangalo...   



e)      O blog que está te entrevistando é realizador do batuque na caixa, um projeto que ensina música, teatro e literatura para crianças, adolescentes e jovens na periferia de Londrina, Cambé, Bauru e Indiaroba. Que recado você pode deixar a estes alunos?

Fazer qualquer tipo de arte nesse país é uma luta constante! Para ela chegar onde está e cada professor desenvolver sua técnica para dar aula, precisaram estudar muito. Valorizar cada ato dos que vieram antes de nós é essencial.

Venho de uma escola onde precisávamos saber fazer todas as funções para realizarmos nosso trabalho da maneira mais completa possível. E tínhamos os nossos mais velhos como verdadeiros mestres. Hoje infelizmente não vejo mais isso. Então o recado que tenho pra deixar é que precisamos sempre estudar cada vez mais a arte e valorizar nossos antecessores. Pois eles lutaram muito para que pudéssemos aprender.

Cada experiência é valida e tem que ser valorizada. Precisamos entender que historicamente sempre se repete o processo metodológico embasado nas experiências de troca entre mestres e alunos. Porem o acesso ao fazer teatral está mais democratizado, o que é ótimo para surgir novos atores e grupos. Mas tem o lado negativo quando deixamos de reverenciar aos nossos mestres. Também dou aula de interpretação diferenciando as quatro linguagens: TV, Cinema, Teatro e publicidade. E vejo como a arte é importante na vida das pessoas. Não só para quem quer se tornar um artista, mas a arte vem para ajudar no desenvolvimento de qualquer profissional.


f)       Como você vê a arte paranaense em geral no momento atual?

Nesse momento tão difícil pra arte no mundo, penso que vamos precisar criar outra forma de manifestação artística. Ainda está tudo muito confuso, mas penso que provavelmente depois dessa pandemia vão surgir muitos solos autorais. Acredito que não vamos ver espetáculos com muitos atores em cena. Para haver um espetáculo é necessário um triangulo: Uma história pra ser contada, um artista, uma pessoa para assistir.

A arte não morre ela é resistência e precisamos dela para contar nossas histórias. Hoje tudo está voltado para a tecnologia, e segundo a segundo algo é criado no mundo. O virtual é o que está imperando no momento, mas sabemos que nada substitui o abraço, o olho no olho e essa troca, dentro da casa de espetáculo, ou nos espetáculos de rua é de extrema importância.
No Paraná vejo movimentações e lutas para que possamos sobreviver. Faço parte do grupo de Teatro em Movimento em Curitiba e ali buscamos discutir tudo que está acontecendo. Procurando assim uma forma de unir forças para um produzir artístico melhor. Cobramos do nosso sindicato e governos ações que fortaleçam nossa classe.


g)      Agradecemos a gentileza da entrevista. Deixamos o espaço aberto para que você mande um recado aos nossos leitores e deixe seus contatos nas redes sociais

Quero agradecer o convite e a oportunidade de falar um pouquinho sobre o meu trabalho que amo tanto. Não vejo a hora de voltar, para poder reencontrar o público e ter essa troca tão feliz que a arte proporciona.

Tenho 30 anos de carreira e quem me conhece sabe que, para me ver feliz eu tenho que estar trabalhando.  A arte é uma válvula de escape e precisa ser valorizada.

Para quem quiser me chamar para algum trabalho ou bater um papo sobre: cinema ou teatro, seguem os meus contatos.


Instagran – @anidria.stadler

Facebook – Anidria Stadler Zielinski

Entrevistou Anídria Stadler, o jornalista e músico Aldo Moraes  (MTB 0010993/PR)





2 comentários:

  1. Orgulho de ter sido aluna dela!!! 😘😘♥️♥️ Bjos de luz 😘😘
    @Ariih😘🤭

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    1. Que carinho!
      Meus alunos são minhas crias! Amo e protejo pra sempre!

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