GERALDO PEREIRA SAMBISTA COM UM PÉ NO FUTURO: ARTIGO DE NELSON BRAVO

 GERALDO PEREIRA, SAMBISTA COM UM PÉ NO FUTURO



Ele foi um dos precursores da Bossa Nova,  evidência  reconhecida até por João Gilberto, o “papa” desse movimento, ao lado de Tom Jobim e Vinicius de Moraes e  primeiro artista a  regravar seus sambas “Falsa Baiana” e “Bolinha de Papel”, no início da década de 60.  Com isso,  resgatou  do nosso mar de esquecimento, como um escafandrista de plantão, esse compositor fundamental, até ali   deixado à margem pelas rádios e gravadoras como um barco à deriva, embora abarrotado de sublimes tesouros musicais. 

Só a partir de então suas canções passaram a ser revisitadas e  gravadas pelos maiores  astros da nossa música popular, dentre eles  Elis Regina, Chico Buarque, João Bosco, Gal Costa, Noite Ilustrada, Paulinho da Viola, João Nogueira,  Jair Rodrigues, Zizi Possi e tantos outros.    

Geraldo Theodoro Pereira nasceu em Juiz de Fora (MG), em 23 de abril de 1918.  Ignora-se quem seria seu pai.  Sua mãe,  filha de antigos escravos libertos, o abandonou nos primeiros anos de vida.   Foi deixado na casa de parentes para,  mais tarde, só com o curso primário, seguir para o Rio de Janeiro, ao lado do seu irmão mais velho, Mané Araújo, que lá seguiria para tentar a sorte.  Antigos moradores da Mangueira como os sambistas Cartola e Carlos Cachaça lembravam de que o menino Geraldo Pereira, com cerca de 11 a 12 anos,  lá teria chegado com o irmão, entre os anos de 1929  a 1931.



Ali, mais tarde, seria  assíduo frequentador da casa de um tal Alfredo Português, onde  “batia ponto regularmente, ao lado dos sambistas acima, além de Nelson Cavaquinho e Nelson Sargento.  Sabe-se que Cartola foi seu mestre de violão, assim como Aluísio Dias.     

Casou-se em 1938 com Eulíria Salustiana, a Nininha, tendo um filho com ela. No entanto, diziam que seu grande amor foi a mulata Isabel Mendes da Silva, que trabalhava como pastora[1]  em programas de rádio.  Viveu com ela até morrer, em 1955,  e dedicou-lhe belas canções, como “Escurinha”.

Trabalhou como soprador de vidro em uma fábrica, e foi operário de uma cerâmica, onde sofreu  grave acidente, esmagando a mão.  Com a modesta grana recebida de indenização, comprou um violão e começou a fazer a vida.  Já ligado no samba, trabalharia durante o dia como motorista de caminhão coletor de lixo da Prefeitura, e à noite,  apresentava-se  em rádios e boates, numa época em que compositor ainda não cantava profissionalmente.  

Alto, magro e franzino de corpo, gostava de trajar terno branco e tinha muitas superstições.   Adorava viver cercado de belas mulatas, assumindo, assim, de forma ostensiva, seu “status” de artista popular de rádio e shows.  Era negro, mas tinha olhos amendoados, claros e quase verdes, segundo seus biógrafos.  Procurava disfarçar o cabelo carapinha cortando-o rente.  Sabe-se que não era de briga, mas não gostava de levar desaforo para casa.  Conforme seus contemporâneos, sua ruína teria sido provocada pela inabilidade em conciliar sua vida amorosa e a bebida.  Teve vários problemas de saúde em sua breve existência, e isso muito o prejudicou.


 

Compôs seu primeiro samba, “Farei Tudo”, em 1938, infelizmente barrado pela censura. Isso fez com que   o  primeiro artista  a gravar uma composição de sua lavra fosse Roberto Piva, mas só no ano seguinte, com “Se Você Sair Chorando”.  Antes de gravá-la, Piva a levaria para Pixinguinha orquestrar, quando este manifestou o desejo de conhecer seu autor. E disse mais: “Olha, seu Roberto, só existem sete notas musicais, por isso é difícil inventar alguma novidade em termos de combinação de notas sonoras.  Mas essa melodia é realmente original”.

“Acertei no Milhar”, parceria com Wilson Batista, na voz de Moreira da Silva, em 1940, foi seu primeiro sucesso.  Nesse mesmo ano, muitos cantores haviam  lançado suas canções, dentre eles seu grande amigo   Ciro Monteiro – gravou doze, só dele, um recorde! -, Aracy de Almeida,  Isaurinha Garcia, Dircinha Batista, o Conjunto Quatro Ases e Um Coringa, Odete Amaral, Jorge Veiga, Déo e Alcides Gerardi.

Apesar de gravada em 1944, inicialmente pelos Anjos do Inferno,  Bolinha de Papel” só alcançaria sucesso de público quando gravada por João Gilberto.

 


As canções “Mais Um Milagre” e “Bonde Piedade”,  de sua autoria, gravadas em 1945, foram suas primeiras experiências como intérprete.  Passados cinco anos, voltou a fazê-lo, agora com “Pedro do Pedregulho”.  Ao todo,  gravou com sua voz perto de trinta músicas.  Sintomaticamente, em 1954, lançou “Eu Vou Partir”, como que pressagiando seu fim poucos meses mais tarde.

 

Para João Gilberto, que muitos estudiosos consideram o mais perfeito intérprete da história da música, no mundo, Geraldo Pereira foi também uma espécie de descoberta.  Dele, João declarou que “era aquele malandro alto, forte.  Mas não era daqueles tipos agressivos – “Que é que há?  Como é que é?” Era um malandro bem suave, falava manso, tinha aquela ginga certa de quem não tem pressa e sabe das coisas.  Mas nem por isso ele perdia o velho estilo dos valentões da Lapa”. 

