Picasso: mão erudita, olho selvagem
De 22 Maio a 14 AgostoCom um vasto volume de trabalhos do artista espanhol, pertencente ao Musée National Picasso-Paris,
a potente exposição organizada pelo Instituto Tomie Ohtake traz peças
que guardam uma relação muito particular de Picasso com a sua obra, já
que foram selecionadas e mantidas por ele ao longo de sua vida. Estas
obras que viveram ao seu lado integram agora a coleção do museu francês
cujo acervo picassiano é um dos mais importantes do mundo, proveniente
principalmente de duas doações sucessivas efetuadas pelos herdeiros do
pintor em 1979 e 1990. Apenas dois dos trabalhos apresentados na mostra
vieram originalmente do acervo de Dora Maar, adquiridos posteriormente
pelo museu.
Picasso: mão erudita, olho selvagem, com curadoria de Emilia Philippot, curadora também do Musée National Picasso-Paris,
é composta por 153 peças, sendo a grande maioria inédita no Brasil, que
traçam um percurso cronológico e temático em torno de conjuntos que
seguem as principais fases do artista, desde os anos de formação até os
últimos de produção. São 116 trabalhos do mestre espanhol – 34 pinturas,
42 desenhos, 20 esculturas e 20 gravuras –, além de uma série de 22
fotogramas de André Villers realizados em parceria com Picasso.
Completam a mostra 12 fotografias de autoria de Dora Maar, três de Pirre
Manciet e filmes sobre os trabalhos e seus processos de realização.
“Escolhemos aproveitar o caráter específico da coleção para esboçar um
retrato do artista que questiona sua relação com a criação, entre
fabricação e concepção, implantação e pensamento, mão e olho “, destaca
Philippot.
Conforme
afirma a curadora, a exposição fundamenta-se na relação especial mantida
pelo artista com suas próprias obras. “Esta ligação íntima e pessoal,
que irriga toda a produção de Picasso, transparece de forma diferente de
acordo com os vários períodos: retratos íntimos da mãe do artista ou de
seu primeiro filho, Paul, celebração apaixonada da sensualidade
feminina de Maria-Thèrèse Walter, denúncias intransigentes dos males
causados pelos conflitos contemporâneos, da Guerra Civil Espanhola ou da
Ocupação da França pelas tropas alemãs”, destaca Philippot. Segundo a
curadora, ainda, seja qual for o assunto abordado, por todos os lados se
percebe, além das formas, as experiências vividas por Picasso. “ Os
laços afetivos do amante, as dúvidas do homem, as alegrias do pai de
família, os compromissos do cidadão: tudo se introduzia em sua arte”,
completa.
A exposição brasileira sugere um percurso cronológico-temático em dez seções: O primeiro Picasso. Formação e influências (por volta de 1900); Picasso exorcista. As senhoritas de Avignon (processo da geometrização das formas); Picasso cubista. O violão (relação com a música); Picasso clássico. A máscara da antiguidade (a maternidade, o teatro e a dança); Picasso surrealista. As banhistas; Picasso engajado. Guernica (estudos da obra, fotos e foco na apresentação da tela em 1953 no Brasil/ 2ª Bienal de São Paulo); Picasso na resistência. Interiores e vanitas (processo de trabalho durante a guerra, vida doméstica e vaidades); Picasso múltiplo. A alegria da experimentação (da cerâmica ao fotograma); Picasso trabalhando. O Mistério Picasso (a magia de seu processo criativo na pintura); e O último Picasso. O triunfo do desejo (erotismo em todos seus estados).
A
curadora francesa ressalta ainda que, neste percurso, dois projetos
fotográficos de primeira ordem testemunham, respectivamente, a
realização de Guernica (reportagem realizada por Dora Maar), e a experiência dos fotogramas realizados em parceria com André Villers.
Marcam também a
mostra filmes que permitem ao espectador penetrar no coração da criação
do trabalho do artista. Desta maneira, o Guernica de Alain
Resnais e Robert Hessens (1949) revisita a obra do pintor através do
olhar dos desastres da guerra. Dirigido por Henri-Georges Clouzot, em
1956, Le Mystère Picasso revela a extraordinária vitalidade de seu processo criativo.
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