segunda-feira, 29 de julho de 2019

DETENTAS DE SÃO PAULO PUBLICAM POESIAS


O lançamento contou com a presença de mulheres que viveram na Penitenciária Feminina da Capital e são autoras do livro; entre mais de mil textos produzidos, 101 foram selecionados para a obra

 
O lançamento do livro aconteceu na Biblioteca Mário de Andrade e a sul-africana Daphney Tukisi recitou o seu poema| Foto: Juliana Santoros/Ponte Jornalismo
“A todas as Rita’s, as Cristiane’s
às negras, às brancas ou às pardas
– se bem que pardo é um papel
A todas que viram e lembraram que, por fim,
é só rodar a baiana
e tirar o pijama
pular da cama
porque a caminhada quem faz
é nós”


Jaqueline Ferreira fez dessa dedicatória seu poema: à baiana, à paulista e à mineira. Para todas as mulheres que enfrentam barreiras diariamente, seja para vencer a fome, a violência ou o machismo. A jovem de 23 anos é uma das autoras do livro Mulheres Poetas: Penitenciária Feminina da Capital, lançado na Biblioteca Mário de Andrade, na última quinta (25/7), que reúne os poemas frutos do sarau Asas Abertas.

O sarau acontece todas as quartas-feiras na capela da PFC (Penitenciária Feminina da Capital), localizada na zona norte de SP, e é organizado pelo Coletivo Poetas do Tietê.

Após passar 1 ano e 3 meses na PFC, Jaqueline, em liberdade, se orgulha de estudar Direito no Centro Universitário Central Paulista (UNICEP), em São Carlos, interior de São Paulo: “Faço direito porque já fiz muito errado e agora não me calo”. A jovem, que sempre nutriu o desejo de publicar um livro, escreve desde os 15 anos e conta que sua paixão por poesias começou cedo quando, na quinta série, ganhou de uma professora de português sua primeira antologia.

Da esquerda para a direita: Rafaela Maccari, Jaqueline Ferreira, Vanessa Ferrari, Lucas Verzola e Jaime Queiroga | Foto: Juliana Santoros/Ponte Jornalismo
Jaime Queiroga, o idealizador do Sarau Asas Abertas, explica que, para eles, o mais importante é elas acreditarem que podem seguir em frente estudando. “Nós temos vários casos de mulheres analfabetas ou analfabetas funcionais que começam a ler e ter curiosidade com a leitura”, conta.

Os principais temas abordados pelas mulheres nos poemas são saudade e perdão. “Nos poemas, eu peço pra elas enfrentarem seus medos, suas certezas, escreverem sobre isso. Nossa pegada é essa questão da autoestima através da poesia”, explica Jaime. Ele brinca que “se aqui fora, as pessoas tivessem a vontade de ler como tem lá dentro, nós seríamos o primeiro país do mundo em leitura”.

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