“Aqui pratico a verdadeira Capoeira de Angola e aqui os homens aprendem a ser leais e justos. A lei de Angola, que herdei de meus avós, é a lei da lealdade” (Pastinha)
Vicente Ferreira Pastinha, mais
conhecido como mestre Pastinha, já faz parte da cultura popular do
Brasil. Nascido em Salvador (BA), no dia 5 de abril de 1889, era visto
como “um indivíduo desconfiado e prevenido, que ao aproximar-se de uma
esquina, tomava logo o meio da rua.” Outras características peculiares
lhe eram atribuídas, como a calça de boca larga que cobria toda a
extensão dos pés, a argolinha de ouro na orelha e o tradicional chapéu
de banda.
Mesmo depois de muito idoso, jogava
Capoeira como um exímio jovem de pouca idade, executando todos os
movimentos com grande facilidade. Esse fato e sua intensa dedicação à
Capoeira fizeram dele a figura famosa e respeitada que sempre foi,
dentro e fora das “rodas”.
Mas quem ensinou a Pastinha a arte da
capoeiragem que exercia com tanta perfeição? Quanto a essa questão,
existem controvérsias. No prefácio de um pequeno livro publicado em
1964, com o título de “Capoeira Angola” e de autoria de Pastinha, José
Benito Colmenro afirma que ele teve como mestre um negro de Angola, de
nome Benedito. Entre a maioria dos capoeiristas, porém, a versão aceita é
a de que o seu mestre fora Aberrê.
Em 1941, no primeiro andar de um sobrado
do Largo do Pelourinho, juntamente com mestre Amorzinho, Pastinha
fundou aquela que seria uma das mais famosas academias de Capoeira de
Salvador: a Escola de Capoeira de Angola. Às quintas e domingos, a
animação contagiava os participantes, capoeiristas ou público presente.
Qualquer turista que passasse pela capital da Bahia, não perdia a
oportunidade de ver o mestre, no centro de sua roda, jogando com jovens e
vigorosos capoeiras, derrotando um a um. E quando saía do jogo, sem
precisar descansar, segurava o berimbau e puxava as cantigas. “Aqui
pratico a verdadeira capoeira de Angola e aqui os homens aprendem a ser
leais e justos. A lei de Angola, que herdei de meus avós, é a lei da
lealdade”( Pastinha, em conversa com seu amigo, o escritor Jorge Amado).
Berimbau, pandeiro, caxixi e agogô eram
os instrumentos musicais usados na Capoeira de Pastinha que dava
preferência aos toques de São Bento Grande, São Bento Pequeno, Angola,
Santa Maria, Cavalaria, Amazonas e Iuna.
Um dos poucos capoeiristas de sua época a
viajar para o exterior, em abril de 1966 Pastinha integrou a delegação
brasileira junto ao Premier Festival International des Arts Nègres, de
Dakar (África), a convite do Ministério das Relações Exteriores do
Brasil.
Ainda dedicava parte de seu tempo para
dirigir o Centro Esportivo de Capoeira de Angola, destinado a preservar o
jogo em sua forma pura, chamada Angola ou Tradicional.
Texto: Adriano Chediak
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