Que nítida e bela radiografia de um gênio com o qual tivemos o privilégio de compartilhar nossas vidas.
Grande abraço
João Bosco
ALDIR BLANC, UMA DOR ASSIM
PUNGENTE
Consciente
do sentido ético da existência e dotado dessa pureza d’alma que só os verdadeiros
artistas possuem, ALDIR BLANC MENDES deixou
seus milhões de amigos e admiradores órfãos
desconsolados, neste abril de tristes lembranças.
Nascido
em 1946, no Estácio, Zona Norte do Rio, reverenciado por Dorival Caymmi como o “ourives do palavreado” e pelo cartunista Jaguar
como “Proust de Vila Isabel”, legou ao Brasil um acervo de canções fundamentais, cujas
letras subvertem, pela invenção e
criatividade, qualquer lógica formal. Diante
delas nos sentimos surpresos e encantados, como criança assistindo a um mágico que jogasse palavras para o alto e
elas caíssem onde ele apontasse o dedo.
Aldir
Blanc sempre viveu com pouca grana e sua maior alegria era ser um compositor
popular. Incapaz de trair sua
sensibilidade de poeta, nunca aplicou na bolsa, preferindo investir suas economias nas boas ações da
vida. Assim, fez do seu coração um cofre
e nele depositou as mais sublimes canções,
uma forma de amenizar as asperezas do mundo e dar sentido e espiritualidade à vida.
Formado
em Medicina, em 1971, mais por influência do pai, com especialização em Psiquiatria, sentía-se
obsessivamente atraído pela música,
desde menino.
Culto
e sensível, com um senso de humor e
ironia dignos de Voltaire, ao optar pelo
mundo incerto da música, mostrou atrevimento
e senso de liberdade impensáveis para um jovem de 23 anos.
Infeliz
na Medicina, após dois anos de consultório, ao optar pela música, trocou o jaleco branco pela mais espiritual
das artes, como quem permuta ferro velho por diamante.
Assim,
descartou, numa só tacada, o divã de Freud
e os compêndios de Psiquiatria. Fã assumido de jazz - é sintomática sua obra “O Gabinete do Dr. Blanc,
sobre Jazz, Literatura e Outros Improvisos”, alusão ao diretor Robert Wiene e seu filme “O Gabinete do Doutor
Caligari” -- e leitor erudito dos
clássicos, que estava sempre revisitando, fruia também da companhia de Lima Barreto e
Ney Lopes, seus escritores amados e mais
chegados ao Rio antigo e contemporâneo,
respectivamente.
Seus
primeiros passos na música foram na
contramão da época: começou cantando nos bares da vida, autores então considerados
“fora de moda”: Noel Rosa,
Geraldo Pereira, Wilson Batista, Ataulfo Alves e Ismael Silva, eternas referências
do legítimo samba carioca, em Vila Isabel
e no Estácio. E isso lhe bastava.
Ouvia
diariamente Noel Rosa, único ser que considerava abaixo de Deus, desde menino. Na
verdade, Aldir Blanc era um baobá da nossa música, mas chorava, tinha pressão
alta e taquicardia, quando via a Acadêmicos do Salgueiro desfilar. Com ela,
só cometeu duas infidelidades (perdoáveis): desfilou na Comissão de Frente da
Mangueira, na homenagem a Drummond e aos poetas, em 1987, e na da Mocidade, no
tributo a Elis Regina, em 1989.
A “Pimentinha” , que ele idolatrava, foi decisiva em sua vida: gravou dele e João
Bosco, em sua breve carreira, 28 canções. A dupla só foi batida por Tom Jobim,
de quem ela emplacou 30!
Amado
e respeitado por seus parceiros, músicos e intérpretes, ele também escreveu nos principais jornais do Rio e São Paulo, cronicando na excelente revista Bundas e no célebre semanário Pasquim.
Como
todo gênio movido pela ética e destemor, por vezes contrariava interesses políticos e ideológicos
de alguns patrões, com os quais não transigia. Daí ter sido demitido de alguns diários, mas sem jamais abdicar da “dignidade
de um mestre-sala”. Sabia que quem
perdia eram os jornais e seus leitores.
