O capítulo desta semana no remake de O Astro, em que Clô Hayala ( Regina Duarte) descobre que vai ser avó é sintomático dos motivos do sucesso e da mítica em torno desta obra de Janete Clair: Clô estampa no sorriso a alegria de novamente embalar uma criança, décadas depois de ter dado luz ao filho Márcio ( Thiago Fragoso ) e de como esta satisfação a fará renascer como mulher e mãe.
Impulsiva e emocional, Clô se desmancha na descrição das leviandades de uma criança: que vai do choro por ser contrariada à alegria de receber um presente.
Fala do filho, das travessuras, da angústia de esperar e procurar uma criança que some e volta suja e com os olhinhos inocentes, escondendo-se com medo de apanhar...
E sugere momentos novos, agora com o neto que vai nascer, com uma espontaneidade gestual e um texto que remete ao passado dos personagens: a dureza do marido Salomão ( Daniel Filho ) e a beleza do amor de sua tia Magda ( Rosamaria Murtinho) que nunca se casou e transferiu o amor da maternidade para Márcio.
O que diferencia O Astro das novelas atualmente no ar e de muitas outras nos últimos anos é a naturalidade dos personagens e ao mesmo tempo, a humanidade, a profundidade de sentimentos ( não politicamente corretos e portanto não mascarados ) que aproximam as diversas histórias e o enredo geral da obra, da realidade. Mocinha ou vilã? Clô Hayala não pertence a esta categoria de personagem. É mais rica e abrangente que isto.
Talvez este retrato ficcional seja uma das características que fizeram de Janete Clair a grande dama das novelas das oito, com estrondosos sucessos como Selva de Pedra, Pai Herói, Pecado Capital e Sétimo Sentido. Há uma falta na televisão de hoje, de um certo mistério nos personagens, do humanismo que o aproxima do público e de histórias que se desenhem nos capítulos sem vulgarizar roteiros com soluções mirabolantes ou previsíveis demais. A própria caracterização ( como a folhinha de calendário na parede do salão de Neco ( Humberto Martins ), com a imagem de Nossa Senhora da Penha) é bem cuidada, com detalhes bem construídos e que ajudam a revelar a personalidade dos personagens e de quem os cerca. Sem falar na especial participação de Francisco Cuoco e das cenas originais de Amanda ( Dina Sfat ) e Herculano Quintanilha ( Cuoco ).
Ficar até mais tarde esperando o Astro chegar vale a pena, como Carlos Drummond de Andrade revelou em crônica após o final da novela e a revelação do assassino de Salomão, em 1976 : " agora que o Astro acabou, o Brasil pode voltar a andar "...
Aldo Moraes
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