 


 Quando ainda morava numa pensão e dividia um quarto com o cantor e compositor Luiz Carlos Paraná, nos anos 50, no Rio, João Gilberto nos deixou este despojado depoimento sobre um curioso episódio vivido com Geraldo Pereira: “Eu ainda era do conjunto Os Garotos da Lua, nem pensava em cantar sozinho, quando um dia ele me convidou para  sentar com ele num bar daqueles, lá na rua da Lapa.  Enquanto a gente tava tomando umas coisas no bar, passaram uns sujeitos e me estranharam, ficaram olhando da porta.  E ele: ‘Que é que vocês tão olhando?  Isso aqui (era eu) é gente minha!’  Os caras foram embora. O samba dele era leve e cheio de divisões rítmicas, isto sempre me chamou a atenção.  Ele não tinha consciência disso, mas foi um inovador na música popular brasileira na década de 1940”.

 


Maduro e já como artista, chegou a fazer shows com suas  pastoras em boates do Rio e São Paulo e até no Cassino da Urca.  Reconhecido nas  camadas populares, participou, em 1951, com o samba “Ela”, do primeiro LP (Long PlayIng) produzido no Brasil, até com figuras do rádio e do  cinema  que não eram cantores – o ator e apresentador  César Ladeira e o cômico do cinema Oscarito, por exemplo.   Essa novidade, espetacular para o mundo da música, fora lançada em 1948 pela Colúmbia Records, em solenidade no Hotel Waldorf Astoria, de New York, com o disco “The Voice of Frank Sinatra”.

Depois que João Gilberto relançou “Falsa Baiana” e “Bolinha de Papel”, revelando o mapa da mina, tornou-se impossível ignorar a importância e influência de Geraldo Pereira em nosso cenário musical.  A partir dali, uma  avalanche de grandes intérpretes e compositores iria matar a sede nessa fonte.  Paulinho da Viola, por exemplo, que já o estudava e considerava um dos maiores compositores de todos os tempos, fez uma excelente releitura  de “Você Está Sumindo”, de Geraldo Pereira e Jorge de Castro, em 1971, além de cantar “Falsa Baiana”.  Também João Nogueira, no início dos anos 80,  gravou um estupendo LP, homenagem a três gênios do samba que habitavam seu coração: Noel Rosa, Geraldo Pereira e Wilson Batista.  Nele incluiu do sambista mineiro  Bolinha de Papel”, “Você está Sumindo” e “Pedro do Pedregulho”.  Em 1990, foi a  vez de Chico Buarque rasgar seda:  gravou dele e Nelson Trigueiro,  Sem Compromisso”, no seu LP “Chico Buarque ao Vivo”, registrado  na prestigiosa casa de shows Zenith, no Parc de La Villette, em Paris. 

Frequentador habitual do Café Nice, A Capela e o Elite Clube, no Rio, como ator faria ligeiras pontas em alguns filmes da época.  Em 1942,  apareceu no célebre documentário de Orson Welles  It’s All True” (“É Tudo Verdade”), no Rio, nunca  finalizado.  Depois, em 1944, participaria do filme musical “Berlim na Batucada”, dirigido por Luiz de Barros.  Em 1951, com o mesmo diretor, atuaria na comédia  O Rei do Samba”, título homônimo ao do filme de 1999, em sua homenagem, que seria  realizado em Juiz de Fora por nosso amigo José  Sette.  No teatro, foi coadjuvante da peça “Anjo Negro”, de Nelson Rodrigues, que ficou em cartaz em 1948, no Rio, e em 1949, em São Paulo. 


Surpreendente era sua postura antimachista, para a época,   externada em várias de suas letras, quando a mulher ainda não podia sequer votar ou trabalhar fora sem autorização do marido.  Ele iniciou sua incursão pelo inseguro mundo da música como compositor no período áureo do samba e já   chegou inovando, embora ainda não tivesse consciência disso.   Lançou o  que se convencionou chamar samba sincopado ou teleco-teco, ritmo ainda desconhecido e que acabaria influenciando todos os futuros músicos da Bossa Nova.   Estes seriam formados por pequenos grupos de jovens da Zona Sul do Rio, que  passariam a reunir-se despretensiosamente para tocar violão – inclusive João Gilberto -- no apartamento da adolescente Nara Leão, em Copacabana, no final dos anos 50, dentre eles Roberto Menescal, Carlos Lyra, Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli.

No livro “Um Certo Geraldo Pereira”, de Alice Duarte Silva, o compositor Cyro de Souza lembra que a batida da Bossa Nova, de João Gilberto, pode ser encontrada nos sambas de Geraldo Pereira, criada por ele duas décadas antes do disco precursor de João Gilberto, “Chega de Saudade”, ser gravado e  que faria a cabeça de todo mundo e mudaria o panorama musical brasileiro de pernas pro ar.

Segundo afirmou o já citado João Nogueira, outro “cobra criada” do nosso melhor samba, Geraldo Pereira “era vara madura que não cai e deixou belos e bons sambas que influenciaram outros segmentos da MPB, cujo melhor exemplo foi a Bossa Nova”.   Sua primeira apresentação em rádio foi na Tamoio, do Rio de Janeiro, em 1944.  Depois também cantaria na Rádio Nacional e outras que viriam, mas não sem muita luta e perseverança.   

 


Artista com brilho próprio, sabe-se que não sofreu, musicalmente, a influência de nenhum antecessor, mantendo grande originalidade em suas criações.  Os títulos de suas músicas evidenciam um espírito ágil, malicioso e irreverente, lembrando, para nós, que vivemos hoje, por similaridade, alguns dos deliciosos “achados de Noel Rosa e Aldir Blanc.  Confiram: “Golpe Errado”, “Pisei Num Despacho”,  “Cabritada Malsucedida”, “Vou Dar o Serviço”, “Conversa Fiada”, “Chegou Bonitona”, “Polícia no Morro”, “Falsa Baiana”, “Sem Compromisso”, dentre dezenas de outros.

Na época de Geraldo Pereira,  pobreza não era novidade, mas os trens e bondes cariocas ensejavam viagens bucólicas pelas paisagens verdejantes dos subúrbios, ainda não violentados pela criminosa especulação imobiliária, deflagrada a partir da década de 60.

Estando em São Paulo, em 1954, para trabalhar em shows do IV Centenário da cidade, liderou, junto aos seus músicos, um quebra-quebra na boate Esplanada, reação contra um empresário  que os contratou e não queria pagar o combinado.              

