quinta-feira, 3 de maio de 2018

EISA: BLOG ARTE BRASIL ENTREVISTA PRISCILA KUNIYOCHI






O acesso à diversidade cultural e à cultura tradicional dos povos é um dos focos do blog e do Instituto Cultural Arte Brasil.

Assim é com grande satisfação que o músico, escritor e jornalista Aldo Moraes realiza uma importante entrevista com a londrinense Priscila Kuniyoshi, integrante do grupo de tambores Eisa.

O que é Eisa, sua importância na tradição japonesa, o trabalho realizado em Londrina e planos para o futuro do grupo são aspectos abordados na entrevista.


Olá Priscila, fale um pouco de como foi sua infância e suas primeiras impressões sobre a cultura japonesa:

Meu avô, nascido no Japão, sempre fez questão de manter as tradições japonesas em nossa família, mas ao mesmo tempo, ele nunca foi tão rigoroso a ponto de se fechar para a cultura brasileira. Então sempre foi uma mistura, de idiomas, comidas e costumes. A escola que freqüentei durante a Educação Infantil ensinava japonês e português. E depois, a partir do ensino fundamental era de manhã a escola regular e à tarde (todos os dias) a escola japonesa. Infelizmente na época, a metodologia de ensino do idioma não ajudava muito, mas mesmo assim pude aprender muitas coisas, das quais considero como mais importantes a estrutura educacional (que buscava reproduzir a japonesa) e a valorização da cultura e da arte. Pintura, dança, canto, instrumentos musicais entre outras atividades foram sempre muito valorizadas na educação formal japonesa, e essa prática esteve muito presente na minha infância, influenciando minha educação e formação de forma considerável. A diferença com a educação formal brasileira era claramente perceptível, e englobava inclusive aspectos como a limpeza da escola, realizada pelos próprios alunos.

Enfim, cresci nesse meio… em uma família brasileira mas que sempre fez questão de manter alguns dos costumes da cultura japonesa e que nunca esqueceu de suas raízes.


Como é sua relação com a música em geral e em especial com Eisa?

Sempre cresci no meio da música, justamente por influência da cultura japonesa, tanto na escola quanto em casa. A dança, a prática de instrumentos musicais e o famoso karaokê sempre esteve presente em festas, tanto familiares quanto da comunidade japonesa.

A minha relação com o eisa surgiu um pouco mais tarde. Conheci mais a fundo quando tive a oportunidade de estudar em Okinawa, no Japão. Por se tratar de uma manifestação cultural específica da ilha de Okinawa foi lá que pude entender um pouco mais dessa arte extremamente tradicional que me encantou por sua singularidade.

Fale um pouco do conceito de Eisa e sua experiência com o grupo de Londrina:

O eisa é uma arte originária da ilha de Okinawa (província ao sul do Japão) composta de variações de taikos (tambores) e outros instrumentos, além da música e dança características da ilha.

Os tambores de Okinawa, diferentemente dos outros estilos, possui uma batida cadenciada, geralmente alternando entre uma e duas, repetição esta que remete às batidas do coração.

Em Okinawa, durante as festividades de finados acredita-se que os espíritos dos antepassados regressam ao seio da família. Assim, todas as vilas de Okinawa são tomadas pelos grupos de eisa que se deslocam de casa em casa ecoando as batidas de seus tambores e celebrando o momento da despedida quando os espíritos deixam seus familiares e regressam ao mundo dos mortos. Esse ecoar leva a mensagem aos antepassados para que retornem no ano seguinte para reencontrar seus descendentes, carregando o preceito do desejo de manter a linhagem familiar unida.  Acredita-se que a simulação das batidas do coração por meio dos tambores transfere aos espíritos a paz primordial e o desejo de retorno.

