quarta-feira, 14 de setembro de 2022

CAETANO VELOSO RELACIONA GODARD Ä TROPICÁLIA

"O que se chamou tropicalismo não existiria se Duda Machado não me tivesse dito que ‘Acossado’ era melhor e mais importante do que ‘Hiroshima, Meu Amor’", afirma Caetano Veloso à imprensa ontem. "Fui ver o filme de Godard e ali, na Bahia, no Largo 2 de julho [data importante da verdadeira independência do Brasil], percebi a perspectiva pop. Só vim a ver Warhol, Lichtenstein et cetera na Bienal de São Paulo, já com ‘Alegria, Alegria’ e ‘Tropicália’ compostas. Anos depois, quando vi, em Paris, ‘A Lei do Desejo’, antecipei a observação da crítica Pauline Kael: ‘Almodóvar é Godard com uma nova cara, uma cara feliz’."
"Projetei ‘Uma Mulher É Uma Mulher’ na sala da minha casa para Pedro e ele não creu que a Kael tivesse escrito o que eu contava. Briguei aos berros com o presidente da República, com o rei Roberto e com o ministro Celso Furtado pela nojenta censura ao ‘Ave Maria’ godardiano. Fui apoiado por Fernanda Montenegro. Sempre creditei a ‘Terra em Transe’ a inspiração tropicalista. Mas eu não veria no filme de Glauber Rocha o que vi se Godard não me tivesse munido das sua lentes." Caetano reconhece o impacto dos filmes "Acossado", "Uma Mulher É Uma Mulher", "Viver a Vida", "O Demônio das Onze Horas" e "Masculino-Feminino" na fase de formulação do tropicalismo, em 1967. Na criação de um imaginário brasileiro, o estalo de "Terra em Transe", de Glauber Rocha, se somou à influência da liberdade estilística de "Acossado".

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