O VENTO E OS
COQUEIRAIS
“Ô canoeiro Bota rede
Bota rede no mar
Ô canoeiro Bota rede no mar
Cerca o peixe Bate o remo
Puxa corda Colhe a rede
Ô canoeiro Puxa rede do mar” (Pescaria/Dorival Caymmi)
O tempo e sua relação com o homem e a natureza deveria ser o
personagem deste texto. É o tempo fluindo naturalmente e ao mesmo tempo mutando
como em Heráclito, só que agora no Rio Real que começa na Bahia e passa por
Indiaroba.
“O filósofo Heráclito disse que “ninguém se banha duas vezes
no mesmo rio”. Ele era um desses pré-socráticos cuja filosofia surgiu da
observação constante da natureza e dos homens.
Heráclito queria registrar a mudança constante das coisas, e
o rio lhe serviu como imagem perfeita. Ao longe parece estar parado, imóvel,
mas quando o vemos de perto percebemos que ele é uma coluna horizontal de água
em deslocamento constante. As águas que nos tocam, quando entramos nele, vão
embora para sempre, um instante depois.”
Ao acordar e abrir as janelas do quarto, seja três ou oito
horas da manhã, o que vislumbramos é a paradisíaca imagem que integra o rio, os
barcos, os pescadores, o mangue seco ao lado, os caranguejos, os coqueiros, o
vento e o tempo que flui como uma prosa que conta histórias devagarinho.
O tempo que conduz o barco e fala ao ouvido do homem o tempo
de sair e de voltar. O tempo que marca o compasso das conversas no bar de
frente ao rio. O tempo quase invisível no rio que flui e é tão espontâneo que
não vemos. Como em Heráclito, parece parado mas o barco que sai de manhã sabe
que é outro rio quando volta na tardinha que escurece.
E os coqueiros e seus frutos esvoaçam na madrugada que se
anseia mais fria que o clima do Nordeste e também parecem obedecer aos
caprichos do tempo.
1- Braulio Tavares/ O rio de Heráclito
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