segunda-feira, 5 de julho de 2010





UM ANO SEM MICHAEL JACKSON




Há 1 ano, o mundo, estarrecido, acompanhava o último ato da nada linear vida de Michael Jackson.


Naquela ocasião, muito se falou de sua transformação física, o rancho Never Land, os números de vendagens de seus discos e do artista que encantou o mundo ainda menino. E pouco se analisou sobre a música e o legado que possibilitou ao pop mundial chegar com a qualidade absurda, que chamou a atenção de músicos de jazz e outros gêneros e também críticos, no Estados Unidos e em todo o mundo.


Além do enorme talento para a dança e o canto, que realmente influencia até hoje, quem conhece aqueles discos e clipes, inaugurados nos anos 80 ou a quem se dedica ao pop, Jackson trouxe para o universo da música popular jovem, elementos da black music, rock, blues, jazz e a tradição da canção americana.


A parceria com o brilhante produtor e compositor Quincy Jones, começa em Of the wall, álbum de 1979. Este trabalho já dá mostras de que Michael realmente se diferenciava dos também talentosos irmãos com quem formara o Jackson Five, nos anos 60 e 70. Os primeiros passos de uma dança revolucionária e inspirada nas ruas e de uma insuspeitada fusão com ritmos fortes da música negra americana, integradas à contribuição dos brancos no chamado universo pop já estavam ali, naquele primeiro disco.


Mas o grande impacto foi ouvir o álbum de 1984, em que as transformações e fusões sonoras são radicalizadas, com contribuições do peso de Rod Temperton, David Foster, Paul Jackson Jr, Louis Johnson, Jeff Porcaro, Paulinho da Costa, Ritchie Blackmore, Paul MacCartney, Eddie Van Halen e Quincy Jones. Ou seja: o inimaginável ! O segundo álbum "Trilher", era ainda melhor que o primeiro, algo raro, no mundo da música, ainda mais no universo pop.


Trilher trazia clássicos que impressionam até hoje, pelos arranjos, ritmos, melodias e inovações, como a faixa título, Beat it, Billie Jean, The girl is mine e Human nature, que se seguiu, de certa forma, nos discos seguintes: Bad e Dangerous e cuja música, Jackson, deixaria em segundo plano, ao longo dos anos, para ser motivo de polêmicas pessoais até o fim da vida.





O interessante quando se analisa a obra de Jackson ou composições de outros autores que escolheu e gravou, é o fato de suas linhas melódicas serem construídas para facilmente se ouvirem na voz de um cantor ou de um instrumento musical. Por exemplo: como a linha melódica toda da canção” Human Nature” soa natural nas cordas de uma guitarra, ou se imaginarmos um trio de sopros tocando Beat it ou um trompete solando a melodia de Billie Jean ... Uma flauta ou clarinete fazendo a voz da bela canção” The girl is mine” ...


Este aspecto é importante para entendermos a musicalidade de Jackson e do porque suas canções são tão re-interpretadas por grupos vocais, jazzistas e no Brasil, por músicos de MPB, Bossa Nova e instrumentistas ( Caetano Veloso, por exemplo gravou Billie Jean com violão e voz e; com banda, interpretou Black or White, esta no disco Circuladô ao vivo. Roberto Menescal participou de algumas gravações com a obra de Jackson, em versão bossa nova, com as cantoras Bárbara Mendes, Chris Dellano e Lulu Joper, sem falar em Miles Davis e outros nomes da música norte-americana ).


Ao buscar, possivelmente, sua inspiração no timbre e fraseados dos instrumentos dos vários naipes da banda elétrica e da orquestra tradicional ( pois a 2ª parte da canção Trilher traz um perfil melódico tão lírico, que lembra uma citação de ária operística ) Michael Jackson se coloca como cantor e compositor de grande sensibilidade, que une intuição e técnica, ainda que não fosse instrumentista e nem conhecesse teoria musical. Isto confere, sem dúvida, uma outra dimensão à sua obra, pois há que se ter que” grandes arranjos, só são possíveis para grandes composições”.


Por outro lado, sua dança chamada” moonwalk”, está conceitualmente ao lado do andar do vagabundo de Chaplin; da seqüência de Gene Kelly em Dançando na chuva e; dos passos de Fred Astaire, no filme Núpcias Reais.

No documentário This is it, podemos ver Jackson atento aos aspectos rítmicos, harmônicos e melódicos de sua música, quando interpretada ao vivo. Nos ensaios, solicita aos músicos da banda que acentuem os fraseados de acordo com as gravações e que sejam criativos dentro dos limites harmônicos das partituras originais, evitando invenções desnecessárias. Seu excepcional ouvido chega a diferenciar notas acrescentadas ou dobradas na harmonia, algo que poderia ser facilmente ignorado, mesmo por um bom músico. O interessante é que Jackson não limita seus músicos : permite a criatividade mas ao perceber excessos, faz com que eles “ limpem” as canções. O que também percebemos em sua condução com os técnicos, figurinistas, cenaristas e dançarinos.


E aí entendemos por que sua obra faz tanto sucesso em regravações nos mais diversos gêneros, alguns deles muito refinados, como é o caso do jazz e da Bossa Nova. E por que esteve tão presente na música desde o surgimento de TRILHER, influenciando gerações de dançarinos, cantores e músicos em todo o mundo.


Aldo Moraes
composermoraes@hotmail.com

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