Nosso entrevistado é Professor titular da Universidade de Brasília-UnB desde 1973.
Jorge Antunes é maestro e compositor de reconhecimento nacional e internacional.
Seu nome é verbete nas mais importantes enciclopédias (Larousse, Grover's, etc). Precursor da música eletroacústica no Brasil e criador da "Música Cromofônica". Antunes é Doutor em Estética pela Sorbonne.Intensa atividade cultural e política, desde os tempos de estudante no Rio de Janeiro, liderando movimentos importantes da história recente brasileira: Greve do Um Terço (1962); Movimento Poema-Processo (1967); Movimento das Diretas, com sua famosa Sinfonia das Buzinas (1984); Hino Nacional Alternativo, na Constituinte (1988).
Como administrador se projetou nos meios culturais como presidente da Ordem dos Músicos do Brasil, na primeira diretoria eleita do órgão após o fim da intervenção da ditadura militar. Em 2002 recebeu o título de Chevalier des Arts et des Lettres, do governo francês.
É membro da Academia Brasileira de Música. Obras publicadas pelas mais conceituadas editoras e gravadoras internacionais. Nove livros técnicos publicados. Presidente da Sociedade Brasileira de Música Eletroaacústica.
ENTREVISTA:
a) Olá
Jorge Antunes, saiba que é uma honra ter você dialogando com o público do blog
Arte Brasil. Gostaria que você contasse como foi sua infância e sua relação
inicial com a música.
Ouvi muita música erudita durante a infância.
Meus pais não eram músicos. Meu pai era artista plástico e antiquário. Mas
adorava música erudita e tinha uma vasta e rica discoteca. Aos 7 anos de idade,
após ouvir as Árias Ciganas de
Sarazate, me apaixonei pelo violino. Desde então passei a sonhar e pedir para
estudar violino. Mas os pais pobres não podiam atender meu pedido. Só aos 14
anos de idade comecei a estudar: meu pai, em seus negócios de antiquário,
conseguir trocar um lampião antigo por um violino. O incrível é que era um
violino de autor italiano: um Maggini. Esse violino está, hoje, com meu filho
violinista. Logo no primeiro mês de estudos de violino, na Escola de Música
Santa Cecília, Rio de Janeiro, comecei a compor peças para violino solo.
b) Fale
sobre as pesquisas sobre som e tecnologia que você iniciou ainda muito jovem.
Em 1959, aos 17 anos, ganhei uma bolsa para
estudar rádio e televisão no Lart (Laboratório de Rádio e Televisão), escola de
propriedade de um primo de minha mãe. Comecei a ganhar dinheiro, consertando
aparelhos de rádio de vizinhos, parentes e amigos. Dois anos depois, em
setembro de 1961, assisti no Theatro Municipal do Rio, num domingo pela manhã,
o primeiro concerto que se fez no Brasil com música eletrônica. Foi na série
Concertos para a Juventude, organizada pelo maestro Eleazar de Carvalho. Nesse
concerto ouvi obras eletroacústicas de Stockhausen, David Tudor e Henri
Pousser. Fiquei fascinado. Eu já ouvira sons eletrônicos, produzidos pelo meu
osciloscópio, que eu usava para consertos de rádio. Ao chegar em casa, naquele
mesmo domingo, levantei o circuito de um gerador de ondas dente-de-serra que
tinha dentro do osciloscópio e comecei minhas primeiras experiências.
c) Como
você avalia as novas plataformas de interação e divulgação que surgiram com a
internet (blogs, redes sociais, youtube, sites, etc...)?
São ferramentas muito importante e úteis para
a música. Não só para a produção e criação musical, mas também para sua
divulgação. Hoje, com essas ferramentas, qualquer um pode criar com sons, e
divulgar suas criações. Mas precisamos que seja implementada uma boa educação
musical nas escolas, para que o gosto musical e senso crítico sejam
desenvolvidos nas crianças que formarão a grande massa de criadores e ouvintes
consumidores do futuro. Se essa educação não acontecer, corremos o risco de ter
os ouvidos das novas gerações contaminados pela mediocridade e pela música de
má qualidade da indústria cultural.
d) Jorge
Antunes, conte um pouco sobre os trabalhos musicais que você considera
fundamental em sua trajetória. E como surgiu a concepção de suas famosas óperas
de rua?
