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" A África tinge-lhe a alma, irremediavelmente, sem jamais abandoná-lo, como homem e artista"
Sílvio Back, fala de Cruz e Souza
Há pouco mais de 10 anos, o cineasta Sílvio Back filmou" O Poeta do Desterro", a vida do escritor simbolista, de linguagem única em nossa literatura: Cruz e Souza.
O poeta negro, sempre me impressionou por suas cores fortes e abordagens de temas nada comuns.
Inconformista e questionador do preconceito racial, mesmo após a abolição da escravatura; Cruz e Souza evoca sua vida nos poderosos versos de uma técnica e inspiração únicos. Filho dos negros alforriados Guilherme da Cruz e Carolina Eva da Conceição, nasceu João da Cruz, em 1861 e recebeu o Souza, do ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Souza. Nasceu em Santa Catarina, então chamada de Nossa Senhora do Desterro.
Recebeu educação refinada, com matérias como francês, latim e grego. Ainda assim, não foi um cordata. Sua natureza era inquieta e rebelde, como se mostra na sua estética de poeta, em que prefere os simbolistas franceses Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé, que os nossos parnasianos.
Um poeta que merece ser lido, Cruz e Souza aborda a doença da mulher, Gavita, em Balada de Loucos. Nos poemas " Escravocratas" e " Abrindo féretros", aborda respectivamente sua indignação com a dor dos negros brasileiros e a morte do pai, segundo ele: o operário humilde da terra. Seu" Bróqueis" é um clássico nacional e os modernistas Mário de Andrade e Otto Maria Carpeaux o consideravam um pioneiro, um abridor de horizontes.
Cruz e Souza morre, em 1897, aos 36 anos, de tuberculose.
Na cine biografia de Back, o ator Kadu Carneiro vive o poeta do desterro.
" Escravocratas eu quero castrar-vos como um touro - ouvindo-vos urrar"
trecho do poemas Escravocratas, da obra O Livro Derradeiro, publicado postumamente em 1945.
( Aldo Moraes )
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