No
seu período de residência médica, sentiu-se impotente e frustrado para atender
a 120 pacientes seminus e sem remédios, vagando como zumbis pelo hospital, onde
só havia 40 camas e a prática medieval de eletrochoques era rotina, o que lhe
causava horror e evocava, por similitude, as torturas praticadas pela ditadura militar.
A
parceria Aldir Blanc e João Bosco, uma das mais importantes do mundo da música,
nasceu no início dos anos 70. Eles se
conheceram em Ponte Nova (MG), lá apresentados por Pedro Lourenço, amigo de
Aldir, no Rio. A dupla, como
alguns casais, passou por um “divórcio”
de 20 anos, de 1982 a 2002, quando, só então, reatou, agora de forma mais discreta, contida e
equilibrada.
Estrearam
em disco em 1972, com João Bosco gravando
a música “Agnus Sei”, lado B do Disco de Bolso do Pasquim,
que no lado A trazia “Águas de Março”, de Tom Jobim, na voz de Elis Regina.
A mais
conhecida e famosa canção da dupla, “O
Bêbado e a Equilibrista”, de 1979, foi inspirada na música “Smile”, de Chaplin, composta para seu filme “Tempos Modernos”, de 1936. Na voz de Elis Regina, seria um verdadeiro
hino da Anistia, clamor pelo retorno dos exilados pela ditadura militar. Dentre eles,
Betinho (Herbert de Souza), até ali sem
rosto e vagamente conhecido apenas como
“o irmão do Henfil”.
Aldir
conheceu Betinho durante um show no Canecão, num prosaico esbarrão no corredor
do banheiro, quando o ex-exilado reconheceu-o
e disse: - “Eu sou o irmão do Henfil, meu nome é Betinho. Eu voltei por causa daquela música. Eu nunca vou
te perdoar, seu f. da p!” Daí, saíram
para o abraço.
Sobre a letra de “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, Aldir
disse que foi
dificílima, mas, um dia, chegando em casa esborneado num táxi, sem papel ou lápis, ela veio num repente. Desesperado, entrou no cafofo correndo e tacou a letra inteirinha num
gravador. A consagração viria a seguir, outra
vez na voz de Elis Regina.
Para
entender como esse tema aparentemente trivial mas inusitado lhe ocorreu, vamos à gênese:
o jovem Aldir Blanc gastou uma grana preta e alugou um smoking para arrasar
num baile no Clube Monte Líbano, no Leblon. Saindo do Estácio naquela beca de funerária, foi estranhado por uns
e gozado por outros. Chegou ao Clube, tinha dez mil caras vestidos de pinguim,
iguais a ele! Esperou cinco horas para
conseguir entrar no salão. Eram 3:30 da manhã, e no primeiro rodopio com a
dama, esta quebrou o salto do pisante, que os deixou na mão. Em entrevista ao Pasquim, Aldir contou esta
história e explicou que, “naquele época,
o tornozelo tinha uma magia. O band-aid
é torturante por isso: porque era excitamento também.”
Sobre
essa música, em fevereiro de 2000, Aldir
escreveu que comoveu-se quando Luís Fernando Veríssimo lembrou, na sua crônica “Torturante band-aid”, da época, que o band-aid
no calcanhar, valia um compêndio de
sociologia suburbana e que talvez não
existisse uma expressão maior de perdição e desejo na música brasileira.
Quanto
à canção “O Mestre-Sala dos Mares”, de 1974,
em homenagem a João Cândido,
líder da revolta da Chibata, lembramos que ela empacou um tempão na Censura. Originalmente,
denominada “O Almirante Negro”, só foi
liberada quando eles se mancaram e trocaram o título e o texto, onde aparecia a
palavra “negro”, por outras, graças à
“dica” de um cara da própria Censura,
que entregou o ouro pra eles: se a usassem, ela seria sempre vetada.
