O disco Ednardo - O Romance do Pavão Mysteriozo, gravado originalmente em 1974 pela RCA, é relançado em CD em março de 2010 pela Sony Music.
A masterização do original do LP de 1974 para o CD em 2010 está muito boa, parabéns ao Charles Gavin (ex-baterista dos Titãs) que realizou a reedição deste disco.
Este CD traz as obras emblemáticas inaugurais de Ednardo, que faz deste seu primeiro disco solo gravado em 1974 um belíssimo painel no cordel urbano e humano com 12 faixas com músicas e letras atualíssimas e arranjos primorosos, junto com vários parceiros como Augusto Pontes, Fausto Nilo, Brandão, Tânia Cabral.
MÚSICAS
Carneiro - Ednardo e Augusto Pontes
Avião de Papel - Ednardo
Mais um Frevinho Danado - Ednardo
Ausência - Ednardo
Varal - Ednardo e Tânia Cabral
Dorothy L'Amour - Petrúcio Maia e Fausto Nilo
Desembarque - Ednardo
Trem do Interior - Ednardo e Fausto Nilo
Alazão (Clarões) - Ednardo e Brandão
A Palo Seco - Belchior
Águagrande - Ednardo e Augusto Pontes
Pavão Mysteriozo - Ednardo
FICHA TÉCNICA
Supervisão Geral - Osmar Zandomenigui
Coordenação Geral - Antonio de Lima
Coordenação Artística e Direção de Estúdio - Walter Silva
Técnicos de Som - Stelio Carlini / G. João Kibelkstis (Joãozinho) / Edgardo Alberto Rapetti
Técnicos de Mixagem - Walter Lima / Edgardo Alberto Rapetti
Fotos - Gerardo Barbosa Filho
Direção de Arte das Capas - Tebaldo
Desenhos - Ednardo
Gravação e Mixagem - Estúdio A da RCA em São Paulo - 16 Canais
MÚSICOS
Arranjos e Regências - Hareton Salvanini / Heraldo do Monte / Isidoro Longano
Sobre idéias de arranjos musicais de Ednardo
Violão e Percussões - Ednardo
Viola e Guitarra - Heraldo do Monte
Flauta e Sax Tenor - Isidoro Longano (Bolão)
Banjo - Luiz de Andrade
Contra Baixo (Acústico e Elétrico) - Gabriel J. Bahlis
Bateria - Antonio de Almeida (Toniquinho)
Tímpanos - Ernesto de Lucca
Tumbadoras - Rubens de S. Soares
Percussões - José Eduardo P. Nazário / Jorge H. Silva / Dirceu S. de Medeiros (Xuxu)
Piano Cravo (elétrico) - José Hareton Salvanini
Flauta / Pícolo - Demétrio S. de Lima
Flauta / Sax Alto - Eduardo Pecci
Clarinete - Franco Paioletti
Oboé - Benito S. Sanchez
Baixo Tuba - Drausio Chagas
Pistons - Sebastião J. Gilberto (Botina) / Settimo Paioletti
Trombones -Roberto J. Galhardo / Antônio Secato
Violoncelos - Ezio Dal Pino / Flabio Antonio Russo
Violinos - Jorge G. Izquierdo / Oswaldo J. Sbarro / Caetano D. Finelli / Dorisa Soares Antonio F. Ferrer / German Wajnrot / Alfredo P. Lataro / Joel Tavares
Participação Especial - Amelinha no Vocal da faixa "Ausência"
CORDEL COMO VERTENTE E RECRIAÇÃO
"O Romance do Pavão Mysteriozo" é proposta de cordel reinventado a partir de códigos urbanos. O ponto de partida é o clássico, o lado fantástico da literatura popular, num discurso que reforça a crônica da chegada, para voltar ao mesmo tempo.
Agora nosso interesse maior se concentra na recriação da faixa que dá título ao disco. O Pavão Mysteriozo é dos romances mais vendidos nas feiras nordestinas. É a interferência do "aeroplano pavão / ou cavalo do espaço / que imita o avião" do texto de cordel. Ou o "Pássaro formoso / tudo é mistério nesse teu voar / ah se eu corresse assim / tantos céus assim / muita história eu tinha pra contar" da canção de Ednardo.
O que seria um problema de impossibilidade amorosa, a libertação da condessa Creusa da torre de um castelo grego, ganha uma amplitude maior. Impotente, o homem sonha. Acossado, o artista transpõe o real e abre um leque de possibilidades - "Me guarda moleque / de eterno brincar / me poupa do vexame / de morrer tão moço / muita coisa ainda quero olhar"- tão rico e diversificado quanto a cauda dos mil sóis da pena do pavão na capa do disco.
Mas o Pavão é também metáfora para driblar o índex da repressão, em plena vigência do AI-5: "No escuro dessa noite / me ajuda a cantar / derrama essas faíscas / despeja esse trovão / desmancha isso tudo / que não é certo não,". "Um conde orgulhoso / mais soberbo do que Nero" de que fala o poeta popular, seria o mesmo, "Um conde raivoso / não tarda a chegar" da canção de Ednardo.
Só que a consciência deixa aberta a possibilidade de luta ao afirmar que "Nossa sorte nessa guerra / eles são muitos / mas não podem voar". O vôo não como fuga, mas como busca de transposição de barreiras, de saídas enquanto povo, tudo isso dito pelo poeta popular e reinventado por Ednardo que tomou o cordel como ponto de partida para esta canção, uma das vertentes de sua proposta musical.
Mais que a utilização, o recurso a uma forma de expressão popular para a transmissão de uma mensagem, o cordel entra nesta proposta como uma estrutura de gesta nordestina, arraigada ao coletivo e que vem à tona com toda uma proposta de pontuação, secura, contundência. É este material que Ednardo recria com sua vivência urbana, consciência crítica e formação universitária, com seu talento múltiplo e facetado, difícil de ser rotulado, rebelde aos encaixes na engrenagem da máquina.
Gilmar de Carvalho
Trecho do Livro - Referenciais Cearenses na Comunicação Musical de Ednardo
Gilmar de Carvalho - Professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará
Revista de Comunicação Social da UFC - 1983
Uma capa é uma EMBALAGEM um ENVO-LUCRO. Que não traduz satisfatoriamente o que está dentro dela, e mesmo porque nem precisa ser assim.
O Pavão é uma coisa bonita que "voa". "Voa" assim como eu enxerguei que ele voasse. Quando li o romance tudo estava daquele jeito -> escrito.
Todas as piruetas que o rapaz fez para livrar a moça do castelo do conde, resultaram num sentimento final anti-repressivo, livremente bonito, sem preocupações, porque o começo de cada coisa já contêm o seu fim.
E eu topei fazer este disco assim, como uma estória, para que ele se impregnasse e fosse irmão desse mesmo sentimento final: O Vôo, o Rapaz, a Moça, o Pavão, (e eu), sem assumir nenhuma pose * "fox-lórica" e/ou ** "folclórica".
O desenho do pavão foi um jogo de paciência, minha atividade lúdica enquanto o disco não vinha, enquanto não dava o carneiro.
Ednardo.
Texto de Ednardo no Livreto de Cordel que acompanhava o disco original com as letras de músicas e ficha técnica do disco.
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