 


Em 1980, o compositor Monarco, “bamba” da Portela,  fez uma bela composição em sua homenagem, decisiva para que a Escola de Samba Unidos do Jacarezinho vencesse o Grupo II do Carnaval carioca, com o tema “Geraldo Pereira, Glória Eterna do Samba”.                                            

Bons ventos soprariam para a revalorização de Geraldo Pereira, em 1999, quando a  TVE, do Rio, e a TV Cultura, de São Paulo, exibiram o filme “O Rei do Samba”, realizado em Juiz de Fora por José Sette, mineiro de Ponte Nova, então residindo na Manchester Mineira.   Feito com suor, lágrimas e nenhuma grana, em sistema de cooperativa, contou com um mutirão de cerca de 280 pessoas amigas,  entre técnicos, operários e atores locais.  Nele foram  salpicadas 21 pérolas do repertório de Geraldo Pereira. 

O episódio de sua morte até hoje continua envolto em contornos de  incerteza.   Após levar um soco de Madame Satã, figura legendária da Lapa, Geraldo Pereira caiu batendo com a cabeça na calçada, sendo conduzido desacordado de ambulância para o Hospital dos Servidores Municipais, onde faleceria uma semana depois. Sua morte prematura também foi atribuída ao uso imoderado da bebida e sua negligência com a saúde.    

Madame Satã, por seu lado, em entrevista ao jornal “O Pasquim”, em 1971, deu sua versão sobre seu arranca-rabo com Geraldo Pereira: "Eu entrei no Capela (Bar Capela) e estava sentado tomando um chope. Ele chegou com uma amante dele, pediu dois chopes e sentou ao meu lado. Aí tomou uns goles do chope dele e cismou que eu tinha que tomar o chope dele e ele tinha que tomar o meu. Ele pegou o meu copo e eu disse pra ele: olha, esse copo é meu. Aí ele achou que aquele copo era dele e não era o meu. Então eu peguei meu copo e levei para a minha mesa. Aí ele levantou e chamou pra briga. Disse uma porção de desaforos, uma porção de palavras obscenas, eu não sei nem dizer essas coisas. Aí eu perdi a paciência, dei um soco nele, ele caiu com a cabeça no meio-fio e morreu. Mas ele morreu por desleixo do médico, porque foi para a assistência vivo.”

O lendário jornalista Okky de Souza, em artigo publicado no “Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira”, ratificou  o nome de Geraldo Pereira como um dos nossos mais importantes compositores, com esta síntese: "Dois são os motivos que fazem de Geraldo Pereira um dos maiores sambistas de todos tempos. Primeiro: ele foi o mais brilhante cultor do samba sincopado. Segundo: em suas letras, atuou como um atilado cronista do Rio de Janeiro de sua época".

Assim, por questão de justiça e relevância de sua obra para o acervo da música popular brasileira, celebramos em GERALDO THEOTÔNIO PEREIRA um criador admirável, detentor de méritos mais que suficientes para  ter estátua em praça pública e ser objeto de estudos prioritários em nossas Escolas de Música e Universidades.

Nelson Bravo – Juiz de Fora (MG)

 


Explique o que era uma pastora na época, pois as gerações de agora não sabem, visto que trata-se de uma coisa da era do rádio.


FÓRMULA 1: CLASSIFICAÇÃO DO CAMPEONATO 2020

 


1) Lewis Hamilton, 157 pts
2) Max Verstappen, 110
3) Valtteri Bottas, 107
4) Alexander Albon, 48
5) Charles Leclerc, 45
6) Lando Norris, 45
7) Lance Stroll, 42
8) Daniel Ricciardo, 33
9) Sergio Pérez, 33
10) Esteban Ocon, 26

domingo, 30 de agosto de 2020

HAMILTON VENCE NA BÉLGICA


 

Lewis Hamilton, piloto da Mercedes, venceu o Grande Prêmio da Bélgica 2020 de Fórmula 1 de forma tranquila, de ponta a ponta, cruzando a linha de chegada 8,448s à frente do seu companheiro de equipe Valtteri Bottas, segundo colocado. Max Verstappen, da Red Bull Racing, completou o pódio na terceira posição.

Foi a vitória número 89 da carreira do britânico, que persegue o recorde de Michael Schumacher com 91 triunfos na F1. A vitória em Spa-Francorchamps foi a quinta de Hamilton na temporada em sete corridas disputas. Marcou também a segunda dobradinha da Mercedes nas corridas em 2020.

A corrida foi marcada por um forte acidente de Antonio Giovinazzi, que acabou envolvendo também George Russell. O italiano da Alfa Romeo perdeu a traseira do seu C39 na saída da curva 13 e acertou as proteções, voltando à pista e obrigando Russell desviar. O piloto da Williams quase acertou uma roda solta de Giovinazzi e acabou batendo nas proteções. O incidente trouxe o único Safety Car do dia.

Daniel Ricciardo foi o quarto colocado e assegurou o ponto extra pela volta mais rápida na última das 44 voltas da corrida em Spa. Esteban Ocon, companheiro de equipe do australiano na Renault, terminou em quinto – no melhor resultado do ano da Renault.

Alexander Albon foi o sexto colocado no segundo RB16, depois de ser superado por Ocon na volta final.

Lando Norris, da McLaren, ganhou três posições na corrida e terminou em sétimo. Carlos Sainz, companheiro de equipe do britânico, não largou devido à problemas com o sistema de exaustão na volta de formação.

A oitava posição coroou uma boa corrida de Pierre Gasly. O piloto da AlphaTauri optou por uma estratégia alternativa quando o Safety Car entrou na pista em decorrência do acidente de Giovinazzi.

sábado, 29 de agosto de 2020

HAMILTON É POLE NA BÉLGICA E DEDICA FEITO AO ATOR CHADWICK BOSEMAN

 


Com mais um show de condução, Lewis Hamilton larga na pole position no GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps. O piloto da Mercedes fez questão de dedicar sua pole para o ator negro Chadwick Boseman, que faleceu na sexta-feira (28), vítima do câncer. "Este primeiro lugar vai para Chadwick", disse Lewis.

Em segundo, Valtteri Bottas completa a dobradinha da equipe alemã para Spa. Em terceiro, Max Verstappen conseguiu desbancar o adequado carro da Renault ao traçado. Por sua vez, Ricciardo levou a máquina preta e amarela à P4, junto com Ocon, na P5.

