Pena Branca (1939 - 2010)
A música sertaneja de raiz autêntica, aquela feita por gente do Interior cantando as coisas do Interior, perdeu um de seus maiores representantes: o cantor mineiro Pena Branca, 70 anos (1939 – 2010).
Vítima de infarto, José Ramiro Sobrinho morreu no final da tarde de segunda-feira, em São Paulo, depois de cinco décadas de trajetória – boa parte delas ao lado do irmão Ranulfo Ramiro da Silva, o Xavantinho, falecido em 1999, com quem deu voz a canções como Cio da Terra, Cálix Bento e Que Terreiro É Esse.
Pena Branca era um dos últimos sobreviventes de uma geração que consagrou o estilo caipira de cantar, tocar e contar histórias. Ele e Xavantinho eram cantores desde os anos 1950, mas só consolidaram mesmo a carreira a partir da década seguinte, quando deixaram a zona rural de Uberlândia – onde foram criados e tiveram de trabalhar desde a perda do pai, em 1950 – e foram tentar a sorte em São Paulo. Na metrópole, conheceram outros artistas que fizeram história na música sertaneja – como Tonico e Tinoco, com quem muito dividiram o palco nos anos 1970, e Milionário e José Rico. Esses últimos seguem na ativa, assim como um já quase nonagenário Tinoco ainda arrisca seus trinados em aparições eventuais.
Pena Branca também vinha levando a carreira num ritmo mais manso. Entre seus trabalhos mais recentes, estão a participação no DVD No Auditório Ibirapuera (2007), de Renato Teixeira – amigo e parceiro com quem Pena Branca e Xavantinho gravaram o histórico disco Ao Vivo em Tatuí (1992) –, e o álbum solo Cantar Caipira (2008). Mas, há 25 anos, os irmãos mineiros tinham agenda cheia entre shows e compromissos de TV e rádio.
Cantor ganhou o Grammy Latino com álbum solo lançado em 2000
A consagração começou quando a dupla, acompanhada por 16 violeiros da Orquestra de Guarulhos e por um naipe de percussionistas, foi para a final do festival MPB 80, em 1980, com a canção Que Terreiro É Esse. Em seguida, os irmãos gravaram o primeiro LP, Velha Morada. Pena Branca e Xavantinho ainda iriam lançar juntos mais nove álbuns, com destaque para Cio da Terra, de 1987, com a regravação da faixa-título, canção escrita em parceria por dois medalhões da MPB, Chico Buarque e Milton Nascimento.
Mesmo um tanto tardio, não faltou reconhecimento oficial aos talentos vocais e criativos de Pena Branca e Xavantinho, contemplados em 1990 com o Prêmio Sharp de Melhor Música, por Casa de Barro, e Melhor Disco, por Cantadô de Mundo Afora. O álbum ao vivo com Renato Teixeira também ganharia troféus – nos prêmios Sharp e APCA – em 1992. Dos três discos solo lançados por Pena Branca desde a perda do irmão, o que mais se destacou foi o primeiro, Semente Caipira (2000), que levou o Grammy Latino no ano seguinte, na categoria Álbum Sertanejo Brasileiro.
Entre as tantas canções do repertório da dupla, estavam clássicos como Cuitelinho, Luar do Sertão e Tristeza do Jeca. Uma síntese da trajetória dos irmãos está no segundo CD solo de Pena Branca, Canta Xavantinho, que inclui curiosidades como a última gravação feita por Xavantinho, Meu Céu – cuja letra descreve bem o último dia de Pena Branca, antes de sentir-se mal e ser encaminhado para o Pronto Socorro do bairro Jaçanã, onde morava com a mulher, Maria de Lourdes: “Armei a rede na varanda / Afinei minha viola / Sabiá cantou comigo / Mandou a tristeza embora / No lugar aonde eu moro / Solidão não me amola (...) Não é o céu / Conforme eu aprendi / Mas se Deus achar por bem / Pode me deixar aqui”.
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