quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CENPEC 15 ANOS: PIONEIRO NA DISCUSSÃO DA EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL

Débora Beraldo

Em permanente processo de construção, o conceito de educação integral vem se modificando ao longo dos anos. Para o Cenpec, “educação integral é aquela que articula atores, espaços e saberes, promovendo efetivamente o desenvolvimento integral da criança e do adolescente”.

“Lembrar que educação integral não é a mesma coisa que tempo integral é bastante importante para tratar o assunto”, explica Isa Guará, ex-coordenadora do Prêmio Itaú-Unicef (PIU).

O Cenpec foi uma das primeiras organizações a levantar a bandeira da educação integral, fazendo sua primeira incursão nessa área em 1995 com a criação do Prêmio Itaú-Unicef. A premiação é uma iniciativa da Fundação Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef, coordenada pelo Cenpec. Tem como objetivo reconhecer e dar visibilidade ao trabalho de organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que, em articulação com políticas públicas, realizam ações socioeducativas e contribuem para a educação integral das crianças e dos adolescentes. Nos últimos anos, outras organizações se uniram nessa mobilização, como a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - Undime, o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social - Congemas e o Canal Futura.

Ao longo de quase duas décadas de Prêmio, o Cenpec e as organizações parceiras foram modificando, aperfeiçoando e amadurecendo o conceito de educação integral que defendiam, em consonância com o contexto social e educacional no País. “Nós tínhamos o compromisso com a educação de uma forma geral. E já no início procurávamos outros espaços, além da escola, que tivessem o mesmo propósito, a mesma seriedade, a mesma intenção educativa, mas com procedimentos diferentes. A escola é uma coisa, ONG é outra, mas os meninos são mesmos”, afirma Zita Pimentel, primeira coordenadora do Prêmio Itaú-Unicef.

Quanfo foi concebido, portanto, a premiação tinha como foco organizações que desenvolviam “ações complementares à escola”. Hoje, com a evolução do debate, o Cenpec entende que a educação integral se dá a partir de uma atuação conjunta, articulada e orgânica entre escola, ONGs e outros atores do território.

Desenho do Prêmio

Desde sua primeira edição, o desenho do Prêmio Itaú-Unicef previu um processo de monitoramento e acompanhamento das organizações finalistas e não só das vencedoras. O Prêmio abrange um ciclo de dois anos, sendo os anos ímpares dedicados à premiação e os pares, à formação das ONGs. “O PIU foi ganhando uma perspectiva de não ser apenas um prêmio, mas também um indutor de mudanças nesta área [da Educação]”, explica Isa Guará. Para ela, o Prêmio passou a atuar como um articulador da relação das organizações com a escola. “E acho que aí foi ganhando uma credibilidade, uma visibilidade muito grande. E com isso fomos ampliando o potencial formativo”, afirma.

Atualmente, o Prêmio Itaú-Unicef encontra-se na 9ª edição. No último dia 3, no contexto das ações de formação que integram o calendário da premiação, foi realizado o Seminário Nacional Educação Integral: Experiências que Transformam. O evento reuniu cerca de 500 educadores e representantes de organizações da sociedade civil que desenvolvem ações socioeducativas com crianças, adolescentes e jovens para abertura das atividades formativas (Leia notícia sobre o Seminário).

A atual coordenadora do Prêmio, Nazira Arbache, conta que diversas experiências premiadas em edições anteriores continuam beneficiando as crianças e jovens brasileiros. É o caso da ONG cearense Comunicação e Cultura, que, desde 1988, realiza ações de formação com professores e alunos da rede pública de ensino para produção de jornais escolares. “É uma experiência que foi premiada em 1999 e até hoje vem sendo desenvolvida com resultados bastante positivos”, comemora.



Parcerias com o poder público


À medida que foi acumulando expertise na área, o Cenpec foi procurado por outras organizações, por fundações empresariais e por diferentes instâncias do poder público (secretarias municipais e estaduais de Educação e MEC) interessadas em desenvolver e implantar ou aprimorar projetos de educação integral.

É o caso, por exemplo, da duradoura parceria entre Cenpec, Fundação Itaú Social e prefeitura de Belo Horizonte (MG), iniciada em 2004, com o objetivo de atuar na formação de técnicos das secretarias de Assistência e de Educação, junto com educadores das ONGs participantes do programa educação integral do município.

A contribuição do Cenpec se dá, portanto, no sentido de qualificar as ações socioeducativas oferecidas pela rede municipal. O trabalho com a comunidade qualifica o envolvimento e a interlocução entre escolas e famílias, o que pressupõe uma transformação da educação.


O programa de educação integral de Belo Horizonte (MG) recentemente atingiu o atendimento a 150 das 186 escolas da rede municipal de educação, com a participação de diferentes setores governamentais, instituições de ensino superior e ONGs. “O objetivo é oferecer educação integral por meio da ampliação dos horários de atividades educativas e utilização de espaços físicos externos à escola”, explica Macaé Maria Evaristo, ex-secretária municipal de Educação.

O programa pressupõe que a ampliação do tempo e do espaço é também condição necessária à melhoria da aprendizagem e do ensino. Os estudantes das escolas participantes são atendidos pela manhã e também à tarde, mas o programa vai além da ampliação do tempo escolar. São garantidas aos estudantes nove horas diárias de ação educativa, preenchidas por atividades culturais, pedagógicas, de esporte e lazer, além da formação cidadã. Para as atividades fora da escola, realizadas em parques, praças, clubes e outros espaços da comunidade, são organizados grupos de alunos, acompanhados de um monitor, sob coordenação de um professor comunitário.

Atualmente, além da parceria com a SME-Belo Horizonte, o Cenpec e a Fundação Itaú Social desenvolvem projetos de educação integral em conjunto com as secretarias de Educação do Estado de Goiás, dos municípios do Rio de Janeiro (RJ) e Maringá (PR).

“A educação para o nosso tempo tem que extrapolar os muros da escola. A escola, o modelo tradicional de currículo terá que ser superado pelas tecnologias, pela expansão dos espaços educativos”, pensa Isa Guará. A urgência dessa mudança e dessa necessidade de reinvenção pela qual precisa passar a educação está expressa no mote escolhido pelo Cenpec para celebrar os seus 25 anos de existência: “Por uma educação para o nosso tempo”.


Fonte: Cenpec

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