 

MARCHA CONTRA RACISMO, EM WASHINGTON

  Manifestantes se reuniram no memorial de Abraham Lincoln, em Washington © Reprodução/Twitter (@karshaner) Manifestantes se reuniram no memorial de Abraham Lincoln, em Washington

O memorial de Abraham Lincoln, em Washington, Estados Unidos, foi palco de uma manifestação pela igualdade racial nessa 6ª feira (28.ago.2020). O local foi o mesmo usado por Martin Luther King para proferir o icônico discurso “I Have a Dream” (“Eu tenho 1 sonho”) há 57 anos, em 28 de agosto de 1963.

Os Estados Unidos vivem uma onda de protestos antiracistas desde maio, quando George Floyd, 1 homem negro, foi morto asfixiado por 1 policial branco. As marchas contra o racismo ganharam nova motivação nesta semana, depois que policiais brancos atiraram 7 vezes, à queima-roupa, contra Jacob Blake, homem negro que estava desarmado. Blake foi levado ao hospital e, segundo seu pai, está paralisado das pernas para baixo.

O lema da manifestação dessa 6ª feira (28.ago) foi “Get Your Knee Off Our Necks” (“Tire seu joelho de nossos pescoços”), uma referência a morte de George Floyd. O reverendo Al Sharpton, 1 dos responsáveis pela marcha, discursou no evento. “Eles dizem: ‘Bem, todo mundo é importante’. Mas nem todo mundo tem a mesma importância na América”, disse ele.

“A razão que tínhamos e ainda temos para dizer ‘Vidas negras importam’ é que recebemos menos cuidados de saúde, como se não importássemos. Nós vamos para a prisão por mais tempo pelos mesmos crimes, como se não importássemos. Vidas negras são importantes e não vamos parar até que seja importante para todos”, falou Sharpton.

O pai de Jacob Blake estava presente na manifestação. À emissoras de televisão, ele falou que veio pelo filho e pelo pai, que estava no memorial de Abraham Lincoln no dia do discurso de Luther King. Em seu discurso, disse que todos estão cansados da violência contra negros. “Existem 2 sistemas de justiça nos Estados Unidos […]. Existe 1 sistema branco e existe 1 sistema negro. O sistema negro não está indo muito bem”, falou Jacob Blake Sr.

Familiares de outros mortos pela polícia, como Breona Taylor e Eric Garner, também deram depoimentos.

Martin Luther King III, filho mais velho de Luther King, disse que as pessoas não devem esquecer o que chamou de pesadelo americano. “Há 1 joelho no pescoço da nossa democracia e nossa nação não pode viver muito tempo sem o oxigênio da liberdade”, falou, se referindo à eleição presidencial marcada para novembro.

Em seu perfil no Twitter, Luther King III disse que “o caminho da América em direção à justiça é rochoso, mas justo“. “Hoje continuamos pelo caminho que meu pai e tantos outros traçaram. Devemos seguir a estrada até que, como disse meu pai, ‘a justiça desça como as águas e a retidão como um rio poderoso'”, escreveu ele.

PANTERA NEGRA: MORRE ATOR CHADWICK BOSEMAN

 


O ator Chadwick Boseman, estrela de Pantera Negra (2018), morreu na noite desta sexta-feira (28), os 42 anos. Ele lutava contra um câncer de cólon desde 2016, quando a doença foi descoberta. A informação foi confirmada nas redes sociais do astro de Hollywood.

Nascido na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, Chadwick começou a carreira como roteirista e diretor. Maz foi em 2003, na série Parceiros da Vida, que estreou na frente das câmeras. O primeiro sucesso veio dez anos depois, como Jackie Robinson em 42 - A História de uma Lenda

O astro entrou para a história de Hollywood ao dar vida ao primeiro super-herói negro da Marvel na série de filmes Vingadores. O ator já estava escalado para a sequência de Pantera Negra, que seria lançada em 2022.

 

29 DE AGOSTO: DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE LÉSBICA

 


A data instituída no primeiro Seminário Nacional de Lésbicas (Senale) ocorrido em 29 de agosto de 1996, no Rio de Janeiro, por ativistas do Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (Colerj), marcou o dia em defesa das mulheres lésbicas.  

A maioria das mulheres lésbicas no Brasil ainda ocupam espaços restritos na sociedade. Além de sofrerem o preconceito devido à orientação sexual, mulheres negras e lésbicas padecem de uma discriminação mais opressora.

No Brasil, o feminicídio (homicídio contra mulheres) cresceu 21% entre 2003 e 2013, de acordo com o Mapa da Violência de 2015. O aumento da violência tem sido uma constante contra as mulheres, principalmente pela orientação sexual.

 

MORRE JOE RUBY, CRIADOR DO SCOOBY-DOO

O americano Joe Ruby (Joseph Clemens Ruby) e Ken Spears criaram Scooby-Doo para os estúdios Hanna-Barbera, em 1969 — há 51 anos. Joe Ruby morreu na quinta-feira, 27, na Califórnia, Estados Unidos, aos 87 anos. De causas naturais, informou a família.

A carreira de Joe Ruby na animação deslanchou como técnico da Walt Disney Productions, mas ele se tornou famoso como contratado dos estuúdios Hanna-Barbera.

A série Scooby-Doo estreou no canal CBS, com imenso sucesso. Criticava-se, à época, a maioria dos desenhos animados, que seriam violentos. Scooby-Doo trouxe a graça, o humor para os desenhos e foi um sucesso imediato. Um sucesso internacional. Os autores criaram uma espécie de história de detetives, ao qual associaram o sobrenatural — ou falso sobrenatural —, para crianças, mas duvido que algum adulto, os de bom senso e capacidade de rir, não tenha visto ao menos algum episódio.

Numa entrevista, Joe Ruby disse que os criadores de Scooby-Doo pensavam que a série duraria uma temporada, mas, surpresos, acabaram por entender que haviam forjado um personagem quiçá permanente e universal.

Scooby-Doo é um cachorro e tem amigos humanos, como Norville “Salsicha Rogers, Fred Jones, Daphe Blake e Velma Dinckley. Os garotos são ótimos, mas Scooby Doo é o astro, aquele que enche a tela, não só pelo tamanho, mas por sua graça tão atrapalhada quanto a de seu dono, o Salsicha. Talvez, sem a pretensão, Scooby Doo seja o dono do Salsicha.

