sábado, 28 de junho de 2014

ARTE E CULTURA DA COLÔMBIA

A cultura da Colômbia resulta essencialmente da mestiçagem cultural dos povos nativos com a influência colonizadora espanhola. A religião toma um aspecto muito importante na definição da identidade cultural do país: 95% da população é católica. Muito do que pode ser dito sobre os hábitos culturais deste país é também aplicável a outros países da América Latina.

O futebol é o desporto nacional por excelência, como acontece, de resto, na esmagadora maioria dos países da América Latina. Ver os jogos pela televisão é, dos passatempos nacionais, o mais popular. As vitórias da seleção nacional são celebradas de forma exuberante. É considerado, contudo, uma ocupação masculina: muitos homens e rapazes dedicam o seu tempo livre a esta modalidade desportiva.

A tourada, desporto tradicional que os colonizadores espanhóis trouxeram para a América do Sul, mantém-se bastante popular. Existem várias praças de touros em Bogotá e outras das principais cidades do país.

Gravura de Charles Safari, ilustrativa da apetência do povo colombiano pela dança
 
Outro jogo tradicional, o “tejo”, é herdado do património cultural dos Chibchan e consiste em lançar pequenos discos de metal para um detonador de pólvora. É vencedor aquele que causar um maior número de explosões, em comparação com o número de lançamentos.

As danças populares constituem uma parte importante da identidade cultural colombiana. Das dezenas de estilos de dança, bastante ritmados como é vulgar na América Latina, um dos mais populares é o bambuco, caracterizado por diversos passos complexos que remetem para os rituais de cortejamento e namoro. Há quem considere esta dança nacional, até porque terá sido usada durante as guerras de libertação de Simón Bolívar, mas rivaliza, neste título, com a cumbia.

A arte pré-colombiana, milenar, era particularmente rica. As figuras construídas em ouro e as peças de joalharia foram bastante cobiçadas pelos colonizadores espanhóis, que procederam em alguns casos, a autênticos massacres para possuírem materiais preciosos usados que pelo seu valor artístico. Muitas dessas peças foram levadas para Espanha onde foram destruídas, a fim de se usar o ouro e pedras preciosas noutros objectos. Escavações arqueológicas cuidadas têm trazido para a luz do dia muitos destes objectos que são, todavia, um pequeno vislumbre da opulência artística do passado deste povo.

O artesanato produzido pelos grupos étnicos é igualmente rico e bastante apreciado, quer por locais quer por turistas. O povo Guajiro produz bolsas, cintos e redes tecidas manualmente. Os Paez, são, por seu lado, conhecidos pela manufatura dos seus típicos xales de lã.

Pintura

Na época colonial, a pintura Colombiana é marcada pelos trabalhos dos três Figueroa, autênticos pioneiros desta arte: Baltasar de Figueroa, o velho; Gaspar de Figueroa, seu filho e Baltasar de Figueroa, o moço. Gaspar foi o mestre de artistas relevantes, entre os quais se encontra a referência maior de Gregorio Vásquez de Arce y Ceballos. José Maria Espinosa Prieto, pintor, gravador e miniaturista é também celebrado pelos seus retratos, paisagens e caricaturas. Epifanio Garay, ainda que tenha desenvolvido muito da sua obra no Panamá, é também muito referenciado, especialmente como retratista.

Depois da independência da Espanha, em 1819, a arte colombiana tem pouca representatividade e está ainda muito dependente do figurativo. Há quem explique este atraso na evolução dos estilos artísticos colombianos com a própria geografia montanhosa do país que não permitia um contacto e diálogo continuado entre as várias tendências criativas que aí se desenvolviam.

Na década de 1920, Marco Tobon Mejia e José Horacio Betancur, da cidade de Medellín conseguem criar algum dinamismo com a elaboração de murais, influenciados, no estilo, pela arte mexicana, ainda que com características neoclássicas e da Art Nouveau. No início da década de 1940, devido a um crescente desinteresse internacional pela arte colombiana, começam a aparecer obras com estilos que não tinham, aí, sido experimentados, como o pós-impressionismo e o estilo académico francês. O paisagista Ricardo Gómez Campuzano é disso exemplo (Rua de Cartagena das Índias).

Muitos historiadores de arte consideram, no entanto, que a arte colombiana só começou a ter um carácter vincado e próprio a partir de meados do século XX, ao recriarem, sob um novo ponto de vista, os elementos culturais e artísticos tradicionais, integrando os conceitos desenvolvidos pela arte do século XX. Igancio Gomez Jaramillo, cuja obra pode ser considerada “modernista”, apresentou, por exemplo no seu Retrato dos irmãos Greiff, o quanto a arte colombiana podia aliar as novas técnicas com o respeito à cultura e temas tipicamente colombianos. Carlos Correa, na sua obra paradigmática, “Natureza morta em silêncio”, combina a abstracção geométrica e o cubismo, inaugurando um estilo ainda recorrente na actualidade. Pedro Nel Gomez, que se notabilizou no desenho, aguarela, fresco, pintura a óleo e escultura em madeira, pedra e bronze, demonstra, por exemplo em “Auto-retrato com chapéu” (1941), a sua familiaridade com as obras de Gauguin e Van Gogh, revelando, também a influência de outros autores como Cézanne no seu “Auto-retrato” de 1949 ou José Clemente Orozco, na sua série sobre as Barequeras (mulheres que se dedicavam à prospecção de ouro).

