segunda-feira, 11 de abril de 2016

DISCO CABEÇA DINOSSAURO: 30 ANOS

Em junho deste ano o Cabeça Dinossauro completa 30 anos de lançamento! Para ir aquecendo aí vai um texto que escreví há um tempo atrás para a Rolling Stones Brasil. Enjoy

CABEÇA DINOSSAURO
Sérgio Britto 


Embora possa parecer, Cabeça Dinossauro não foi propriamente uma mudança de rumo, uma “guinada radical” na nossa maneira de pensar e fazer música.

Foi, isso sim, fruto de algo que já vinha acontecendo há algum tempo. Por exemplo : “Bichos Escrotos” é anterior à gravação do nosso primeiro disco (Titãs, 1984), que só não gravamos naquela ocasião por que a censura não permitiu. No disco que antecede o “Cabeça” (Televisão, 1985) a faixa título, “Massacre”, “Pavimentação” e “Autonomia” já apontavam também para essa direção. “Babi índio” e “Pule “, do primeiro disco, se tivessem sido gravadas com um pouco mais de qualidade, também poderiam ser vistas desse modo.

Fazer um disco com uma sonoridade e um repertório mais pesado era um desejo antigo de alguns de nós que aos poucos contaminou todo mundo. A prisão do Arnaldo e do Tony (NR: por porte de heroína) e, conseqüentemente, o relativo fracasso de Televisão são fatores extra-musicais que naquele momento talvez também tenham contribuído para essa virada.

Fizemos o disco num tempo relativamente curto: um mês para gravar e mixar. Em duas semanas já estava quase tudo pronto. As canções, os arranjos e até mesmo o formato das músicas já estavam definidos muito antes de entrarmos em estúdio. A primeira faixa a ser gravada foi “AAUU”: já tocávamos a música em shows e o arranjo estava muito bem resolvido. A última foi “O Que” e foi também a que mais deu trabalho. O arranjo mudou totalmente e aqui o Liminha teve participação decisiva: programou a bateria eletrônica, sugeriu a linha de baixo, tocou guitarra e deixou a gente fazendo uma “Jam” interminável durante dois dias até chegarmos ao resultado final. Aquilo abriu um novo horizonte para nós e nos colocou em contato com elementos que iríamos explorar bastante nos anos seguintes.

Este disco, com certeza, se não é o melhor, é um dos melhores que fizemos. Só comparável a Õ Blésq Blom e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas.

Apesar disso não me atrevo a apontar nenhuma banda que pareça ter sido diretamente influenciada por ele. Em contrapartida, Õ Blésq Blom, se não influenciou, ao menos antecipou toda a onda do Mangue Beat e a mistura de MPB e música nordestina com elementos de rock e programações eletrônicas.

Algumas curiosidades

- Os acetatos com os esboços do Leonardo da Vinci que estão na capa e na contra capa do disco vieram diretamente do museu do Louvre, trazidos por um amigo de meu pai. Antes disso, o que tínhamos eram reproduções pequenas e sem qualidade suficiente para viabilizar o projeto gráfico. As primeiras 30 mil cópias do disco foram feitas em um papel fosco e poroso muito mais caro que o normal. Generosidade do André Midani, então presidente da Warner, que nos deu total apoio antes, durante e depois da gravação atendendo a quase tudo o que pedíamos.

- A percussão na faixa “Cabeça Dinossauro” foi o Liminha que tocou. Depois de várias tentativas mais elaboradas, ele começou a improvisar - tocando nas paredes, no chão e nas colunas do estúdio - numa espécie de transe. Assim que ele acabou, todo mundo disse imediatamente: “é isso aí, do caralho!!”.

- Gravei a voz solo de “Polícia” no primeiro take, enquanto Liminha conversava sobre pesca submarina com Evandro Mesquita (talvez isso tenha me ajudado a ficar mais puto ainda). Quando fomos ouvir o resultado, eu queria regravar a voz a qualquer custo (tinha sido muito fácil), mas todos acabaram me convencendo de que estava bom.

- A voz de “A Face do Destruidor” foi gravada em cima da base tocada de trás pra frente. Quando gravamos tínhamos que pensar que aquilo ia ser ouvido dessa maneira.

- O Tony fez todos os solos importantes do disco usando uma técnica no mínimo curiosa: revezava um anel grande que ele tinha na mão direita com a palheta para tocar e, ao mesmo tempo, tirar efeitos percussivos da guitarra. Isso funcionava também como uma espécie de ‘bottle neck’ e acabou dando uma cara diferente para os solos que ele fez."

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