sábado, 11 de fevereiro de 2012

A MÚSICA DE ELI ERI MOURA




Em 2001, conheci a pessoa de Eli Eri Moura, por ocasião do VII Encontro de Compositores Latino-Americanos, em Porto Alegre, quando fomos selecionados para apresentar trabalhos musicais. Nos anos seguintes, sua música, técnica apurada e muito singular e seu trabalho à frente da Compomus, tem chamado minha atenção e há muito queria escrever um pouco sobre o compositor e sua obra.

Conheço obras dos discos “Música de Câmara” e “Música Instrumental”, lançados em parceria com a Compomus e o Núcleo de Extensão Universitária da Universidade Federal da Paraíba.

As formações cameristicas de Moura são muitas vezes referenciais dos instrumentos e instrumentistas que se desenvolvem com muita qualidade e excelência na Paraíba, como os metais, saxofones e a percussão. E o compositor tem aproveitado tal know how paraibano para mesclar sua música com a tradição ocidental das cordas e o piano.

Sua música é rica em timbres ( rarefeitos e inusitados) e sua estética inovadora com a criação de escalas e harmonias próprias é enriquecida pelo conhecimento que possui da tradição cultural do nosso país, como em “ Isophone”, cujos movimentos trazem: coco, reisado, incelença e canto de casa de farinha ou a abstração de” Maracatum” para trio de percussão.

Circumversus, para flauta, clarinete, violino e violoncelo abre o disco” Música de Câmara” e faz uma alegoria contemporânea da cantoria de viola do Nordeste e segundo seu autor, é homenagem ao compositor Mário Ficarelli. Moura parte de um acorde e fragmento rítmico para escrever a obra, na qual se pode reconhecer o toque e as melodias dos cantadores do sertão. Seu procedimento para escrever a peça, no entanto, é contemporâneo e isto é uma das qualidades de sua composição. As referencias prosseguem na peça seguinte: Maracatum, que tem como base o maracatu de baque virado, dança-procissão originaria do Carnaval Pernambucano.

Em Nouer I ( oboé e piano) apesar dos referenciais regionalistas, seu formato em que o piano mantém um padrão e o oboé transforma-se ao longo da peça, demonstra não só um procedimento moderno, mas a melodia e as dinâmicas são ousadas e num ambiente de instabilidade.

O violoncelo solo em “Isophone”, executado por Felipe Avellar de Aquino, agrega valor ao disco porque embora a peça soe mais tradicional que as outras, traz a força e o virtuosismo solista, em que as referencias ao universo popular variam entre aparentes e herméticas, numa variação que um instrumento nobre como o violoncelo permite, transparecendo o que é música de câmara com o que vem da música de nossa ancestralidade popular.

Fecha o CD: Opanijé Fractus para quinteto de sopros, em que um tema afro-brasileiro é trabalhado na formação que tem dado tão bons músicos da Paraíba ao Brasil. A transparência da escrita permite “ouvir” todas as vozes, juntas e em formação umas com as outras. É uma verdadeira aula de composição ( como as melhores passagens de quartetos de cordas dos nossos mestres) e não menos de interpretação.

O trabalho gráfico do CD é caprichado, com tradução dos textos para o inglês, sendo que todas as partituras e gravações estão disponíveis gratuitamente em:
www.compomus.mus.br

Eli Eri Moura é nascido em Campina Grande, Paraíba, em 30 de março de 1963 e estudou com José Alberto Kaplan e Mário Ficarelli. Obteve Títulos de Mestre e Doutor em Música, no Canadá e além de escrever obras para formações de câmara, coro e orquestra, faz trilhas para cinema e teatro. Já tive a oportunidade de entrevistar grandes compositores brasileiros, como Edson Zampronha, Marcos Vinicius ( radicado na Itália), Andersen Viana, Sérgio Roberto de Oliveira, Dimitri Cervo e Leopoldo Nantes. Considero fundamental a divulgação da obra valorosa dos novos autores que vem transformando o nome do Brasil no exterior e que vem colaborando para formar novas gerações de músicos em nosso país.

Eli Eri Moura é um destes nomes fundamentais para o novo Brasil que tanto sonhamos e que ao longo de sua carreira, valoriza nosso melhor patrimônio cultural e o devolve multi-facetado e reinventado, como música a ser ouvida e divulgada a todos!

Aldo Moraes (compositor) Londrina/PR
composermoraes@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário