Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido simplesmente como César Lattes, nasceu em Curitiba, a 11 de julho de 1924 e faleceu, em virtude de parada cardíaca, em Campinas, no dia 8 de março de 2005.
Lattes é um dos mais importante físicos brasileiros, co-descobridor do méson pi.
Biografia
Lattes nasceu em uma família de judeus italianos imigrantes em Curitiba, estado do Paraná no Sul do Brasil. Fez os seus primeiros estudos naquela cidade e em São Paulo, vindo a graduar-se na Universidade de São Paulo, formando-se em 1943, em Matemática e Física.
Lattes fazia parte de um grupo inicial de brilhantes jovens físicos brasileiros que foram trabalhar com professores europeus como Gleb Wataghin (1899-1986) e Giuseppe Occhialini (1907-1993). Lattes foi considerado o mais brilhante destes e foi descoberto, ainda muito jovem, como um pesquisador de campo. Seus colegas, que também se tornaram importantes cientistas brasileiros, foram Oscar Sala, Mário Schenberg, Roberto Salmeron, Marcelo Damy de Souza Santos e Jayme Tiomno. Com a idade de 23 anos, ele foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro.
De 1947 a 1948, Lattes começou a sua principal linha de pesquisa, pelo estudo dos raios cósmicos, os quais foram descobertos em 1932 pelo físico estadunidense Carl David Anderson. Ele preparou um laboratório a mais de 5.000 metros de altitude em Chacaltaya, uma montanha dos Andes, na Bolívia, empregando chapas fotográficas para registrar os raios cósmicos.
Viajando para a Inglaterra com seu professor Occhialini, Lattes foi trabalhar no H. H. Wills Laboratory da Universidade de Bristol, dirigida por Cecil Frank Powell (1903-1969). Após melhorar uma nova emulsão nuclear usada por Powell, pedindo à Kodak Co. para adicionar mais boro a ela, em 1947, realizou com eles uma grande descoberta experimental, de uma nova partícula atômica, o méson pi (ou pion), a qual desintegra em um novo tipo de partícula, o méson mu (muon). Foi uma grande reviravolta na ciência. Até então, era aceito que os átomos eram formados por somente 3 tipos de sub-partículas ou partículas elementares (prótons, nêutrons e elétrons). Alguns cientistas contestaram os resultados, mas o apoio do dinamarquês Niels Bohr, um dos maiores físicos da época, pesou na aceitação da novidade que daria início a uma nova área de pesquisa, a Física de Partículas.
O jovem impetuoso Lattes começou então a escrever um trabalho para a revista Nature sem se preocupar com o consentimento de Powell. No mesmo ano, foi responsável pelo cálculo da massa da nova partícula, em um meticuloso trabalho. Um ano depois, trabalhando com Eugene Gardner (1913-1950) na Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA, Lattes foi capaz de detectar a produção artificial de partículas píon no ciclotron do laboratório, pelo bombardeio de átomos de carbono com partículas. Ele tinha 24 anos de idade.
Em 1949, Lattes retornou como professor e pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Depois de outra breve estada nos EUA (de 1955 a 1957), ele voltou para o Brasil e aceitou uma posição na sua alma mater, o Departamento de Física da Universidade de São Paulo (USP). Também nesse ano, Lattes ingressou para a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Em 1967, Lattes aceitou a posição de professor titular no novo Instituto "Gleb Wataghin" de Física na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), nome que se originou de seu professor fundador, o qual ele também ajudou a fundar. Ele também se tornou o diretor do Departamento de Raios Cósmicos, Altas energias e Léptons. Em 1969, ele e seu grupo descobriram a massa das co-denominadas bolas de fogo, um fenômeno espontâneo que ocorre durante colisões de altas-energias, e os quais tinham sido detectados pela utilização de chapas de emulsão fotográfica nucleares inventadas por ele, e colocadas no pico de Chacaltaya nos Andes Bolivianos.
Lattes aposentou-se em 1986, quando recebeu o título de doutor honoris causa e professor emérito pela Universidade de Campinas. Mesmo aposentado ele continuou a viver em uma casa no distrito próximo ao campus da universidade. Ele morreu de ataque cardíaco em Março de 2005.
Lattes é um dos mais distintos e condecorados físicos brasileiros, e seu trabalho foi fundamental no desenvolvimento da física atômica. Ele também foi um grande líder científico dos Físicos Brasileiros e foi uma das principais personalidades por trás da criação de várias instituições importantes como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele figura como um dos poucos brasileiros na Biographical Encyclopedia of Science and Technology de Isaac Asimov, como também na Enciclopédia Britânica. Embora tenha sido o principal pesquisador e primeiro autor do histórico artigo da Nature descrevendo méson pi, Cecil Powell foi o único agraciado com o Prémio Nobel de Física em 1950 pelo "seu desenvolvimento de um método fotográfico de estudo dos processos nucleares e sua descoberta que levou ao descobrimento dos mésons". A razão para esta aparente negligência é que a política do Comitê do Nobel até 1960 era dar o prêmio para o líder do grupo de pesquisa, somente. O brasileiro, no entanto, nunca foi contemplado. No museu de Niels Bohr, em Copenhague, Dinamarca, há uma carta em que está escrito "Por que César Lattes não ganhou o Prêmio Nobel - abrir 50 anos depois da minha morte". Como Bohr morreu em 1962, somente em 2012 saberemos a resposta do enigma.
"A ciência deve ser universal, sem dúvida. Porém, nós não devemos acreditar incondicionalmente nisto."
“A ciência universal seria o ideal. Mas a prática é bem diferente. Felizmente, todo segredo dura pouco.”
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