terça-feira, 3 de maio de 2011

Bullying e um grito no silêncio

A agressão escolar não é um problema novo nem isolado, mas infelizmente, crianças injustiçadas, por todo o Brasil, tiveram seu silencioso grito por ajuda, propagado de forma mais intensa, somente depois do último massacre ocorrido no Rio de Janeiro (07/04/2011), onde 12 alunos foram assassinados dentro de uma escola, outros feridos e amedrontados, por um rapaz que decidiu reagir de forma inconseqüente depois de sofrer muito com Bullying.
Bullying é um termo da língua inglesa (“Bullie” como substantivo é traduzido por “valentão”, “tirano” e como verbo, “brutalizar", “tiranizar”, “amedrontar”) referente a um tipo de comportamento universal, que ocorre no mínimo três vezes ao ano com um mesmo indivíduo, onde os mais fortes transformam os mais frágeis em objetos de diversão e prazer através de “brincadeiras” físicas ou psicológicas, que disfarçam o propósito de maltratar, intimidar e ridicularizar.

A escola é um dos contextos em que o Bullying mais se faz sentir, uma vez que se encontram num mesmo espaço muitas crianças e jovens, mas o anonimato virtual também facilita a ocorrência do Cyberbullying que é uma intimidação ou degradação feita através do correio eletrônico.

De forma direta (mais comum entre os meninos) ou indireta (mais freqüente entre as meninas), os ataques são uma forma de pressão social que acarreta, por vezes, traumas muito importantes na vida de crianças e jovens que são sujeitos diariamente a este tipo de maus-tratos. Mas é necessário sabermos também distinguir os “comportamentos violentos”, das “más relações escolares", apesar das semelhanças existentes.

Educadores e pais devem estar atentos na identificação tanto de agressores, como de agredidos, com a consciência de que ambos sofrem e, portanto necessitam ser atendidos e tratados devidamente.

Enquanto o agressor procura esconder sua carência afetiva, tem dificuldade em cumprir regras, é sempre malicioso, hostil, desafiante e normalmente tem mais força ou poder do que seu alvo, exercendo uma enorme pressão ao acusar sua vítima de ser responsável pelo abuso e maltrato a que foi sujeita, incutindo medo e ameaças para que se mantenha em silêncio; o alvo dos agressores geralmente são pessoas que não se enquadram aos padrões estabelecidos pelo grupo, tem baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si.

O Bullying normalmente acontece por muito tempo sem que ninguém perceba, muitas vezes, pais e professores só notam que está ocorrendo algo mais grave quando observam, numa vítima, os efeitos dos danos desta pressão que se manifestam sob a forma de fobia à escola, pouco rendimento nos estudos, baixa auto-estima, depressão e doenças psicossomáticas.
Pessoas que vivenciam o Bullying quando crianças são mais propensas a sofrerem depressão e baixa auto-estima quando adultos, além de apresentar problemas associados a comportamentos anti-sociais, ter instabilidade no trabalho e relacionamentos afetivos pouco duradouros, podendo chegar ao nível tão amedrontador de cometer o suicídio ou uma chacina onde almeja punir a si mesmo ou a seus agressores mesmo que indiretamente.

Os fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos de temperamento e influências familiares, de amigos, da escola e da comunidade, constituem riscos para a manifestação do Bullying e causam impacto na saúde e desenvolvimento de crianças e adolescentes que por diversos motivos acabam não se enquadrando nos conceitos pré-estabelecidos como admiráveis ou, no mínimo, aceitáveis no meio em que se encontram.

É preciso conscientizar a população e toda a comunidade escolar sobre esta ação e sensibilizá-la para enxergar a importância de impor limites mais rigorosos nas escolas, de disciplinar com mais firmeza os agressores e, por outro lado, a real necessidade de dar apoio às vítimas, buscando encaminhá-las para tratamentos clínicos, encorajá-los à denúncia, além de fazer com que se sintam protegidas.

O Bullying está ocorrendo nas escolas do mundo inteiro, inclusive no Brasil e apesar de não termos muitas pesquisas referentes a este assunto, alguns estudos da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA), nos mostram que nas escolas brasileiras esta agressão apresenta índices superiores aos países europeus, onde mais de 55% dos alunos estão envolvidos por esta ação devastadora.

Essa é de longe uma das mais ameaçadoras patologias sociais, que tem moldado pessoas violentas para a sociedade. E sua prevenção é uma necessária medida de saúde pública, variável de acordo com o ambiente onde será trabalhado, mas sempre com uma intervenção interdisciplinar firme e competente, principalmente pelos profissionais das áreas de educação e saúde capaz de possibilitar o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes.

É possível evitar a proliferação desse fenômeno parando para ouvir, mesmo que no silêncio, a voz dos agredidos e dos agressores que ainda podem ser tratados e orientados para não cometerem nem um mal contra si ou contra outros inocentes, habilitando-os a uma convivência social sadia e segura.

CRISTIANE ÍRIS ( PEDAGOGA )
Contatos: iris_paes@hotmail.com

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