Uma
homenagem a Astor Piazzolla deve ser feita por músicos competentes,
virtuosos e, principalmente, versáteis, que possam transitar entre o
popular e o erudito tão habilmente quanto o consagrado, e muitas vezes
incompreendido, músico portenho. Neste sentido, e em busca por
diferentes sonoridades e novas formas de expressão, o Harmonitango chega
ao seu primeiro CD, numa formação inusitada, com músicos de grande
experiência camerística: José Staneck (harmônica), Ricardo Santoro
(violoncelo) e Sheila Zagury (piano). Última produção de Sergio Roberto
de Oliveira, morto em julho deste ano de câncer no pâncreas, o CD
homônimo faz jus à diversidade cultural que tanto marcou a obra de
Pìazzolla, agora com tempero brasileiro. O trio fará concerto de
lançamento no próximo dia 02 de dezembro, sábado, às 20h, no Instituto
Tom Jobim, no Jardim Botânico, com entrada gratuita.
A
partir de suas múltiplas influências, a música de Piazzolla também
bebeu na fonte brasileira. No início de carreira, em sua ânsia de se
tornar compositor erudito, o portenho foi ter aulas com a legendária
Nadia Boulanger, mestre de alguns dos maiores criadores do século XX
como Igor Stravinsky, Leonard Bernstein, Aaron Copland, os brasileiros
Claudio Santoro, Camargo Guarnieri e Almeida Prado, além de nomes
fundamentais da música popular moderna, como Egberto Gismonti e Quincy
Jones. E foi a própria Boulanger quem lhe incentivou a desistir da
carreira erudita e mergulhar de vez no tango, ritmo que tanto o
fascinava.
Neste
CD, estão presentes duas de suas maiores criações: Adiós Nonino,
dedicada ao seu pai que acabara de perder, em 1959; e Libertango, tema
consagrado pelas interpretações do compositor e das várias releituras
mundo afora. A Libertango se juntam, nesta gravação, Meditango e
Violentango, que pertencem a uma série original de sete tangos (além dos
três citados, Meditango, Undertango, Amelitango e Tristango) lançados
em único disco, de 1974.
Em
Fuga y Misterio, o compositor resgata suas influências eruditas, onde
encontramos uma fuga que integra, originalmente, María de Buenos Aires,
uma “ópera- tango” denominada pelo compositor como “operita”. Essa mesma
forma reaparece em La Muerte del Ángel, com momentos líricos
magistrais.
Ainda
dentro da série “Ángel”, Milonga del Ángel e Resurrección del Ángel, e
Oblivion, escrita em 1982 para o filme Enrico IV, do cineasta Marco
Bellocchio. Deus Xango é um dos frutos dos encontros de Piazzolla com o
saxofonista Gerry Mulligan: o disco Summit (Reunión Cumbre), de 1974. Já
Retrato de Milton é dedicada a Milton Nascimento, que Piazzolla
considerava como o grande representante da então nova geração de grandes
compositores do Brasil.
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