Vírgula
Roberto de Queiroz*
A vírgula é um
sinal gráfico, de origem latina, usado na escrita para delimitar
sintagmas. Pelo fato de ser representada por
um pequeno traço, semelhante a uma pequena vara, recebe, em português, o nome
de vírgula (varinha, em latim). Em umas
situações, a vírgula é facultativa; em outras, ela é obrigatória.
Veja, a seguir, algumas situações em que a vírgula é obrigatória.
No interior de um período simples, usa-se a vírgula para separar termos
coordenados (Maria comprou uma saia, duas
blusas, um sapato), isolar elementos intercalados, como
conjunção (Sua proposta é bastante atraente. Ela, porém, não
me interessa), adjunto adverbial deslocado da ordem frasal direta (Neste ano, vou a São Paulo), aposto
(Ronaldo, o capitão do time, foi o primeiro a entrar em campo),
expressão explicativa (O protagonista de Náufrago, ou seja, Tom
Hanks, ganhou dois Óscares de melhor ator), vocativo (Araken, gostei muito de seu livro “Sumi-ê e haicai”) e complemento
verbal pleonástico e topicalizado (O gato,
eu o vi no telhado).
No interior de um período composto, usa-se a vírgula para separar
adjuntos adverbiais antepostos a verbos (Você não se preparou para o teste e, certamente,
será reprovado), orações adverbiais situadas antes de sua principal (Quando
chegamos à escola, as aulas já haviam começado), orações
reduzidas postas antes de sua principal (Dado o sinal, os corredores
saíram em disparada) e orações adjetivas explicativas (A neve, que é fria, provocou a morte da
vegetação).
No interior de um período composto, usa-se também a vírgula para
delimitar orações coordenadas assindéticas (Eu estudo, meu pai trabalha), orações coordenadas sindéticas (Estudou bastante,
mas não foi aprovado), exceto orações
coordenadas sindéticas ligadas por “e” cujo sujeito é o mesmo da oração
anterior (José estuda de dia e trabalha de noite) e orações coordenadas alternativas em que não
há necessidade de delimitação (Decida-se: você estuda ou trabalha).
Uns gramáticos dizem que o adjunto adverbial e a oração adverbial
deslocados da ordem frasal direta devem ser virgulados para marcar esse
deslocamento. Outros ensinam que, nesses casos, o uso da vírgula deve
condicionar-se ao número de palavras contidas no adjunto adverbial ou na oração
adverbial. Há também, entre os gramáticos, a afirmação de que a oração
adverbial prosposta à principal só não deve ser virgulada se for final ou conformativa.
Há ainda, entre esses estudiosos, diferentes opiniões quanto ao uso
da vírgula nas orações reduzidas. Os pontos conflitantes são similares aos dos
adjuntos adverbiais e das orações adverbiais. E as divergências não param por
aí. Então, qual regra usar? Num vestibular ou concurso, use as regras da
gramática indicada no edital. No cotidiano, consulte uma gramática de sua
preferência. Aliado a isso, busque a harmonia, o ritmo e a clareza.
Enfim, o uso da vírgula não é fácil. Esse é um assunto que, em alguns
casos, gera controvérsia entre os gramáticos. Melhor
dizendo, não existe unanimidade entre eles. A vírgula é
um elemento da escrita em que muitos tropeçam. Isso porque, para
virgular bem, é preciso ter um bom conhecimento de sintaxe. Uma vírgula mal
colocada ou omitida pode mudar o sentido de um texto ou comprometer sua
clareza.
*
Poeta, prosador, professor de Português e especialista em Letras. Autor
de “Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem”, Livro
Rápido, 2013, entre outros.
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