O compositor norte-americano Elliot Carter, cuja obra teve uma consagração tardia mas que depois foi visto como um dos principais nomes da música do seu país na segunda metade do século XX, morreu no dia 5 de novembro, em Nova Iorque aos 103 anos.
Carter nasceu nesta cidade a 11 de Dezembro de 1908, exactamente no mesmo dia em que no Porto nasceu Manoel de Oliveira, e um dia depois de Olivier Messiaen, o compositor francês que viria também a marcar a música do século XX.
Os três vultos foram homenageados na passagem do centenário em Dezembro de 2008 numa série de concertos e um debate na Casa da Música, num programa em que o Remix Ensemble e a Orquestra do Porto interpretaram as peças de Carter, Tempo e Tempi, Réflexions e Three Occasions for Orchestra.
No dia dos seus cem anos, Elliott Carter foi homenageado no Carnegie Hall de Nova Iorque, num concerto com a Orquestra Sinfónica de Boston. Era o registo de uma consagração nacional e internacional, que, contudo, tinha chegado tardiamente à carreira do compositor, que só começou a ser verdadeiramente notado a partir da segunda metade da sua vida.
O seu primeiro Quarteto de Cordas composto em 1951, distinguido com o primeiro prémio num concurso de música em Liège, na Bélgica, assinala de certo modo o início da atenção da crítica musical à sua produção, mesmo se ela vinha já do final dos anos 1930.
A conquista de dois prémios Pulitzer em 1960 e 1973, respectivamente pelos segundo e terceiro quartetos de cordas, vem finalmente inscrever o nome de Carter no panteão da música.
A sua criação voltaria a cruzar-se com momentos de consagração mediática em anos mais recentes, com nova nomeação para o Pulitzer, em 2005, pela peça Diálogos, e com a entrada na corrida aos Grammy, no ano seguinte, com o seu Concerto Boston a disputar a categoria de melhor composição clássica contemporânea.
Pelo meio, Carter viu ser-lhe atribuída, no seu país, a Medalha Nacional das Artes (1985), e foi igualmente distinguido em vários países da Europa, nomeadamente em França, cujo governo lhe atribuiu a comenda da Ordem das Artes e das Letras. O compositor, de resto, fizera parte da sua formação musical em Paris, onde foi discípulo de Nadia Boulanger.
No seu país, Elliott Carter começou por estudar Literatura em Harvard, mas virou-se depois para a música, pela mão de Charles Ives. Em 2000, numa entrevista à Radio BBC 3, Carter recordou um acontecimento ocorrido nos anos 1920, e que considerou ter tido uma influência determinante na sua opção pela música – assistir a um concerto com A Sagração da Primavera (1913), de Igor Stravinsky. “Foi um escândalo. Toda a gente abandonou a sala e as pessoas ficaram aterrorizadas. Provavelmente foi por isso que eu gostei. Em todo o caso, eu já era um entusiasta da música moderna desde o início da minha adolescência”, disse o compositor.
Segundo a enciclopédia Larousse, a música de Elliott Carter, que seria marcada também por compositores como Hindemith e Copland, teve um primeiro período de “indefinição estilística” entre a composição dos primeiros ballets, Pocahontas (1939) e Minotauro (1947), altura em que também escreveu uma primeira sinfonia e uma sonata para piano.
Com o já referido Quarteto de Cordas, de 1951, Carter encontrou a sua voz. Ao longo das décadas seguintes, irá produzir com regularidade, mesmo que o conjunto da sua obra tenha somado pouco mais de uma centena e meia de peças. Mas continuou a compor até ao fim: a sua obra mais recente, Diálogos II, teve a primeira audição mundial em Itália, no mês passado; e a peça Instances tem estreia anunciada para o próximo mês de Fevereiro, num concerto da Orquestra Sinfónica de Seattle.
Paralelamente com a carreira de compositor, Elliott Carter leccionou no Instituto Peabody em Baltimore, na Universidade de Columbia e no Queens College de Nova Iorque.
No seu desaparecimento, que foi noticiado pela Boosey & Hawkes, esta sua casa editora nota que “a grande gama e a diversidade da música de Elliott Carter tem, e vai continuar a ter influência sobre inúmeros compositores e intérpretes do mundo inteiro”.
Carter “vai fazer-nos falta a todos, mas jamais esqueceremos o seu génio, a sua inteligência e a sua obra magnífica”, diz ainda o comunicado da Boosey & Hawkes, citado pela AFP.
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