domingo, 30 de agosto de 2015

VÍRGULA: UM ARTIGO DE ROBERTO DE QUEIROZ

Vírgula
Roberto de Queiroz*
A vírgula é um sinal gráfico, de origem latina, usado na escrita para delimitar sintagmas. Pelo fato de ser representada por um pequeno traço, semelhante a uma pequena vara, recebe, em português, o nome de vírgula (varinha, em latim). Em umas situações, a vírgula é facultativa; em outras, ela é obrigatória. Veja, a seguir, algumas situações em que a vírgula é obrigatória.
No interior de um período simples, usa-se a vírgula para separar termos coordenados (Maria comprou uma saia, duas blusas, um sapato), isolar elementos intercalados, como conjunção (Sua proposta é bastante atraente. Ela, porém, não me interessa), adjunto adverbial deslocado da ordem frasal direta (Neste ano, vou a São Paulo), aposto (Ronaldo, o capitão do time, foi o primeiro a entrar em campo), expressão explicativa (O protagonista de Náufrago, ou seja, Tom Hanks, ganhou dois Óscares de melhor ator), vocativo (Araken, gostei muito de seu livro “Sumi-ê e haicai”) e complemento verbal pleonástico e topicalizado (O  gato, eu  o  vi no telhado).
No interior de um período composto, usa-se a vírgula para separar adjuntos adverbiais antepostos a verbos (Você não se preparou para o teste e, certamente, será reprovado), orações adverbiais situadas antes de sua principal (Quando chegamos à escola, as aulas já haviam começado), orações reduzidas postas antes de sua principal (Dado o sinal, os corredores saíram em disparada) e orações adjetivas explicativas (A neve, que é fria, provocou a morte da vegetação).
No interior de um período composto, usa-se também a vírgula para delimitar orações coordenadas assindéticas (Eu estudo, meu pai trabalha), orações coordenadas sindéticas (Estudou bastante, mas não foi aprovado), exceto orações coordenadas sindéticas ligadas por “e” cujo sujeito é o mesmo da oração anterior (José estuda de dia e trabalha de noite) e orações coordenadas alternativas em que não há necessidade de delimitação (Decida-se: você estuda ou trabalha).
Uns gramáticos dizem que o adjunto adverbial e a oração adverbial deslocados da ordem frasal direta devem ser virgulados para marcar esse deslocamento. Outros ensinam que, nesses casos, o uso da vírgula deve condicionar-se ao número de palavras contidas no adjunto adverbial ou na oração adverbial. Há também, entre os gramáticos, a afirmação de que a oração adverbial prosposta à principal só não deve ser virgulada se for final ou conformativa.
Há ainda, entre esses estudiosos, diferentes opiniões quanto ao uso da vírgula nas orações reduzidas. Os pontos conflitantes são similares aos dos adjuntos adverbiais e das orações adverbiais. E as divergências não param por aí. Então, qual regra usar? Num vestibular ou concurso, use as regras da gramática indicada no edital. No cotidiano, consulte uma gramática de sua preferência. Aliado a isso, busque a harmonia, o ritmo e a clareza.
Enfim, o uso da vírgula não é fácil. Esse é um assunto que, em alguns casos, gera controvérsia entre os gramáticos. Melhor dizendo, não existe unanimidade entre eles. A vírgula é um elemento da escrita em que muitos tropeçam. Isso porque, para virgular bem, é preciso ter um bom conhecimento de sintaxe. Uma vírgula mal colocada ou omitida pode mudar o sentido de um texto ou comprometer sua clareza.
* Poeta, prosador, professor de Português e especialista em Letras. Autor de “Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem”, Livro Rápido, 2013, entre outros. 

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