quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010






Entrevista de Edson Zampronha ( Parte II )


5 ) Em sua formação, quais músicos e compositores você considera influência ou contribuição em sua carreira ?

Quanto mais escuto música mais aprendo com o que escuto. Luca Marenzio, Vivaldi, Bach, Domenico Scarlatti, Beethoven, Debussy, Stravinsky, Schoenberg, Messiaen, Pierre Schaeffer e György Ligeti. Suas obras me influenciaram de maneira substancial e me sinto grande devedor a eles. Em 1986 eu compunha um concerto para piano e orquestra quando pela primeira vez escutei em casa Atmosferas, de G. Ligeti. O resultado foi avassalador! Não pude terminar o concerto. As perspectivas que se abriam eram imensas, e repensei tudo o que tinha feito até então. Este concerto ficou incompleto, e em seu lugar fiz uma Ópera que se chama Composição para Músicos e Atores.



6 ) É interessante seu trabalho na área da educação musical. Fale um pouco disto e do livro “Notação, Representação e Composição”.

Minha pesquisa sobre música e composição está dividida em três grandes áreas: (1) pesquisa sobre novos sons e diferentes formas com que podem ser conectados (que essencialmente é uma técnica composicional); (2) pesquisa sobre o sentido, o discurso e o conteúdo musicais, buscando saber como são construídos e que efeitos artísticos podem gerar a partir de uma operação sobre eles (que é um estudo sobre propostas poéticas, em particular sobre o que denominei retórica), e (3) pesquisa sobre os suportes e a influencia que exercem na criação musical. Este último tópico é abordado pelo livro Notação, Representação e Composição, no qual afirmo e demonstro que a escrita musical (ou, de modo mais geral a representação) é o meio que utilizamos para pensar a música. Ou seja, não pensamos a música em um universo mental e a representamos em um universo gráfico diferente. Estes dois universos são essencialmente o mesmo. E isso ocorre também quando consideramos músicas sem escrita, o que fica claro quando expando o conceito de notação no de representação. Enfim, nunca temos contato direto com o som puro, somente com uma representação dele que pode ter várias formas (gráfica, gestual ou de outra natureza). A conclusão necessária é que nunca saímos do universo das representações. E se isto é assim, então é possível realizar alterações no ambiente das representações, como é o caso da notação musical (ou de outra representação equivalente) para então passar a pensar a música de modo diferente e, assim, poder gerar um resultado musical novo. Os resultados desta operação são efetivamente perceptíveis, são muito eficientes e realmente desenvolvem a mente composicional proporcionando outros modos de pensar a música. Modos de pensar que podem gerar músicas incrivelmente originais.



7 ) Quais prêmios você recebeu como compositor ?

Dentre os vários que recebi gostaria de destacar os seguintes: duas vezes premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA (1993 e 1996) e Primeiro Lugar no 6º Premio Sergio Motta de Arte e Tecnologia – 2005 pela instalação Atrator Poético que realizei juntamente com o Grupo SCIarts. Quando era estudante recebi prêmios que foram grandes estímulos para mim: 1º Lugar no Concurso Ritmo e Som da UNESP (1985), 1º Lugar no Concurso de Composição da TV Cultura-Programa Allegro (1987), e 1º e 2º lugares no Troféu Bach de Composição (1982). Dois outros prêmios recentes e bem interessantes porque são coletivos e para projetos, são o Prêmio PAC 27 da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, para a apresentação de 6 concertos sobre minha obra, e o Prêmio FUNARTE de Dança Klauss Vianna – 2009, para a realização do espetáculo [5.sobre.o.mesmo], que inclui música de minha autoria e que será estreado em março deste ano. Mas o maior prêmio que recebo a cada concerto é a aprovação do público e dos intérpretes.


8 ) Como está a divulgação do seu trabalho no exterior ?

Tenho recebido diversas encomendas e tenho participado de projetos muito interessantes e desafiadores, tanto como compositor como pesquisador, e isso ocorre porque meu trabalho tem tido um contínuo e crescente reconhecimento. Obras para balé, minha primeira sinfonia, um novo CD só com obras minhas, e muitas viagens programadas, tudo para 2010. Ainda não tive a oportunidade de compor uma obra para cinema, que é algo que seria um delicioso desafio. Também tenho publicado vários textos que sintetizam parte de minhas propostas musicais, e uma síntese de parte de minhas investigações musicais deverá ser publicada em um novo livro no início de 2011. Estou muito contente e estimulado com todos estes resultados.



9 ) Zampronha, agradeço imensamente o tempo que nos reservou para esta entrevista e desejo um 2010 de muitas realizações e novas conquistas para seu trabalho. Deixe o espaço para você falar com nosso público. Muito obrigado e grande abraço !

Agradeço a oportunidade desta entrevista ao Blog Arte Brasil e desejo poder cumprimentar a todos os leitores em meus próximos concertos.

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