É difícil, para mim, selecionar obras minhas.
Mas eu arriscaria indicando: Valsa
Sideral, de 1962, a primeira obra eletroacústica feita no Brasil
exclusivamente com sons eletrônicos; Catastrophe
Ultra-Violette, de 1974, para coro masculino, orquestra e sons eletrônicos;
Elegia Violeta para Monsenhor Romero,
de 1980, para coro infantil, piano e orquestra.
A “ópera de rua” é um gênero musical novo, que
inventei. Fiz duas. Com esse tipo de
ópera posso denunciar, ironizar e lutar contra fatos que enlameiam a história
do Brasil. A mais recente é“Olímpia ou
Sujadevez. Ela foi estreada em 21 de maio de 2016, em Brasília, no Conic: o
Centro de Comércio e Cultura que, por tradição, sempre abriga eventos de luta
política e de cultura contestatória.
e) Acompanho
também sua produção em livros que em muito contribuíram para o estudo e
reflexão das novas escritas em música. Fale um pouco desses trabalhos.
São, ao todo, sete livros. Entre eles está uma série de cinco
livros que tratam de modo teórico e prático, da notação na música
contemporânea. Todos os livros resultam de minha tese de doutorado. Nos livros
defendo a idéia de que devemos usar signos e notações novas apenas para os sons
novos e para os novos modos de execução instrumental. Isto é, usar as novas
notações exclusivamente para os sons para os quais a notação tradicional não dá
conta. Assim, os cinco livros são: Notação
na Música Contemporânea, Sons Novos
para o Piano, a Harpa e o Violão; Sons Novos para os Sopros e as Cordas; Sons Novos para a Voz; e Sons Novos para a Percussão.
Além destes, publiquei também A Correspondência entre os Sons e as Cores, que trata de minha
Teoria Cromofônica, e outro livro intitulado Uma Poética Musical Brasileira e Revolucionária. Nesse livro eu sou
apenas o organizador. Nele estão artigos de diversos compositores e estetas
analisando obras minhas.
f) Jorge
Antunes, você já foi candidato ao Senado Federal e sei da sua militância
política e social. Como você vê o atual momento de crise nacional? E seja qual
for o desfecho, como vislumbra o Brasil dos próximos anos?
É triste e complexo o momento que vivemos no momento. Apesar
de eu sempre ter feito oposição ao governo Dilma, considero que o Brasil está
atravessando um processo de verdadeiro golpe. O partido que era de centro
passou a ser de direita, e golpista, porque suas lideranças, corruptas, querem
travar a Operação Lava-Jato que, ao que parece, já deveria ter levado mais da
metade do Congresso Nacional para a cadeia. Espero que Dilma volte e que, logo
em seguida, defenda a realização de novas eleições. Assim, acreditando que o
povo já está suficientemente informado, acredito que o país poderá, enfim, ser
passado a limpo, não reelegendo a maioria corrupta que domina atualmente os
poderes nacionais.
g) Deixo
o espaço livre para um recado seu ao nosso público:
Posso aproveitar a oportunidade para reiterar
um antigo recado: “– Conheça a música do
presente, para não correr o risco de ter que conhecê-la, no futuro, como música
do passado”.
Peço ao público que faça intensas e
permanentes buscas na internet e, em especial no Youtube, para conhecer a
música que os compositores de hoje estão fazendo e divulgando. Infelizmente não
dá para contar com as orquestras, e com a presença em concertos, para se ter
acesso a essa informação. Tampouco com os intérpretes. Os repertórios destes e
daquelas continuam sendo os mesmos de há 50 anos.
Compositor e Maestro Jorge Antunes
Facebook: https://www.facebook.com/jorge.antunes.391
Email: antunes@jorgeantunes.com.br
Web: http://americasnet.com.br/antunes/
Para compra de obras de Jorge Antunes (CDs, DVDs, livros, partituras): sistrum@sistrum.com.br
O Sr. Antunes está sendo elegantemente eufemista ao afirmar que os intérpretes (solistas e orquestras) executam repertório de 50 anos atrás. A bem da verdade, mal adentraram o século XX! Insistem comodamente, ad nauseam, em repertório antigo em detrimento da busca pelo novo. É lamentável!
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