Quando
a dupla se “enquadrou” nos conformes da época, a música alçou vôo. Aldir dizia que a canção preferida de sua
lavra era “Resposta ao tempo”, parceria dele com o pianista Cristóvão Bastos,
gravada por Nana Caymmi em 1998, maior
sucesso da cantora. De um profundo lirismo no tratamento do tempo, tema tão caro ao filósofo
francês Henri Bergson, nela Aldir Blanc
escreveu: “E o tempo se rói de inveja/ De mim/ Me vigia querendo aprender/ Como
eu morro de amor/Pra tentar reviver.”
Vascaíno
de carteirinha e leitor voraz de clássicos do romance policial, curiosamente, ao morrer, deixou um manuscrito “noir” inédito, cujos personagens, de conduta pouco louváveis, pelo que eu soube, circulam pela Tijuca e seus
arredores. O romance enseja finais alternativos,
à escolha do leitor, o que não deixa de ser moderno e surpreendente.
Dos poetas, cedo Aldir Blanc já curtia Neruda, Maiakovski, Valéry, Vinicius, mas sua grande e maior influência seria mesmo “o poetinha”. Quando leu, pela primeira vez, “Dentaduras Duplas”, de Carlos Drummond de Andrade, disse que tomou um choque e levou uns dois anos para compreender que era um poema magnífico.
Algumas
mortes calaram fundo nele: as de suas filhas gêmeas, nascidas prematuramente de
sete meses, em 1974, do seu primeiro casamento, a do seu cão labrador Batuque,
em 2012, e a do seu pai Ceceu (Alceu), que morava com ele, em 2015.
Em
2011, escreveu para Carlos Lyra 19 canções do musical “Era no tempo do Rei”,
inspirado em livro do Ruy Castro, certamente
as letras mais mordazes e provocativas da história do teatro brasileiro,
segundo a crítica.
Conforme revelou Ruy Castro, uma noite, Aldir desembarcou
de um táxi na porta do teatro João Caetano, durante a temporada do musical. Sem ser percebido pelo público, entrou e curtiu
o espetáculo na “moita”. Ao seu final,
quando o elenco era ovacionado, se mandou pra casa, feliz, no maior anonimato,
como se não fosse ele um dos responsáveis por aquela obra existir.
Aldir
Blanc teve dezenas de parceiros ilustres, dentre os maiores nomes da MPB. Os mais assíduos foram João Bosco, Guinga,
Moacyr Luz, Maurício Tapajós e Cristóvão Bastos. Intérpretes, também teve aos cachos, de Chico Buarque a Ivan Lins, de
Nana Caymmi a Leila Pinheiro.
Descrente
da nossa Justiça caolha, complacente com
doleiros, delatores premiados, políticos
corruptos, bandidos da coluna social e torturadores, tinha sempre um olhar de
candura e compreensão para com os excluídos.
Seu
livro “Brasil Passado a Sujo: a trajetória de uma porrada de farsantes”, é uma
bandeira ostensiva desse Brasil varonil que aí está.
Como
todo avô coruja, sua maior alegria era brincar com os netos, que podiam fazer dele gato e sapato.
Aliás, o próprio Aldir teve uma
infância feliz, no Estácio e Vila Isabel,
evocada no livro Vila Isabel - Inventário
da Infância, além dos deliciosos
passeios de barco e pescarias de siri que fazia com familiares e amigos à paradisíaca Ilha de Paquetá, de menino até a
vida adulta.
No
seu escritório-bunker de mais de 20.000 livros, curtia música, compunha,
estudava, tocava violão e escreveu mais
de vinte obras, sobre figuras cariocas e acontecimentos do Estácio, Tijuca e
Vila Isabel, em crônicas e histórias deliciosas.
Começou
a sofrer da ‘síndromes do jaleco branco’, desde que perdeu suas filhas gêmeas. Ela é caracterizada,
sobretudo, pela elevação da pressão arterial, no momento da consulta médica,
além de outros sintomas. Traduzindo em
miúdos: passou a ter horror a médicos.
Fez
dezessete anos de terapia com duas craques da área, pelas quais tinha grande
apreço. Elas o trataram quase de graça,
segundo me disse, devido ao
desmoronamento do sistema autoral.
Essa
tragédia foi mais agravada em 1991, quando,
perto do Túnel Santa Bárbara, junto ao morro da Coroa, o carro da sua mulher foi violentamente
atingido por trás por outro veículo.
