segunda-feira, 3 de maio de 2010



180 anos de nascimento do Padre José Maurício

O padre José Maurício Nunes Garcia (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1767 – 18 de abril de 1830) foi um compositor brasileiro de música sacra que viveu a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. É considerado um dos maiores compositores das Américas de seu tempo.

José Maurício era filho de Apolinário Nunes Garcia, branco, e Victória Maria da Cruz, filha de escravos. Desde cedo revelou-se talentoso para a música, tendo composto sua primeira obra em 1783, aos 16 anos. Teria aprendido música com Salvador José de Almeida Faria, músico mineiro.

Em 1792 é ordenado padre e, em 1798, torna-se mestre-de-capela da Sé Catedral do Rio de Janeiro, que nessa época funcionava na Igreja da Irmandade do Rosário e São Benedito. Como mestre-de-capela, Padre José Maurício Nunes Garcia compunha novas obras e dirigia os músicos e cantores nas cerimônias da Sé, além de atuar ele mesmo como organista.

Em 1808, a chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro muda o panorama artístico da cidade. Nunes Garcia cai nas graças do Príncipe-Regente D. João VI, grande admirador de música, que o nomeia mestre da Capela Real, recém-criada nos moldes da que existia na corte lisboeta e formada por músicos locais e europeus. A Capela Real funcionava na Igreja do Carmo da cidade, que passou a ser também a catedral.

O período entre 1808 e 1811 é o mais produtivo de Nunes Garcia, durante o qual ele compõe cerca de setenta obras. Em 1809, D. João VI condecora-o com o Hábito da Ordem de Cristo, sinal da grande estima que tinha pelo músico. Não escapou porém do preconceito de alguns membros da corte, que se referiam à sua cor de pele como um "defeito visível".

Em 1811 chega à corte Marcos Portugal, o compositor português mais célebre do seu tempo, que tinha suas obras apresentadas por toda a Europa de então. A fama do recém-chegado leva D. João VI a pôr Marcos Portugal à frente da Capela Real, substituindo Nunes Garcia. O brasileiro continua, porém, a ser custeado pelo governo e a compor esporadicamente novas obras para a Capela Real.


Em 1816 dirige na Igreja da Ordem Terceira do Carmo um Requiem, de sua autoria, em homenagem à rainha portuguesa D. Maria I, morta naquele ano no Rio. Em 1816 chega à corte o compositor austríaco Sigismund Neukomm, que estabelece uma grande amizade com o brasileiro. Mais tarde Nunes Garcia dirige as estréias brasileiras do Requiem de Mozart (1819) e de A Criação de Haydn (1821).


O empobrecimento da vida cultural após o retorno de D. João VI a Portugal e a crise financeira depois da Independência do Brasil (1822) causaram uma diminuição da atividade de Nunes Garcia, agravada pelas más condições de saúde do compositor. Em 1826 compôs sua última obra, a Missa de Santa Cecília, para a irmandade de mesmo nome. Morreu em 18 de abril de 1830. Apesar de ser padre, teve cinco filhos, dos quais reconheceu um.

O compositor sempre obteve muito respeito por sua grande cultura, não se tendo registros de como a consolidou, visto suas origens muito simples e o contexto restrito de circulação das informações à época. Após sua morte, estudos históricos e sobre sua obra, foram estabelecendo a importância de Mauricio, não só para o período musical em que viveu, mas também para a história da música.

Obra
Padre José Maurício compôs cerca de 26 Missas, quatro missas de Requiem, Responsórios, Matinas, Vésperas, um Miserere, um Stabat Mater, um Te Deum, Hinos, modinhas e pequenas peças profanas.


Principais obras

 Música dramática: Le Due gemelle; Coro para o entremês (1808); O Triunfo da América (1809); Ulisséia (1809).
 Música orquestral: Sinfonia fúnebre (1790); Sinfonia tempestade.
 Modinhas: Beijo a mão que me condena; No momento da partida.
 Música instrumental: Doze divertimentos (1817).
 Música sacra: Tota pulchra es Maria (1783); Ecce sacerdos (1798); Bendito e louvado seja (1814 e 1815); Christus factus est (1798?); Miserere para Quarta-feira de trevas (1798); Libera me (1799); Missa de Réquiem (1799); Ofício de defuntos (1799); Judas mercator (1809); Matinas da ressureição (1809?); Missa de Requiem (1809); Missa de Réquiem (1816); Missa de Santa Cecília (1826).

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