O sucesso do desenho levou a dois filmes com atores de carne e ossos, sob a direção de Raja Gosnell.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

MORRE ARNALDO SACCOMANI

 


Arnaldo Saccomani, produtor musical e mais recentemente jurado dos programas Ídolos, Astros e Qual é o Seu Talento? da SBT faleceu na madrugada da quinta-feira (27) vítima de insuficiência renal - ele havia dado início ao processo de hemodiálise em julho do ano passado. Saccomani estava em seu sítio, na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo, e deixa a esposa Vera e duas filhas. O velório aconteceu até meio dia da quinta no Cemitério Memorial Parque Paulista em Embu das Artes.

Arnaldo era um nome de peso nos bastidores da música nacional. Com uma carreira de mais de 50 anos na indústria fonográfica, Saccomani foi responsável pela trajetória musical de nomes como Ronnie Von, Tim Maia, Os Mutantes, Fábio Jr. e Os Travessos, além de produzir álbuns também para Rita Lee e o cantor mexicano Luís Miguel. Nos anos 90, foi ele o responsável por intermediar a conversa entre os Mamonas Assassinas e a gravadora EMI, que alçaria o grupo ao sucesso.

Na TV, Arnaldo Saccomani atuou como diretor musical da teledramaturgia do SBT: suaparticipação incluiu novelas como Carrossel, Chiquititas, Cúmplices de Um Resgate, Carinha de Anjo e As Aventuras de Poliana. Mais recentemente, Saccomani fez o papel de jurado em uma série de realities musicais, onde ganhou a fama de crítico mordaz e impiedoso.

 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

14 ANOS DA LEI MARIA DA PENHA NO PROGRAMA NEM MAIS NEM MENOS

 Domingo 09/08 ao vivo das 8h às 10h, Programa Nem Mais Nem Menos da Rádio Brasil Sul, com Sueli Galhardi e Zezinho fisioterapeuta, terá como tema: ”As várias faces da COVID-19- 14 anos da lei Maria da Penha: quais são os avanços para as mulheres e toda a sociedade?” 

Convidado: 1) Ferdinando Zapparoli Graduação em Física pela Universidade Estadual de Londrina (1994) Doutor em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina (2017). Atualmente é professor de Matemática e Psicanálise. Físico e Psicanalista no Instituto Lalangue Participações especiais:

 2) Amarílis Picarelli Cordioli Graduada em direito pela UEL. Ingressou no Ministério Público em 1999. Assumiu a 29a. Promotoria de Justiça de Londrina em setembro de 2019 e será a promotora do novo Juizado de de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Londrina 

 3) Silvia Liberatore Relações Públicas com doutorado em Cultura e Comunicação pela PUC/SP. Professora universitária, em graduação e pós-graduação de Relações Públicas e Relações Internacionais. Representa a Associação Portal da Luz e o CONRERP2 no Conselho Municipal de Cultura de Paz. 

 4) Euclides Lunardelli Filho - Engenheiro Civil e Psicólogo pela UEL .Especialista em Dep. Química pela UNIFESP. Foi psicólogo voluntário na Associação Londrinense de Saúde Mental e coordenador de grupo de usuários no Amor Exigente. Foi conselheiro no Conselho Municipal de Saúde de Londrina. Atuou na formação de professores, em escolas municipais em Londrina. Atua como psicoterapeuta de jovens e adultos. 

Acesse: www.radiobrasilsul.com.br e assista ao vivo WhatsApp 99910-0510 ou ainda pelo telefone (43)3378-2100. Acesse: www.radiobrasilsul.com.br e assista ao vivo WhatsApp 99910-0510 ou ainda pelo telefone (43)3378-2100.

MORRE APRESENTADORA XÊNIA BIER

 

Morreu nesta segunda-feira, 24, a apresentadora Xênia Bier, em São Paulo. 

A paulistana Xênia Bier nasceu Vilma Barreto, em 1935, e fez sua carreira na televisão, passando por diversas emissoras.

A jornalista teve importante participação em diversos programas, sempre analisando temas atuais e polêmicos.

Além de se notabilizar por seus comentários nos programas de variedades, Xênia também tentou a carreira de atriz, participando de algumas produções da TV Cultura, em novelas como As Professorinhas, Escrava do Silêncio e O Moço Loiro.

Mas seu forte foi mesmo dar sua opinião sobre temas variados, na Band, comandou o Xênia e Você, mas ganhou o público com sua participação no TV Mulher, da Globo, entre 1981 e 1984. Passou também pelo Mulher 88, da TV Manchete, e o tradicional Mulheres, da TV Gazeta, lado de Ione Borges.

 

ARTE BRASIL: ENTREVISTA COM JORGISNEI REZENDE

O blog Arte Brasil tem a grata satisfação de conversar com o músico, pesquisador e educador Jorgisnei Rezende que fala sobre sua atuação na educação, cultura e esportes e relevantes projetos com dimensão nacional.

Formado em Música pela Universidade Estadual de Londrina, ele tem seu nome fortemente ligado à educação musical e à pesquisa como o excelente livro em que biografa o Maestro Othônio Benvenutto.

 

a)     Prezado Jorgisnei Rezende é um prazer ter você no blog Arte Brasil. Conte um pouco sobre sua infância e seu inicio na música

            Nasci e cresci na Região Leste de Londrina, em uma época onde as ruas espalhavam poeira pelos ares e o verde das plantações fazia parte do cenário, porém, nesse tempo longínquo, lembro que da noite para o dia aquele cenário ficou repleto de “cadáveres” de pés de café, vitimados pela geada negra que praticamente dizimou aquele  “ouro verde” que tanto contribuiu para o crescimento vertiginoso de Londrina.

 

            Aos poucos aqueles terrenos castigados foram sendo ocupados por pessoas, que vieram também plantar seus sonhos naquela região e havia também um pequeno terreno “abandonado”, mas de certa forma generoso, que acolhia os sonhos de muitos garotos, entre eles os meus, de se tornarem jogadores de futebol.