Aldir, que nunca dirigiu, estava sentado no banco do carona e seu
calvário, para o resto da vida, não mais teria fim. Com o choque, ele sofreu uma extensa fratura
no fêmur esquerdo. Retirado do carro por terceiros, ficou um
tempão estirado no chão, enquanto sua mulher também sangrava, ao seu lado, mas
com menos gravidade. Um bombeiro de
folga que corria se exercitando pela
área, veio avisar que havia ocorrido um outro acidente no túnel e não havia
ninguém para socorrê-los. Foi quando a
galera do morro do lado do Dona Marta desceu.
Aldir puxou Mari, sua mulher, já com um pé descalço, despedindo-se dela,
quando um negrão enorme, de calção e sandália japonesa, segundo o Aldir, deu um
tremendo esporro na galera, liberou o socorro
no grito e eles foram levados de Bugre para o Souza Aguiar.
Mesmo
lá chegando com a fratura batendo, ele ficou
eternamente grato ao pessoal da favela, responsável pelo seu resgate, fato
confirmado pelo próprio médico que os
atendeu, na emergência do Souza Aguiar.
Depois,
viria o suplício de receber uma placa de 40 cm e 12 parafusos na perna, tendo
que permanecer oito meses deitado numa cama.
Em 2010, descobriu-se com diabetes e parou de beber e fumar. Esse golpe o levaria a uma fobia social, por ele mesmo admitida, a partir de então,
quando só raramente passou a sair de casa.
Por
uma incrível coincidência, tempos após o
acidente, duas de suas filhas
lanchavam no barzinho de um amigo dele,
quando uma moça, na mesa ao lado delas, disse para uma amiga: “Eu estava no
banco do carona no carro que machucou o Aldir Blanc e a mulher dele. O meu namorado, um babaca, bateu no carro
deles porque estava tentando me agredir, numa crise de ciúmes e, na raiva,
meteu o pé no acelerador”.
Essa
confidência me foi transmitida, em anos recentes, pelo próprio Aldir, mas sem qualquer rancor, o que achei
admirável.
Mesmo
considerado um dos maiores compositores do Brasil, com mais de 600 músicas
gravadas pelos nossos maiores artistas, e tema de dezenas de novelas de sucesso
e minisséries celebradas, além de caracterizar, musicalmente, mais de 60
personagens, Aldir Blanc nunca conseguiu viver de direitos autorais. Sobrevivia de bicos, letras, textos para
jornal, livros, releases, o que pintasse. Assim, se equilibrava “na corda bamba de
sombrinha” para sustentar sua prole.
Em
abril de 2013 , sua presença foi festejada como um acontecimento raro na
Livraria Argumento, do Leblon, ao sair de casa para prestigiar o lançamento do
livro ”ALDIR BLANC – Resposta ao
tempo”, do jornalista Luiz Fernando Vianna, hoje
esgotado.
Em
1991, chorou, o que não era comum, quando
morreu Yves Montand. Em sua memória,
compôs com Guinga a deliciosa chanson
“Mise-en-scène” (“Yves Montand de manhã, em passant,/ L’ennui, Le Néant,
ai, haja Fimatosan...”) abraçando, nessa geografia afetiva, Paul Valéry e Jean-Paul Sartre.
Ficou
doente quando morreu Tom Jobim e só saiu da fossa pelo humor, quando sua filha
lhe mostrou um diálogo de Luís Fernando Veríssimo, no jornal, que dizia:
--“Invadiram a Chechênia”, e o outro perguntava: -“De quem?”.
Em
23.5.17, Aldir tinha que gravar um depoimento na corte da OEA sobre Vladimir
Herzog. Fê-lo sem dormir, com câimbras,
ansiedade, dores imensas nos dois pés,
uma vontade louca de biritar, mas se conteve. No dia seguinte, confessou que na véspera de
uma gravação seu nariz sangrava e não dormia um minuto sequer. Resistia à vontade de beber, gravava, saía
tudo certo, mas aí, caia no “cão negro do Churchil” (depressão) e passava mais
24 horas na pior...
