domingo, 29 de março de 2015

NICANOR PARRA: OS 100 ANOS DO POETA CHILENO

Nicanor Parra
Nicanor Parra


No dia 5 de setembro passado o poeta chileno Nicanor Parra completou 100 anos. Sim, um século. Dez redondos decênios, marca admirável. Nascido na província de Ñuble, região central do Chile, Nicanor Segundo Parra Sandoval é matemático, físico e professor.

O pai era professor primário e músico e a mãe, tecedeira e costureira camponesa. Nicanor, o primogênito, tinha mais cinco irmãos e dois meios-irmãos, entre os quais a cantora, compositora e artista plástica Violeta Parra (1917-1967), autora de clássicos da música popular chilena como “Volver a los 17” e “Gracias a la Vida”, canções que fizeram grande sucesso nos anos 70 na voz da cantora argentina Mercedes Sosa (1935-2009).

Entre os irmãos de Nicanor, vários, além de Violeta, abraçaram a carreira artística, especialmente na música. De todos, somente ele seguiu carreira universitária. Estudou matemática e física na Universidade do Chile, onde depois tornou-se professor. No exterior, estudou mecânica avançada na Universidade Brown, nos Estados Unidos, e cosmologia em Oxford, Inglaterra. Tudo isso até 1951, quando o poeta retornou ao Chile.
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A ANTIPOESIA

Nicanor Parra já escrevia poesia desde os anos 30 e, após ter vivido nos EUA e na Europa, firmou as concepções do que viria a chamar de antipoesia. Consolidou também sua decidida oposição estética à poesia de seu compatriota Pablo Neruda (1904-1973), considerado tradicional.

O que vem a ser a antipoesia? Uma poesia sem empostação, baseada em linguagem coloquial, com elementos críticos que questionam tudo, por meio de ironia, irreverência e nonsense. Em certo sentido, os postulados da antipoesia lembram aspectos da plataforma defendida no Brasil pelos modernistas de 1922. "Na antipoesia se busca a poesia, não a eloquência", diz Parra num de seus poemas.

O marco inicial dos poemas de Parra com essas características é dado em seu primeiro livro, Poemas e Antipoemas, de 1954. Daí em diante, com uma obra de reúne dezenas de títulos, o poeta desenvolveu novas experimentações, como poemas visuais, mas sempre mantendo a ideia central da antipoesia.

Ao desenvolver seus antipoemas, Parra exibe uma postura absolutamente iconoclástica, que não deixa de pé nenhum conceito estabelecido. Cutuca com vara curta desde os deuses do Olimpo até os dogmas da igreja católica. Distribui críticas e piadas tanto à esquerda como à direita.

No poema chamado “Declaración de Principios”, o narrador, depois de se proclamar sucessivamente católico, marxista, capitalista etc. e até fanático total, termina: “a palavra Deus é uma interjeição / dá no mesmo que exista ou que não exista”. Esse poema (não transcrito aqui) está no livro Hojas de Parra (Folhas de Parreira, ou Folhas de Parra, o autor), de 1985. Outro exemplo, este do livro Poemas Políticos: “Não sou direitista nem esquerdista / simplesmente rompo com tudo”. 


Fonte: www.algumapoesia.com.br 

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