 

            Cresci com esse ideal e cheguei a treinar no Londrina até os 19 anos, quando uma lesão séria no meu joelho acabou sepultando qualquer possibilidade de continuar alimentando aquela ambição. Era uma época em que eu ajudava meu pai e inclusive estava sem estudar, com o Ensino Fundamental incompleto.

 

            Estando a situação apertada, comecei a trabalhar em uma metalúrgica como ajudante geral e resolvi fazer do estudo um parceiro das minhas lutas e ele nunca mais me abandonou. Quando falo para os meus alunos sobre a importância da educação, falo com propriedade, pois foi através dela que percebi que o mundo é muito mais do que se vê e se pensa e o futuro almejado é uma conquista que se constrói a cada dia de vida através da perseverança.

 

            Em relação à música, posso dizer que não tive uma iniciação musical formal na infância, mas é importante destacar que as sonoridades sempre me encantaram, desde os sons da natureza até outros sons presentes no cotidiano, alguns marcantes como o timbre de tenor do meu pai que cantava músicas do Nelson Gonçalves, Orlando Silva e outros. Lembro não só de sua voz, mas também da emoção com que cantava. Minha mãe também vivia cantarolando e relatava muitas histórias da sua juventude, de seus textos criativos que encenava com um “grupo de teatro” na rua e de quando ia com suas irmãs para participarem cantando em programas de auditório da Rádio Londrina. Em casa, um repertório diversificado “jorrava” de uma radiola antiga e de certa forma, isso também contribuiu para ampliar a minha sensibilidade musical.

 

            Enalteço muito meus pais, pois apesar das inúmeras dificuldades, se permitiram participar do Coral da Universidade Estadual de Londrina, que era regido pelo Maestro Othonio Benvenuto. Esse fato também marcou a minha infância, pois comecei a vê-los também como artistas,  pois participavam de apresentações, festivais e participaram até da gravação de um LP com o coral e ali talvez comecei a ter a percepção do quanto a música é valiosa na vida das pessoas e o quanto pode transformar vidas. 

 

            Com certeza todo esse conjunto de coisas contribuiu para a minha opção pela área musical no futuro e incorporou mais sensibilidade à minha visão de mundo.

 

 

b)    Você fez licenciatura em música na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Fale um pouco da experiência na área acadêmica.

 

Eu fiz parte da primeira turma de Licenciatura em música da UEL, em 1993. Naquela época, eu cantava em um coro amador, o Madrigal de Londrina, regido pelo Maestro Othonio Benvenuto e trabalhava em uma loja de calçados como digitador e realizava outros trabalhos extras nessa área, que ajudavam nas despesas de casa.               

           

Diante daquela realidade, trabalhar com música ainda era algo distante e acabei entrando no curso sem saber o que esperar dele, mas algo me impelia estar ali. Sentia necessidade de emanar coisas boas para a sociedade e intuí que a música poderia me ajudar a pavimentar esse caminho.

 

            Nesse sentido, algo determinante ocorreu no segundo ano do curso, quando  em uma “despretensiosa” aula de História da Música, com a professora Janete El Haouli, ouvi falar pela primeira vez sobre etnomusicologia e à medida que ela apresentava também os exemplos sonoros, senti despertar um interesse muito grande em conhecer mais sobre aquele assunto.

 

            Na mesma semana, atendendo à grata “provocação” da professora, me vinculei ao Núcleo de Música Contemporânea, que era coordenado por ela e de grande relevância para aquele meio acadêmico. Ali desenvolvi estudos teóricos que me motivaram a realizar um trabalho de campo com os índios kaingangs e seu universo sonoro.

            Esse desejo se transformou em um projeto interdisciplinar que contou também com participação da professora Kimiye Tomasino, doutora em antropologia indígena e professora da UEL  e essa soma de esforços culminou em um material didático que foi distribuído nas escolas bilíngues kaingangs de São Paulo e Estados do Sul do Brasil. 

 

 

            Considero importante esse relato, pois essa experiência ampliou e trouxe novas nuances para a minha visão sobre a música e também sobre a educação musical, pois eu tinha a opção de passar pelo curso e seus conteúdos (que não eram poucos) e seguir adiante, mas percebi que além disso, eu deveria promover esse enriquecimento para a minha vida, mesmo naquele momento tão intenso.

 

            Nos anos finais do curso comecei a atuar como professor/regente de coral trabalhando com funcionários de uma empresa e tinha como objetivo, além dos conteúdos musicais, a geração coletiva de bem estar e elevação da auto estima dos participantes. Era um trabalho modesto, sem grande renda, mas a alegria daquelas pessoas era computada como um ganho para a minha vida também, e isso me motivava.

            À medida que as demandas surgiam, sempre busquei me capacitar para atendê-las da melhor maneira e foi assim que cursei uma especialização em Educação Especial em 2007, depois de trabalhar com música na APAE de Ibiporã e perceber o quanto poderia contribuir com essa área através da minha formação musical, mas  faço questão de ressaltar que atuar na Educação Especial é uma eterna aprendizagem.

 

            Anos mais tarde, cursei outra especialização, só que em Gestão Escolar, e ocorreu em um período onde já estava atuando na equipe de gestão de um Colégio Estadual, e segui o principio de buscar no meio acadêmico a complementação dos conhecimentos necessários para melhor exercer aquele papel na escola, visando também contribuir com a sociedade, até porquê, tirando a pós da Educação Especial, toda minha formação desde a educação básica, ocorreu em instituições públicas e sempre me senti compromissado com isso, de retribuir essas oportunidades compartilhando o que aprendi, principalmente para pessoas expostas à vulnerabilidade social. 

 

            Depois, ainda no ambiente escolar, tive a oportunidade de integrar o PIBID (Programa de Iniciação à docência), onde jovens acadêmicos do Curso de Música da UEL  iam ao Colégio para conhecerem a realidade do contexto escolar e desenvolverem projetos que não só beneficiavam os alunos do Colégio, mas também agregava uma rica experiência na formação deles, para futura docência.

 

 

c)     Como você enxerga a importância da educação musical nas escolas públicas e por meio dos projetos culturais que ganharam inclusive importância social em vários cantos do Brasil?