Aos
que ainda confundem a canção “Sinal Fechado”, de 1974, de Paulinho da Viola,
com a sua “Amigo é pra essas coisas”, de 1970, sucesso do MPB-4, parceria dele com Sílvio Silva Jr., Adir
Blanc sempre ressaltou que a primazia de
ser o primeiro a usar um diálogo na MPB, para ele, era irrelevante.
Com a
Internet, tinha uma relação de amor e desprezo.
Nela já escrevera, há décadas, sobre
jazz, música brasileira, o Rio, etc. Às
vezes, dava um rolê pelo Louvre, British Museum, livrarias especializadas, etc., mas subia nas tamancas com esses idiotas que emporcalham
a rede com imbecilidades e fake-news.
Seu
lado gauche, rebelde e inconformado, sempre foi explicitado no humor e ironia de muitos de seus textos e canções, por ele sabiamente utilizados como mecanismo de defesa para proteger a sua dor,
como ensina Freud. No quesito rebeldia e arte, Aldir Blanc poderia ser escalado num time (sem técnico) que abrigaria nomes marginais, mas devastadores, dando uma banana
para o “sistema”, como Caravaggio, Van Gogh, Rimbaud, Lautréamont, Erik Satie, B.
Traven , Jean Genet, Jimmy Hendrix, Janis
Joplin, James Dean, Milles Davis, Hélio
Oiticica, Gonzaguinha e Torquato Neto, dentre uns poucos, todos muito mais próximos de Deus do que supõe
nossa vã filosofia.
Aldir
Blanc nunca pensava naquilo que iria letrar.
Deixava a letra bater ene vezes, até sentir condições de fazer, a menos
que tivesse prazo pra cumprir. Explicou
que ela às vezes vinha na rua, no sono, etc.
Em 90% dos casos, fazia letra em cima de música.
Declarou,
entre seus medos, não ter o de morrer,
mas revelava preocupação de como iriam
ficar seus filhos e netos. Só não queria
morrer com tubos, comadres...
Cidadão
de fina erudição, mas, como Mário de
Andrade, nunca deixou o país. Na Psiquiatria, assimilou o ensino pioneiro
de Franco Basaglia, que esteve algumas vezes no Brasil, R. D.
Laing, Michel Foucault e Nise da
Silveira, figuras emblemáticas da luta antimanicomial, que também seria a
sua. Mas negou que a Psiquiatria tivesse
aberto sua cabeça de letrista.
Tinha
apreço especial pelo seu belíssimo disco “Vida
Noturna”, onde quis mostrar a voz,
dizer “eu canto assim”, com arranjos de
Cristóvão Bastos e esplêndida capa, criação do seu amigo, parceiro de aventuras e artista plástico Mello Menezes,
pelo selo Lua, que lhe deu um sonoro
cano.
Sob
controle desde 2008, só bebeu, dali pra frente, duas vezes: quando da morte de
seu pai, em 2015, e no dia da sua longa entrevista para O Globo, pelos seus 70
anos, em 2016. E pensar que o jornal o demitiria,
em 23.7.18, por ele recusar-se a defender as políticas e a candidatura de
direita que o jornal apoiava!.
Dizia-se
ateu, mas, nos últimos anos, passou a rezar.
Quando alertei-o para cuidar da saúde, em meados de 2017, respondeu-me
de forma tranquilizadora e esperançosa: “Você não vai me perder nem quando, como diz o
grande Ney Lopes, eu partir da jornada
terrena”.
Com
justiça, seu perfil artístico e humano foi traçado com mão de mestre por Ricardo Cravo Albin, que o considerava ombro
a ombro com Noel Rosa, e o contemplaria,
no seu fabuloso Dicionário da MPB, como um dos principais verbetes dessa obra
inigualável.
Nestes
derradeiros meses, declarava-se estarrecido com a degradação do Brasil. Seus últimos dias foram de pânico e desespero
para sua família: sem plano de saúde, sua filha Isabel assumiu a tarefa de angariar fundos junto aos amigos
do pai, pelos jornais, para
conseguir transferi-lo para uma UTI.
