segunda-feira, 19 de março de 2018

POEMA DE UMA NOITE SUJA, DE AYRTON ROCHA


O calor era intenso,
Meu coração de Poeta batia forte
Como se quisesse me dizer
Que algo de sujo estava para 
acontecer.
Nesta noite de um forte verão 
carioca,
O Rio estava inquieto,
O Cristo Redentor lá no alto do 
Corcovado
Derramava lágrimas de sangue
Antecipando a todos, a sua 
enorme dor.

O morro estremecia de pavor
Entre balas perdidas que cruzavam 
o Céu
Num tenebroso espetáculo de 
guerra urbana
Onde a morte chega,
impiedosamente
No coração de uma criança que 
ainda nem nasceu
Soldados tombam em combate,
Famílias desesperadas de dor
Bandidos invadem praças que 
eram do povo
Matando o Rio,
Rio, a cidade do meu amor.

Estrelas sem brilho, num Céu sem 
Azul,
Um Céu, que nunca ninguém 
sonhou.
De repente, as ondas em soluços 
de um Mar revolto,
Babavam a areia da praia com suas 
espumas
Num gemido de dor.
As Gaivotas sumiram no Céu
E a Rosa de Cartola chorou,
Tudo por que, lá na cidade,
Uma bala certeira,
A cabeça de uma mulher guerreira,
Lá do morro, 
no asfalto quente,
Seu sangue derramou.
O poeta pede paz, 
o poeta pede amor,
O poeta pede piedade,
Pra todas as Marielles,
Que o crime perverso, matou.

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