segunda-feira, 18 de abril de 2016

PRÁ FORA DO BAÚ: DISCO AFRICA DEUS, DE NANÁ VASCONCELOS







Faixas:
From "Africadeus" (1973):
01. Africadeus
02. Aboios
03. Seleção de Folclore

From "Naná Vasconcelos" (1972):
04. No Sul do Polo Norte
05. No Norte do Polo Sul
06. Aranda
07. Toshiro
08. Baião do Acordar
09. Garimpo
10. Tiro Crusado
11. Pinote



Uma voz distinta na percussão brasileira e mundial

Quando se pensa em Naná Vasconcelos, vem som. Uma figura brasileira que passou uma boa parte desses últimos 30 anos em Nova York, mas que não mudou seu figurino para um Armani, para melhor representar a nata da música instrumental brasileira. Afinal, o percussionista pernambucano nascido em 1945 certamente ainda preserva a cor pastel de suas lembranças de infância, quando tocava com o pai em uma bandinha marcial em Recife.

Um salto nas décadas e vemos Naná uma figura mundial, que ultrapassou a mera barreira da percussão. É um criador que já foi eleito sete vezes Melhor Percussionista do Mundo pela revista americana Down Beat. E grande parte desse feito foi conseguido graças a sua projeção no exterior, que sempre soube reconhecer o talento acima das vertentes comerciais da música.

Curioso e lembrando uma figura mística - mas não se engane, é um perfeito administrador de sua carreira -, Naná não tem o pé na hermetismo do erudito, pois é possível ouvir em sua atitude Músical a rebeldia de um Jimi Hendrix. Essa rebeldia e perfeita sintonia com o som e silêncio se percebe no instrumento que mais o caracteriza, o berimbau. Sozinho - ou com todos que o ouvem -, consegue criar um ambiente sonoro único em que notas da corda esticada do instrumento se misturam com sua voz, também dotada de assinatura singular.

Vida no exterior

Mas Naná não resume-se ao instrumento longitudinal - toca praticamente todos os instrumentos percussivos que lhe chega às mãos, e de forma pessoal, o que é extremamente difícil no gênero. Naná não é o percussionista de estúdio que os estrangeiros esperam de um brasileiro, que coloca um pandeiro aqui, uma tumbadora alí. Mas a sonoridade de Naná não nasceu de uma jam para outra. O músico se mudou para o Rio de Janeiro no final da década de 60, para trabalhar com Milton Nascimento. Uma união em 1970 com o saxofonista Gato Barbieri o tirou de nossas fronteiras pela primeira vez - o que se tornaria uma constante anos depois. Bom, Naná foi para o mundo.

Fixou residência em Paris, por cinco anos. O primeiro disco saiu dessa fase com o nome Africadeus. Amazonas saiu quando retornou ao Brasil, em 1972. Daí em diante, ligou-se a outra figura única na música brasileira, para uma parceria de oito anos e três discos: Egberto Gismonti. São eles: Dança das Cabeças (1976), Sol do Meio Dia (1977) e Duas Vozes (1984). A escapulida para fora do Brasil tornou a acontecer, desta vez para Nova York. Para Naná, o período com o grupo Codona (com Don Cherri e Colin Walcott) seria o mais gratificante. Estando na meca mundial do jazz, passou a integrar os mais variados grupos, sempre contribuindo, mais do que tudo. Com o jazzísta Pat Metheny foi assim - bem como com B.B. King, o violinista Jean-Luc Ponty e o Talking Heads.

Percpan

Ficou longe do Brasil por 10 anos, voltando em 1986. A partir desse momento, começava sua história com um festival anual de música experimental chamado Panorama Percussivo Mundial (Percpan) - que no início contemplava apenas a percussão pura. Dois anos depois, dividiria a direção com Gilberto Gil do festival, que deu uma cara mais abrangente ao Percpan. Apesar do aparente afastamento das raízes brasileiras, Naná sempre esteve envolvido com projetos sociais, como o ABC das Artes Flor do Mangue (com crianças carentes). Ainda: seu toque percussivo e vocal pode ser ouvido em diversos álbuns brasileiros como os de Marisa Monte, Caetano Veloso, Milton Nascimento, além de uma infinidade de amigos/parceiros.

Um de seus mais recentes trabalhos - e Naná vive realizando sua trajetória profissional Músical para caminhos que somente o próprio sabe onde -, o CD Fragmentos, de 1998, traz a participação do velho companheiro de bem-sucedidos discos, Egberto Gismonti. Mais alguns para a lista atual de trabalhos de Naná: trilha para a peça Othello, na Alemanha, A Sagração da Primavera, na França, e a trilha para o espetáculo Você me Faz Sorrir. Este ano, está em fase de finalização da edição 2001 do Percpan, agendado para setembro. Mas a história do pernambucano de 56 anos não acaba aí - vai longe, até onde a percussão, a imaginação, o silêncio e tudo mais levar.

Texto de Ricardo Ivanov, publicado no site Terra.


LINK PARA OUVIR O DISCO COMPLETO:

https://www.youtube.com/watch?v=C_B97kDmK4M

Nenhum comentário:

Postar um comentário