sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

MÚSICA BRASILEIRA PERDE WALTEL BRANCO

Morreu no Rio, aos 89 anos, no último dia 28, de diabetes, o violonista e arranjador paranaense Waltel Branco, anunciou sua família nesta quinta-feira. Cultuado artista, ele foi arranjador de gravações antológicas do cinema (como a da trilha de "A pantera cor-de-rosa", de Henry Mancini) e da MPB (como o "Azul da cor do mar" de Tim Maia, o "Bastidores" de Cauby Peixoto e o "Faz parte do meu show", de Cazuza).

Waltel também ficou conhecido como autor dos arranjos (e às vezes, também dos temas) de trilhas sonoras de novelas da Globo nos anos 1970 ("O bofe", "Selva de Pedra", "Escrava Isaura", "Irmãos Coragem"), além de compositor e intérprete de peças para violão.

Natural da cidade de Paranaguá, Waltel veio de uma família musical — mas, quando criança, o violão ainda era tido em casa como coisa de vagabundo. Para dobrar o pai, ele aceitou estudar os clássicos. Ainda jovem, veio para o Rio de Janeiro, para gravar com o acordeonista italiano Claudio Todisco.

1963, Waltel foi trabalhar com Henry Mancini como um dos arranjadores da trilha do filme "A Pantera Cor de Rosa". Ele retribuiria a honra com um LP, "Mancini também é samba", lançado em 1966 pelo selo Mocambo e relançado, mais de 30 anos depois, pelos americanos da Whatmusic.

A virada da vida de Waltel foi em 1965, com a inauguração da TV Globo. Convidado por Roberto Marinho, ele foi cuidar das trilhas das novelas. Às vezes, compunha os temas (caso de "Assim na Terra como no Céu", de 1971, cujo "Tema da zorra" foi regravado em 2003 no disco "Sincerely hot", do Domenico + 2), mas, na maior parte das vezes, era o arranjador das canções. Um dos seus trabalhos mais notáveis é o de "Retirantes", de Dorival Caymmi, que abria a novela "Escrava Isaura" (1976). "Ela tinha uma parte cantada que eu achei melhor que ficasse sem letra.

Em 1975, Waltel Branco lançou um curioso LP instrumental: "Meu balanço", um combinado de funk (exercitado por ele em trabalhos com Tim Maia, Cassiano e Toni Tornado), samba, jazz e lounge. O disco passou em brancas nuvens na época, mas virou sensação na Inglaterra, 20 anos depois, na badalada cena do acid jazz. "Eu estava fazendo arranjos para um disco do Roberto Carlos e havia umas horas de estúdio sobrando. Escrevi os arranjos em uma hora, e gravamos o disco com a banda em duas", contou ele ao GLOBO.
Waltel Branco, em eliminatória do concurso Violão de Ouro, em 1978 Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
Waltel Branco, em eliminatória do concurso Violão de Ouro, em 1978 Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
Outra passagem reveladora de Waltel nos anos 1970 foi quando ouviu as canções e a voz de um jovem alagoano e resolveu convencer a Som Livre a gravar um disco com ele. Era ninguém menos que Djavan, que estrearia em LP em 1976 com "A voz, o violão, a música de Djavan".

Em 2012, o paranaense foi homenageado com o lançamento do CD "O violão plural de Waltel Branco", em que composições suas foram gravadas por violonistas de renome como Guinga, Marco Pereira, Paulo Bellinati e Ulisses Rocha.

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