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terça-feira, 27 de março de 2012
ADMIRADOR DE FERNANDO PESSOA, ESCRITOR ITALIANO ANTONIO TABUCCHI MORRE EM LISBOA
Depois de enfrentar uma longa enfermidade, o escritor italiano Antonio Tabucchi morreu no último domingo, aos 68 anos, em Lisboa, Portugal. A notícia foi divulgada pelo seu tradutor francês, Bernard Comment, que não revelou mais detalhes sobre a doença. Ele deverá ser enterrado na capital portuguesa na quinta-feira.
Considerado um dos principais escritores italianos contemporâneos, Tabucchi deixa mais de 20 livros traduzidos para mais de 40 idiomas, obras como Noturno Indiano (1984), Réquiem (1992) e Afirma Pereira (1994). No Brasil, ele foi editado pela Rocco e, mais recentemente, pela Cosac Naify, que lançou O Tempo Envelhece, em 2010.
Naquele ano, aliás, Tabucchi foi convidado para vir à Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, mas cancelou a vinda por problemas lombares. Reconvidado em 2011, o escritor desistiu novamente, dessa vez por motivos políticos – ele discordou da decisão da Justiça brasileira de não extraditar o ex-ativista Cesare Battisti, acusado de participar de quatro assassinatos durante a luta armada que marcou a Itália nos anos 1970.
O principal legado de Antonio Tabucchi, no entanto, é o literário. O universo de sua prosa sempre compreendeu o território da ambiguidade, do equívoco, da fabulação, da teatralidade, do avesso e da mentira. Em Réquiem, por exemplo, ele trata da morte quase que com felicidade, ao narrar a trajetória de um homem que, ao ler O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, sofre uma alucinação e se vê em Lisboa, onde busca pessoas e coisas que desapareceram da sua vida. Uma espécie de Alice no País das Maravilhas em que Wonderland é a capital portuguesa.
E a menção a Pessoa não é fortuita – Tabucchi descobriu a tradução francesa do poema “Tabacaria” (assinado pelo heterônimo Álvaro de Campos) em 1962, quando estudava literatura em Paris. Fascinado, voltou à Itália, aprendeu a língua portuguesa e se tornou o principal divulgador da obra de Pessoa em seu país, iniciando uma série de visitas a Lisboa até fixar a cidade como uma de suas moradias. “Devo a Fernando Pessoa minha fé na narrativa, porque foi por meio de sua poesia que consegui construir um universo literário”, disse, certa vez, em uma de suas raras entrevistas.
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