O samba de Almir Guineto dividiu as paradas de sucesso nos
anos 80 com o rock nacional e os astros da MPB. Quem conhece a poesia dos
sambas românticos do cantor e a força de seus sambas partido-alto logo
identificam a alegria, a ironia e o apego às tradições negras, elementos que
nos dias de hoje foram substituídos pela sofrencia, ao menos nas paradas da TV
e do rádio.
Mas esse aspecto poético encontra-se sim com o sertanejo de
raiz que fala das coisas do campo mas também mantém a força das histórias de
vida e o lirismo quando fala de amores e desencontros.
O samba de Guineto (assim como em Roberto Ribeiro, João
Nogueira, Arlindo Cruz e Agepê) se imprime da força de sua gente (o trabalhador
que acorda cedo; a beleza dos terreiros e seus santos; a cordialidade e a
esperança); da sonoridade do samba de raiz (com percussão; violões, inclusive
de 7 cordas; cavaquinho e banjo) e da
profunda beleza quando se fala de amor e paixão.
A respeito das desilusões amorosas, estas vêm sempre na
forma de reflexão ou ironia (impedindo o personagem dos sambas de viver em
baixo astral ou melancolia) como em “Não quero saber mais dela”; “Mel na boca”
(de David Correa) e “Só prá contrariar”.
Almir Guineto foi mestre de bateria da Salgueiro; ajudou a
fundar Os originais do samba e O fundo de quintal, dois grupos que em momentos
diferentes foram fundamentais para a afirmação desse grande gênero musical; fez
composições gravadas por Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Jovelina Peróla Negra e
Alcione e como artista, resgatou o melhor do samba e do pagode, dando sempre
voz às coisas da negritude e do Brasil.
Aldo Moraes
(Músico, poeta e jornalista)
composermoraes@hotmail.com
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