 

            Considero de grande importância a existência da educação musical nas escolas desde as séries iniciais, pois é uma fase onde as crianças  demonstram uma maior espontaneidade para cantarem, dançarem, explorarem as sonoridades dos objetos e vivenciarem essas experiências com maior intensidade, sem bloqueios e exercitando a musicalidade em sua essência.

 

            Para isso, creio que deveriam existir políticas que incrementassem a formação de um número maior de professores de música para atenderem essas demandas, pois a Educação Musical é algo sério e não pode ser tratada como passatempo e lazer, apesar do caráter lúdico em muitas atividades. 

 

            É claro que as necessidades vão além dos recursos humanos, pois na maioria das escolas faltam espaços físicos adequados e instrumentalizados para a prática da educação musical.

 

            Mas enquanto isso não acontece, o que podemos fazer? Infelizmente, nem todas as regiões do nosso país possuem um Curso de Música excelente como o da UEL e que tenho tido a oportunidade de presenciar a atuação dos estagiários do referido curso em algumas das minhas turmas de Arte, no Ensino Fundamental.

            Equipados com instrumentais diversificados e metodologias inovadoras, não produzem somente sonoridades com os alunos, mas conseguem fazer  com que seus rostinhos expressem alegria no olhar e confiança de que são capazes de ir além do que acreditam através da música.

 

            Bem, existem fartos estudos que discorrem sobre a importância da música no processo da formação de um indivíduo e creio não haver dúvidas sobre isso, mas chamo a atenção para algumas consequências da ausência da educação musical na vida desses  jovens.

 

            Por exemplo, sempre realizo uma sondagem nas minhas aulas de arte sobre o gosto musical dos alunos e pergunto também se existe a vontade de aprenderem tocar algum instrumento ou cantarem e é espantoso como muitos manifestam o sonho de aprenderem  tocar violão, bateria, flauta, teclado, violino, cantar etc Ou seja, existe essa vontade de interagirem com a música de alguma maneira, que vai além da escuta, mas acaba sendo um desejo reprimido por várias circunstâncias.

 

            Interessante que muitos utilizam o verbo “sonhar” para expressarem esse desejo e muitas vezes são sonhos que os acompanham a vida inteira e acabam não se concretizando, tanto que não é raro encontrarmos adultos que manifestam certa frustração por nunca terem conseguido aprender a tocar um instrumento e até se convencem de que aquilo não seria para eles.

 

            Me sirvo desse cenário, para enaltecer a importância dos projetos culturais espalhados por esse Brasil imenso, pois de certa forma preenchem essa lacuna deixada pela ausência da educação musical no espaço escolar e também contribuem para a manutenção, resgate e fruição dos riquíssimos bens culturais existentes nas diversas regiões brasileiras.

 

            Um sinal dessa importância está no fato de que em vários momentos, a Escola recorre aos projetos sociais para realizarem apresentações para os  seus alunos, dentro de um contexto de prática pedagógica. Muitas vezes também, o projeto está inserido dentro da comunidade local e ajuda a acompanhar a vida escolar do aluno, se tornando mais uma voz nessa nobre missão de ajudar esse educando em sua trajetória acadêmica e de vida.  

 

            Essa integração se mostra importante, embora se deva ressaltar que uma continuidade sempre dependerá do “fôlego” das pessoas idealistas e abnegadas envolvidas e que às vezes, com recursos limitados, conseguem fazer “milagres” e diferença na vida de muitos jovens. Cito como exemplo o inspirador projeto “Batuque na Caixa”, do meu amigo Aldo Moraes, que há mais de 20 anos está presente na vida de milhares de jovens de Londrina e mantém essas chama viva com muita garra. Que ela nunca se apague, assim com a de outros relevantes projetos culturais existentes em nosso país.   

 

 

d)    Você fundou e coordenou o importante projeto (de musicalização desenvolvido dentro da ONG) Sentinelas de Londrina. Como foi o inicio e o trabalho com as crianças?

 

            Em cada local onde tive a oportunidade de desenvolver um trabalho com música, existia a confiança na minha capacidade de contribuir com algo. Nessas ocasiões, sempre me vi como um visitante descendo em uma estação, com coisas na bagagem para oferecer, mas também ansioso para receber novos conhecimentos das  pessoas, além de seus anseios.

 

            Assim ocorreu com o Projeto Musicalização na Escola. De certa forma já conhecia a realidade da região, pois ali nasci e cresci e sabia da grande vulnerabilidade social existente e como isso refletia no contexto escolar e isso me impulsionou  a querer trabalhar com aquelas crianças.

 

            Com o projeto escrito, tive a oportunidade de apresentá-lo para uma ONG (Sentinelas de Londrina) que era constituída por empresários e profissionais liberais que objetivavam  prestar assistência para famílias que conviviam  com a extrema pobreza da Região Leste de Londrina.

 

            Essa ONG foi um grande achado, pois eram pessoas desprovidas de qualquer interesse pessoal em se promover e tive total autonomia de direcionar o trabalho visando o protagonismo de cada aluno envolvido e respeitando o tempo de cada um. Nesse sentido, como contrapartida, tive o cuidado de realizar um relatório mensal de todo esse processo, não só com as atividades desenvolvidas a cada mês, mas também sobre os resultados, as dificuldades, seus enfrentamentos e superações. Essa transparência contribuiu para fortalecer um vínculo de confiança, que acabou se eternizando com laços de amizades.

 

            Os recursos eram modestos, porém o suficiente para viabilizar o necessário para a realização das atividades de musicalização que ocorriam no contra turno, no período matutino e vespertino.

 

            Importante ressaltar que foi um trabalho que começou do zero e só foi possível também pela parceria com o Colégio Ana Molina Garcia, que disponibilizou  o espaço físico e auxiliou no contato com os alunos e as famílias. Aquele espaço acabou transformado  em uma Escola Oficina de Música para os alunos.

 

            Com o apoio da comunidade escolar o projeto se consolidou e foi extraordinário  o que conseguimos realizar durante os 6 anos de existência. No início as atividades estavam mais voltadas para a sensibilização musical, tendo a música como um “meio” para se construir valores, mas naturalmente, com o crescimento qualitativo do grupo, a preparação das músicas atingiu um outro patamar de exigência para os alunos mais antigos e o processo de musicalização passou a ocorrer principalmente pela prática coral, resultando na gravação de 3 CDs e em inúmeras apresentações em Londrina e outras cidades do Paraná.

