Estou a assistir o DVD Ensaio da TV Cultura com o programa gravado em 1992, com o cantor, compositor e sambista João Nogueira, com a certeza de que sua música possui a matéria de que são feito os sonhos...
Nogueira é herdeiro e ao mesmo tempo contribuição do samba bem escrito e cantado com a voz das nossas mais ancestrais raízes. Percebe-se no vídeo, certa timidez e uma profunda intimidade com a poesia nascida do povo, com a terminologia africana, indigena e do nosso cotidiano.
O samba de Nogueira é cadenciado, filosófico mesmo quando trata de sua vida e das coisas do seu país e, pode ser quente e animado quando trata dos nossos tipos populares e da essência negra na cultura brasileira. São destes criadores que o Brasil há de sentir falta quando reconstruir sua história musical: dos mais eruditos aos mais populares, há figuras únicas que viveram dedicados para emprestar talento e voz aos mais humildes, aos distantes das cidades, aos enfurnados no sertão ou nas periferias. Este é o caso de Heitor Villa Lobos, Cartola, Nelson Cavaquinho, Roberto Ribeiro e certamente João Nogueira.
Com seu talento ímpar e sua morte prematura (em 2.000, de infarto) como também se sucedeu com Roberto Ribeiro, Jovelina Peróla Negra e Agepê; João Nogueira é uma jóia da música e do samba que precisa ser descoberto pelas novas gerações. Sua autenticidade e por isto mesmo, sua naturalidade são exemplos e caminho a ser percorrido: ali está a verdadeira essência da arte!
Um arte desenhada no cotidiano e curtida na memória dos antigos negros que chegaram à séculos neste país: Espelho, O homem de um braço só, Guerreira e Um ser de luz são canções que exemplificam esta ourivesaria de Nogueira.
E está pronto, não precisa dizer mais nada!
ALDO MORAES
composermoraes@hotmail.com
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