Duas lições de integração e democracia

Em recente entrevista ao canal de televisão católico Rede Vida, o padre Fábio de Melo pontuou muito tranquilamente sua admiração pela Escola de Samba Beija-Flor.

Melo realizou uma edição do seu show " Eu e o tempo", homônimo de seu CD/DVD na quadra da escola de Nilópolis ( RJ ) e com a participação da bateria da escola, cantou o samba" Nessas asas", que compôs em homenagem à azul e branca.

O padre colocou para seus entrevistadores que sempre nutriu grande respeito e admiração pela Beija-Flor e pelo samba de raiz e que como cantor-compositor, escreve canções não religiosas e que se enquadrariam na corrente da MPB.

Revelou que gosta de autores como Pixinguinha, Martinho da Vila e Chico Buarque. E aos que podem se contrapor ou afrontar sua franqueza, disse que não alimenta estigmas e mitos em relação à vida secular. Admira-a como um homem deve estar conectado à sua época e as coisas de sua época. E que o diabo também pode habitar o altar. E, portanto" o buraco é mais embaixo".

Fábio de Melo dá uma lição de integração com a cultura de seu país e não nega que o sacerdote deve estar no meio do povo para reconhecer as necessidades desse povo e também receber o carinho de seus fiéis.

Dilma Roussef, a Presidente do Brasil, tem dado lições de democracia desde que assumiu o Planalto. Seu reconhecimento ao aniversário do Real, o afago em Fernando Henrique Cardoso por ocasião de seus 80 anos de idade e a homenagem ao ex-presidente Itamar Franco (1930-2011) dão mostras de uma clara visão do cargo que ocupa.

Em resposta aos gestos da Presidente, os caciques tucanos a esperaram na chegada ao velório de Itamar Franco, em Minas Gerais e Dilma fez questão de cumprimentá-lo pessoalmente pelos 80 anos e pela dedicação ao Brasil. Tais demonstrações de civilidade para além da disputa eleitoral, vão desarmando a velha política do rancor e da indiferença. Ciro Gomes que estava na homenagem a Franco e foi um dos maiores críticos do governo FHC, cumprimentou o ex-presidente e dirigiu palavras de afabilidade para a imprensa em relação ao valor de Cardoso.

Os gestos de Dilma Roussef podem demonstrar uma maneira mais cordial e condizente com o primeiro cargo do país e ensinar lições definitivas de democracia e tolerância política que o Brasil espera dos grandes líderes nacionais.

Afinal vivemos num ambiente democrático que lutamos para que se tornasse realidade e podemos avançar nas relações institucionais e humanas.


Aldo Moraes (músico)
composermoraes@hotmail.com