( Resumo da palestra que Aldo Moraes proferiu em 1997, na Secretaria Municipal de Cultura de Londrina, em parceria com o Espaço Alternativo Free Music e DCE da Universidade Estadual de Londrina )
A POÉTICA DE TOM JOBIM
Pianista, compositor e arranjador, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim ( 1927-1994 ) soube, junto com o poeta Vinicius de Moraes e o cantor e violonista João Gilberto apontar um novo caminho para a música brasileira , trocando o conceito dos dramas amorosos por uma amor possível e afirmativo, o nacionalismo exaltado pelo modernismo brasileiro, a melodia de contornos por outra ”quebrada, econômica e fundida à acordes dissonantes”. Esta fase da Música Brasileira recebeu o nome de Bossa Nova, que se mostrou mais tarde, não uma oposição à Velha Bossa, mas um encontro de aspectos aparentemente divergentes. Muito do que foi a Bossa Nova como elementos de encontros e desencontros, passa pela figura e formação musical de Jobim:
O choro de Pixinguinha
O samba e as temáticas brasileiras de Ary Barroso e Dorival Caymmi
Da música erudita: Chopin, Villa Lobos, Debussy.
Na literatura : Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira e livros sobre a fauna e flora brasileiras.
Tom Jobim teve parceiros musicais:Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Aloísio de Oliveira, Billy Blanco, Newton Mendonça, entre outros. Compondo sozinho, Jobim abordou principalmente:
A NATUREZA
A MULHER
O AMOR
Na natureza, a preocupação com o homem, o meio e os animais. E a idealização divina como elemento de encontro e fusão, transcendendo o conflito entre os seres. Na abordagem feminina, ressalta a humildade e a generosidade diante do ser amado, visto como fator fundamental para a arte e o amor fraternal. Nas canções de amor, prevalecem a valorização do amor possível e feliz, ao contrário da maior parte das canções brasileiras, em que o grande drama reside em fatos, como: rejeição, desencontros, traições e apegos. Esta postura afirmativa, positiva constitui-se uma das maiores contribuições conceituais para a música do Brasil.
Outra vez
“Outra vez, sem você
Outra vez, sem amor
Outra vez, vou sofrer...
Vou chorar até você voltar
Todo mundo me pergunta, porque ando triste assim
Ninguém sabe o que eu sinto com você longe de mim
Vejo o sol quando ele sai
Vejo a chuva quando cai
Tudo agora é só tristeza
Traz saudade de você”
Jobim compara o fim de um romance com a tristeza que somente a morte pode trazer. No fundo, o autor atenta para a valorização do encontro com o outro, muitas vezes levada à condição banal pelo homem.
O sol quando desperta, de manhã, é triste, portanto.
A chuva quando cai é mais triste que o normal.
O compositor, colocado na condição de apaixonado, não quer abordar as coisas alegres da vida, pois elas agora são tristes e apenas, quer confidenciar: ”Tudo agora, é só tristeza. Traz saudade de você ”.
O mundo, que representa os sentimentos em relação ao exterior, não entendem a dor que o poeta sente, não sabem o que é o amor e por isto, ele não se constrange em falar mal do mundo.
Só em teus braços
“Sim, promessas fiz, fiz projetos , pensei tanta coisa..
E agora, o coração me diz: Só em teus braços, amor, eu posso ser feliz”.
A simplicidade melódica do compositor, encontra eco também em suas letras para canções. Aqui, descreve o sonho dos projetos e planos, elaborados durante a juventude, porém ele não lamenta os projetos não realizados, por força do destino e sim pelo aparecimento de algo que além de somar-se a isto, é mais completo e essencial: o amor !
A expressão ”em teus braços” tão comum e cotidiana, revela-se o encontro maior da vida , sob o qual se apóiam os seres para a realização dos dias comuns e dos sonhos mais altos. O encontro dos amantes materializa-se nos gestos mais íntimos e comuns: o abraço, o entrelaçar das mãos e o sorriso.
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