            Foi uma experiência rica para todos os envolvidos, de grande intensidade e de muitas aprendizagens. Tenho orgulho de ter feito parte dessa história que beneficiou inúmeras crianças, suas famílias e o Colégio Ana Molina Garcia.

 

 

 

e)     Quais desafios e conquistas você vivenciou no trabalho do Sentinelas de Londrina?

 

            Bem, sempre existirão  pequenos e grandes desafios quando se propõe a participar efetivamente do processo de formação de alguém, principalmente com um grupo tão heterogêneo quanto aquele, onde muitas crianças  e respectivas famílias nem tinham ideia do que serviria a musicalização para a vida delas.

 

            Então o primeiro desafio foi tentar preservar a essência do projeto de musicalização, para que a educação musical ocorresse efetivamente, pois no início se passava a ideia de que aquela era apenas uma ação voltada para tirar as crianças das ruas e prestar  assistência às famílias dos alunos.

 

            Eu sabia que a identidade musical do projeto dependeria do meu direcionamento e que  deveria ser esculpido no tempo, desde o cuidado com a escolha do repertório, no trato das angústias diárias dos alunos e outras situações imprevisíveis que requeriam sensibilidade para saber  priorizar o que seria mais importante em cada momento. Creio que tudo isso contribuiu para a consolidação crescente de um sentimento de pertencimento, que tenho certeza, se mantém até os dias de hoje nas lembranças de muitos ex-alunos.

 

            Com esses cuidados a motivação, a confiança e a auto estima foram florescendo e creio que foi possível desenvolver, dentro do possível,  um trabalho de qualidade na educação musical daqueles alunos.

 

            As conquistas são proporcionais aos desafios superados e tenho muito o que me orgulhar do que aquele grupo foi capaz de realizar. A vida não era fácil para ninguém, mas tínhamos motivos para confiar que conseguiríamos vencer os desafios, pois tínhamos uns aos outros.

 

            Essa força do grupo foi uma grande conquista e isso favoreceu muito o nosso trabalho. E quando falo do grupo, me refiro a todas as pessoas que estavam envolvidas, desde os alunos, as famílias, a direção do colégio, os mantenedores da ONG e faço aqui uma menção especial para o seu presidente, o Dr. Elezer da Silva Nantes (in memorian) e ao Sr. Otávio Scandelae, que com suas respectivas famílias, tornaram-se grandes entusiastas do nosso trabalho e grandes amigos e parceiros dos sonhos concretizados naquele período. 

 

            Creio que para o Colégio, o projeto também foi uma conquista, pois as ações desenvolvidas contribuíram para ajudar a amenizar um pouco do estigma negativo que sempre esteve ligado à imagem da instituição. Felizmente, com o tempo, passou a ser motivo de orgulho para aquela comunidade escolar, dando mostras que o projeto conseguiu cumprir seus objetivos.

 

                Para mim, um sentimento de grande satisfação, pois participar dos sonhos daquelas pessoas, me permitiu  viver parte dos meus sonhos.

 

 

 

f)      O músico, professor e pesquisador Tiago Mayer desenvolveu um trabalho acadêmico sobre o projeto Sentinelas de Londrina. Como foi rever a trajetória deste trabalho e colaborar com a pesquisa?

 

 

Foi uma grata surpresa esse interesse do Tiago Mayer, grande músico, professor e pesquisador e que me deu a oportunidade de retomar aquelas gratas lembranças, que de certa forma ainda se mantinham frescas na minha memória e no meu coração.

 

Quando entrou em contato comigo pela primeira vez, o projeto não existia mais e  até por conta da rotina intensa com aulas e outros projetos, ainda não tinha conseguido fazer  um “estranhamento” sobre tudo o que havia ocorrido durante o Projeto de Musicalização e esse olhar externo lançado pelo Tiago, com fundamentação teórica e  outros aspectos, agregou mais valor aos resultados alcançados durante os trabalhos.

 

Sempre fui muito intuitivo nas minhas ações, pois diante das necessidades dos alunos, muitas vezes tive que me reinventar e com a confiança e empenho de todos, conseguíamos alcançar os resultados e por isso, foi  importante a leitura que o Tiago fez sobre o trabalho, pois ele captou a essência da proposta e do educador e acreditou e me convenceu que seria um trabalho que valeria a pena ser compartilhado. Me sinto lisonjeado por seu interesse, que valoriza  não só o meu trabalho, mas também a capacidade de realização de todos os alunos durante o projeto e que marcou aquela fase da vida deles.

 

 

g)     Jorgisnei, o que você faz atualmente?

 

            Atualmente leciono na Rede Estadual de Ensino do Paraná, onde atuo como professor de Arte, com turmas do Ensino Fundamental e Médio, no Colégio Ana Molina Garcia.

 

            Atuo também na Educação Especial, onde desde 2017 atendo alunos com Altas Habilidades e Superdotação, na Sala de Recursos do Colégio Vicente Rijo, onde funciona também o NAAH/S (Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação).

 

            E continuo me encantando com todos os alunos que me instigam a buscar o meu melhor para contribuir com suas necessidades educacionais.

 

h) Agradecemos a gentileza da entrevista. Deixamos o espaço aberto para que você mande um recado aos nossos leitores:

 

            Agradeço imensamente a oportunidade de falar um pouco do meu trabalho, das minhas realizações e da importância que a educação musical teve na vida das crianças que participaram do Projeto de Musicalização.

 

Ações como as minhas ocorrem no Brasil todo e muitas vezes parecem invisíveis, pois não percebemos a importância de termos uma proximidade maior com esses trabalhos, não só para usufruir dos resultados, mas também para ajudar a construí-los. 

 

Quem sabe um dia possamos ter políticas que permitam nossas crianças terem acesso à uma educação musical de qualidade nas escolas e que os  projetos culturais sérios tenham condições de manterem seus trabalhos, que de alguma maneira  já demonstraram o quanto podem ser significativos e úteis para uma sociedade melhor.

 

 

O jornalista Aldo Moraes (MTB 0010993/PR) entrevistou Jorgisnei Rezende