terça-feira, 17 de abril de 2018

SAMBA DE LUTO: MORRE DONA IVONE LARA


Yvonne Lara da Costa (Rio de Janeiro, RJ, 1921). Compositora, cantora e instrumentista. Nasce no bairro carioca de Botafogo, filha de João da Silva Lara e Emerentina Bento da Silva. Os pais têm participação ativa nos ranchos carnavalescos do Rio de Janeiro do início do século XX, a mãe é pastora e o pai toca violão. Após a morte do pai, muda-se com a mãe para a Tijuca. Estuda no internato Colégio Municipal Orsina da Fonseca e tem aulas de música erudita com Zaíra de Oliveira, esposa do compositor Donga (1899-1974), e também com Lucília Villa-Lobos - casada com o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) -, que a indica para o Orfeão dos Apiacás, da Rádio Tupi, regido por seu marido.

Aos 17 anos, órfã de mãe, vai morar com tio Dionísio Bento da Silva, no subúrbio de Inhaúma, com quem aprende a tocar cavaquinho. Na ocasião, se inscreve no concurso da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto. Aprovada, passa a receber uma bolsa que ajuda no sustento da casa. Forma-se em 1943, e exerce a função de plantonista de emergência. Nas horas de folga, participa das rodas de choro organizadas na casa do tio, com a presença de Pixinguinha (1897-1973) e Jacob do Bandolim (1918-1969).

Em 1945, Ivone decide fazer o curso para se tornar assistente social. Logo que se forma é contratada pelo Instituto de Psiquiatria do Engenho de Dentro, em que permanece por 30 anos, até se aposentar. Especializa-se em terapia ocupacional e trabalha no Serviço Nacional de Doenças Mentais com a doutora Nise da Silveira (1905-1999), médica que revoluciona o tratamento psiquiátrico no Brasil.


Casa-se, em 1945, com Oscar Costa, filho do fundador da escola de samba Prazer da Serrinha. Sempre priorizando o trabalho de enfermeira, programa suas férias para fevereiro para poder participar dos desfiles de Carnaval. Com o fim da escola Prazer da Serrinha, passa a frequentar a Império Serrano, para a qual compõe alguns sambas, porém sem perspectiva de se profissionalizar na música. No entanto, nunca deixa de escrever seus sambas, embora raramente os mostre. Algumas de suas canções são apresentadas a outros sambistas como de autoria de Mestre Fuleiro, um dos fundadores da Império Serrano e primo de Ivone.

Por ser mulher, tem de enfrentar o preconceito para se lançar como compositora. Mesmo assim é a primeira mulher a integrar a ala dos compositores da escola de samba e, em 1965, assina com Bacalhau e Silas de Oliveira (1916-1972) Os Cinco Bailes da História do Rio, o samba-enredo da Império Serrano no Carnaval que comemora os 400 anos do Rio. Desde 1968, Ivone desfila na ala das baianas dessa escola.
Em 1970, participa do disco Sargentelli e o Sambão, gravado ao vivo, com as faixas Agradeço a Deus e Sem Cavaco Não, ambas feitas em parceria com Mano Décio da Viola (1909-1984).

 Adota o nome artístico de Dona Ivone Lara. Aposentada, em 1977, passa a dedicar-se exclusivamente à música. Um ano depois, lança seu primeiro LP, Samba, Minha Verdade, Minha Raiz. Dos discos seguintes, destacam-se Sorriso de Criança (1979), Sorriso Negro (1982), Ivone Lara (1985). Com o parceiro mais constante, Délcio Carvalho (1939-2013) - com quem compõe Acreditar, em 1976, sucesso na voz de Roberto Ribeiro, e Sonho Meu, lançado por Maria Bethânia, em 1978, no LP Álibi, com participação de Gal Costa -, ganha o Prêmio Sharp de melhor música de 1978.

Nas décadas posteriores, se consagra como uma das referências mais importantes da música popular brasileira.

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