Finalmente,
esses recursos não foram necessários e ela pôde mudá-lo do Hospital Miguel
Couto, no Leblon, para uma UTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila
Isabel.
Com infecção urinária e pneumonia,
agravada pelo coronavírus, Aldir
Blanc terminaria seus dias
hospitalizado, isolado de todos que o amavam, da forma mais triste e
solitária possível.
Sem
velório, seu corpo foi cremado no dia 5 de abril, no Memorial do Carmo, no
Cemitério do Caju, Zona Portuária do
Rio.
Reconhecido
e reverenciado por todos, pela nobreza do seu caráter e o sentimento de suas músicas, onde todos nos
sentimos incluídos e abraçados, distinguimos com louvor em ALDIR BLANC MENDES esse
artista especial e ser humano inesquecível, exemplo de decência, perseverança
e luta, que viverá para sempre em cada
um de nós, toda vez que nossa alma for tocada
por um verso ou nota de suas sublimes canções.
Nelson Bravo – Juiz de Fora
Hoje tive contato com essa belíssima homenagem do meu conterrâneo, Nelson Bravo, ao inesquecível Aldir Blanc. Claramente, uma mistura de palavras vindas do coração e cheias de admiração. Vida longa aos poetas da nossa música, da nossa arte, do nosso país.
ResponderExcluir"E se transformássemos a LEI ALDIR BLANC (Emergência cultural) numa extraordinária oportunidade, referência/convocação municipal/estadual/nacional de realização de uma 'COPA DO MUNDO DA CULTURA' (BENEFICIÁRIOS DE BLANC UNIDOS JAMAIS SERÃO VENCIDOS), requerendo a todos os beneficiários da mesma para UNIRMOS todos identificados fazedores de cultura do 'BRAZIL DA ERA DE AQUÁRIO & GNOSOS TRIBOS = LEGISLATURA DE CIBERESPAÇO' onde os cidadãos beneficiados com os três bilhões de reais se conheceriam, se cumprimentariam e se uniriam à 'ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DO DIREITO DA ARTE E CULTURA' (ASSDAK - 34 NUCLEOS - 32 ANOS) e ao 'MOVIMENTO PRÓ-MORALIZAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO' (MPMPL), ambos de Juiz de Fora, encarando o desafio maior de nos unirmos na 'PRAÇA HALFELD DA CULTURA', em Juiz de Fora/MG, presencialmente & virtualmente no próximo dia 24 de Junho de 2021 = aniversário dos oito anos da 'MANIFESTAÇÕES/PASSEATAS/JORNADAS de JUNHO DE 2013' parodiando o 'CLUBE DA LULUZINHA' onde 'QUEM NÃO GOSTA DE CULTURA NÃO ENTRA' -
ResponderExcluirMILTON LEITE BANDEIRA (75)
JOSE LOPES FILHO (103 - IN MEMORIAN)
Defensor Direitos e Deveres Humanos
Promotor Mobilizador Cultural
Diretor Executivo da ASSDAK/MPMPL
32 – 9-8480-4582
gnososbrazil@gmail.com
(Carta do autor do texto sobre o mesmo...)
ResponderExcluirNelson Bravo
Querido e imprescindível astro da nossa melhor música ARNALDO ANTUNES, bom dia. Se v. nos permite, tomamos a liberdade de enviar-lhe modestas matérias em homenagem aos amigos ALDIR BLANC e JOÃO BSOCO, caso v. queira nos dar a honra de passar os olhos por elas, quando tiver um tempinho "à toa na vida", o que nos daria muita prazer. O texto "ALDIR BLANC, UMA DOR ASSIM PUNGENTE", feito às pressas em noites sofridas, cuidando de pessoa amiga num hospital, vitimada pela Covid-19, e que a levaria a óbito, saiu sem ao menos uma revisão prosaica, daí conter ligeiras imperfeições formais e uma "mancada" que pedimos nos perdoar: nosso ALDIR foi sepultado no Caju em maio de 2020, e não em abril, como ali digitamos apressadamente. Receba nosso abraço fraterno com muita gratidão pela sua generosa atenção. Do seu amigo e eterno admirador, Nelson Bravo, 78 anos, Juiz de Fora (MG).