Alejandro Obregón, considerado por muitos como o "pai da arte colombiana" (devido à sua originalidade, inauguradora de uma arte considerada colombiana de raiz), devido às suas pinturas de paisagens nacionais caracterizadas por pinceladas violentas e a utilização simbólica e expressionista de animais (especialmente, aves como o Condor), tem sido largamente aclamado por críticos e pelo público em geral e foi, sem dúvida, o artista mais influente deste período. São notórias as influências de Picasso ou de Graham Sutherland.
Podemos ainda referir, por exemplo:

Literatura

Gabriel García Márquez, vencedor do Prémio Nobel da Literatura, é colombiano. Entre os livros que escreveu, de qualidade reconhecida em todo o mundo, Cem Anos de Solidão continua a ser um best seller e é largamente considerado o auge do chamado “realismo mágico” – corrente literária que não se limita, contudo, à Colômbia mas à generalidade da América Latina.

Música

A música tradicional colombiana deriva de uma mistura de influências africanas, europeias (especialmente espanholas), bem como das formas musicais modernas da América e das Caraíbas, como de Trinidad e Tobago, Cuba e Jamaica. É frequente referir-se, como música nacional, a cúmbia.
A cúmbia resulta também da mistura de influências espanholas e africanas (devido ao transporte de escravos para as plantações de café).

No século XIX, a abolição da escravatura levou a uma maior influência mútua entre os diversos grupos étnicos. Foi a época de ouro do bambuco, vallenato e do porro. Quando a valsa se tornou popular, no mesmo século, os colombianos rapidamente inventaram a sua variante própria: o pasillo. O estilo pop latino internacional, em género de balada com características românticas e a música de salsa são representados por Charlie Zaa e Joe Arroyo, respectivamente.

Juanes e Shakira são também importantes representantes da música colombiana da atualidade, desde que se lançou ao sucesso, com canções como Donde Estás Corazón e Estoy Aquí. Shakira é vencedora de vários prêmios e adorada no mundo todo; suas músicas misturam o ritmo latino às suas origens libanesas. Devido a essas diversas misturas de ritmos, sua inteligência, beleza e sua ações humanitárias, Shakira é aclamada no mundo todo, sendo a cantora sul-americana mais conhecida no planeta. Suas músicas vão desde ao rock, como em Pies Descalzos, até a bossa-nova,em Obtener un sí. A canção Hip's Don't Lie é uma homenagem ao carnaval de Barranquilla.

No campo da chamada música clássica, podemos referir, por exemplo, Luís Antonio Escobar ou Guillermo Uribe Holguin.

Cinema

O interesse pela produção cinematográfica demorou a instalar-se na Colômbia. Enquanto que nos outros países se davam os primeiros passos nesta arte, os colombianos estavam envolvidos na Guerra dos Mil Dias. Vicente e Francisco Di Doménico, italianos, foram os pioneiros no que diz respeito à projeção de filmes. Em 8 de Dezembro de 1912 inauguraram a primeira grande sala de cinema da Colômbia: o Olympia Salon, com capacidade para três mil pessoas, em volta do écran, no centro da sala (os espectadores atrás do écran tinham de ler os entre-títulos com a ajuda de um espelho).

Em 1913 foi criada a primeira empresa de produção de filmes na Colômbia: a SICLA (Sociedad Industrial Cinematográfica Latino Americana), também pelos Di Doménico, que filmava cenas quotidianas (pessoas andando na rua, etc – como no seu “Diário colombiano”) e as exibiam no dia seguinte. Alguns filmes de ficção, sobretudo com tramas patrióticas foram também realizados, como Una notabilidad rural, La hija del Tequendama, Nobles corazones, e Ricaurte en San Mateo. Desta altura data o filme “El drama del 15 de octubre” onde se reconstruiu o assassinato do General Rafael Uribe Uribe com os próprios assassinos a fazerem deles mesmos!

Entre 1912 e 1922 é realizado pelo espanhol Máximo Calvo, o filme com maior projecção internacional da história do cinema colombiano: “Maria”, da obra de Jorge Isaacs. Os Di Doménico decidem rivalizar com esta produção, filmando “Aura o las violetas” da obra de José Maria Vargas Villa, romance bastante popular na época, com Isabel van Walden como estrela do filme. Arturo Acevedo aparece, na altura, como outro rival na produção de filmes (com “La tragedia del silencio”) .
O filme dos Di Doménico “Como los muertos”, sobre leprosos, apesar de ser uma grande produção, foi acusado de dar uma má imagem da Colômbia e poder levar a uma baixa do preço do café colombiano. Entretanto, os actores vinham do estrangeiro: principalmente as actrizes, já que nenhuma senhora respeitável colombiana tinha autorização da família para aparecer nos filmes.