Em Londrina o grupo teve seu início no final de 2007, por iniciativa de pais e jovens da Associação Cultural e Recreativa Okinawa de Londrina (ACROL) no intuito de propiciar uma atividade cultural principalmente para crianças. O então Grupo Ryukyu Damashi (Espírito de Okinawa) treinava com o auxílio de vídeos vindos de Okinawa, devido a falta de professores ou pessoas que pudessem ensinar a arte. Durante muito tempo muita coisa foi improvisada, desde instrumentos para treinos até vestimentas para as apresentações, tudo no intuito de chegar o mais próximo do real, pois a dificuldade em se conseguir materiais típicos da ilha era muito grande. 

Nesta época já se passava o ano de 2008, ano de comemoração do centenário da imigração japonesa no Brasil, o que favoreceu para que o grupo crescesse, ficasse mais conhecido no meio nikkei da cidade e aumentasse consideravelmente em número de integrantes. Neste momento nasceu então o desejo de se filiar a um grupo maior, que pudesse oferecer um respaldo tanto técnico quanto filosófico. Assim, em setembro de 2009 o antigo Ryukyu Damashi passou a fazer parte de uma família maior, tornando-se Ryukyu Koku Matsuri Daiko – Filial Londrina.

Atualmente a Filial Londrina conta com cerca de 100 integrantes, mantendo a mesma filosofia de sua matriz, que se preocupa além dos aspectos culturais a serem difundidos, principalmente com a formação da criança/jovem. Através dos ensinamentos da cultura e da filosofia japonesa, procura oportunizar o aprendizado de habilidades importantes tanto para a vida pessoal quanto profissional do indivíduo, levando ao longo de toda a vida.

Você chegou a estudar no Japão. Conte como foi isso:

Desde pequena eu sempre tive vontade de conhecer o Japão, mais especificamente Okinawa, terra natal do meu avô e dos meus bisavós. Na verdade era um daqueles sonhos de criança, que se imagina mas não se tem a dimensão das dificuldades e muitas vezes nem a real pretensão em se realizar. Muito por acaso, depois que entrei na UEL, fiquei sabendo de uma bolsa de estudos que existe devido a um convênio entre universidades, justamente em Okinawa. Naquele momento não pensei duas vezes. Me inscrevi, prestei a prova, fiz a entrevista e fui aprovada para freqüentar a universidade e estudar lá.

A experiência foi indescritível… Uma ilha maravilhosa, com praias paradisíacas e uma população extremamente receptiva, um tanto quanto diferente do restante do Japão. Uma cultura riquíssima, cheia de história em um arquipélago de quase 170 ilhas mas que totaliza pouco mais que 2.200 km². Tive então, a oportunidade de finalmente conhecer o local onde meus antepassados haviam nascido, entender um pouco mais sobre nossas tradições e cultura. Estudei japonês, aprendi um pouco sobre a dança e o sanshin (instrumento tradicional), mas mais que isso, pude vivenciar o dia a dia da vida de um okinawano, além de ter contato com pessoas de vários países do mundo que estavam lá também para estudar. Essa convivência, oportunizada pelo compartilhamento do alojamento da universidade, me proporcionou um aprendizado adicional, sobre a cultura e as curiosidades de muitos outros países.

Quais os eventos e shows do grupo Eisa para 2018?

Todos os anos temos muitas apresentações em variados eventos, principalmente da comunidade japonesa. Para este ano os principais serão: Japan Fest (Marília), Expo Japão, Okinawa Matsuri, Show de Comemoração do IMIN 110, Festival do Japão (São Paulo), Eisa Pageant, Londrina Matsuri e Nipo Fest.


O que você ouve de música brasileira?

Eu gosto bastante de MPB e bandas de POP/ROCK brasileiro como Paralamas, Skank, Capital, entre outras.

Agradeço sua entrevista e peço que deixe um recado ao nosso leitor:

Foi um grande prazer poder compartilhar um pouquinho sobre a minha história e a do nosso grupo. Se você gostou e tem interesse em saber um pouco mais, assistir a um treino ou apresentação, ou até fazer parte, entre em contato conosco no e-mail londrina@matsuridaiko-brasil.com.

Muito obrigada ao blog por esta oportunidade.

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