Deve-se a Gonzalo Mejia, milionário antioquenho, o filme “Bajo el cielo antioqueno” (“Debaixo do céu de antioquenho”), realizado pela equipa de Arturo Acevedo. Não terá sido, segundo os críticos, o melhor filme do ano, mas resta dessa época como um documento inestimável do estilo de filmar da época, além das imagens da alta sociedade de Medellín que decidiu participar ostensivamente no filme.

Restam apenas pedaços de um filme politicamente polémico, “Garras de oro” (1928), sobre a separação do Panamá – que levou a protestos do governo dos Estados Unidos da América e à censura em várias cidades da Colômbia.

Em 1927 é criada a Cine Colombia, empresa que depressa assumirá o monopólio da exibição de filmes no país e terá uma política de restrição no que se refere à produção própria de películas. Em 1928 adquire os estúdios pioneiros dos Di Doménico. Existe uma certa unanimidade entre os historiadores do cinema colombiano em afirmar que este monopólio silenciou (curiosamente, quando o cinema sonoro dava os seus primeiros passos) quase em absoluto, o cinema colombiano que passou, desde então, a ter uma produção insignificante.

O primeiro filme sonoro colombiano foi Flores del Valle, realizado em 1941.

A empresa Ducrane realiza nesta década alguns filmes que tentavam levar para o écrã o sucesso das novelas radiofónicas, como Sendero de luz (1943) de Emílio Correa Alvarez. Uma lei de 1942 tenta encorajar, debalde, a produção cinematográfica. A empresa Pátria Films ainda tenta, com uma equipe técnica de chilenos, realizar filmes com algum significado para os colombianos, como Bambucos e corazones ou El sereno de Bogotá, de Antonio Santos. A empresa terminará abruptamente a produção em 1946.
Camilo Correa será, até aos anos 50, a figura mais proeminente da produção colombiana, mais como crítico e teórico do que como realizador de cinema. Enoc Roldan, entretanto, percorria as pequenas cidades colombianas, exibindo os seus filmes pouco sofisticados mas que, ainda assim, lhe permitiam continuar no ramo. Entre os seus filmes encontramos El hijo de la Choza sobre o ex-presidente colombiano Marco Fidel Suarez e Luz en la selva sobre a missionária Laura Montoya. Um grupo de intelectuais, entre os quais se encontra Gabriel García Márquez, Álvaro Cepeda Samudio e Enrique Grau ainda tentam criar um cinema surrealista de que pouco mais ficará que o filme “La langosta azul”. Luís Moya realiza também El milagro de la sal que será premiado no Festival de San Sebastián.

Nos anos setenta, há a tentativa de produzir filme de baixo custo, de acordo com os princípios estéticos do neorealismo, sobressaindo a figura do espanhol Jose Maria Arzuaga e do colombiano Julio Luzardo .

Em 1972 sai uma lei que obriga à apresentação de curtas-metragens de origem nacional em cada exibição. Em 1979 é criada a Focine, que dará algum alento a alguns realizadores como Francisco Norden, autor do filme Condores no entierran todos los dias, sobre a a cultura de violência da Colômbia.

O Grupo de Cali, criado por Andres Caicedo, foi um grupo de criadores importantes, ainda que o seu estilo não tenha tido grande adesão por parte do público. Luís Ospina (“Pura sangre”) e Carlos Mayolo (“Carne de tu carne”) desenvolvem um cinema crítico e com preocupações políticas.

Nos anos oitenta foram criadas as primeiras duas escolas de arte cinematografica na Colômbia. Em 1980, a Unitec, escola tecnológica do sector privado, abre o programa de "Cine y Fotografia", constituindo-se a única produtora de filmes após a desaparição de Focine. A finais da década a Universidade Nacional da Colômbia abre o curso de "Cine y Television". Entretanto, o cinema colombiano continuou pouco produtivo e sem grande expressão a nível mundial.

Os poucos filmes destacados neste período foram: Pisingaña, 1985 de Leopoldo Pinzón, El Embajador de la India, 1986 de Mario Ribero, Visa U.S.A., 1986 de Lizandro Duque, Rodrigo D - no fururo, 1988 de Victor Gavíria, e María Cano, 1989 de Camila Loboguerreroe os filmes de animação de Fernando Laverde.

Arquitetura

Rogelio Salmona, discípulo de Le Corbusier, é uma das referências mais imediatas da arquitectura colombiana. Entre as suas obras mais celebradas está o museu Quimbaya, com que ganhou o prémio Nacional da Bienal de Arquitectura 1986 - 1987.

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