quarta-feira, 21 de março de 2012

ENTREVISTA COM O CINEASTA WERINTON KERMES/II




4 ) Você tem acompanhado o cinema de curtas e documentários? O que tem visto?

R. Olha, dentro do possível, vejo sim. Criei um festival de cinema no interior de São Paulo, na cidade de Votorantim. Está na 9ª edição e a cada ano recebemos aproximadamente 600 trabalhos e percebo que diferente da década de 80, hoje alguns elementos fazem a diferença: primeiro a tecnologia - os suportes, os preços de equipamentos estão muito acessíveis.

Você grava no celular. As faculdades de Comunicação estão aí aos montes, dando no mínimo base teórica para esta geração. Mas por outro lado sinto a falta do guerrilheiro cultural, o militante, aquele que primeiro faz e depois vai se preocupar com a questão financeira. Esta agora é uma geração de incentivos culturais, de editais, de leis, de Ministério da Cultura, de ANCINE; são profissionais do audiovisual, de mercado e não de militância.

Mas por outro lado eu entendo. Ninguém tem que viver em função das preocupações com aquilo que acontece ao seu redor. É que quando eu produzia e não tinha condições, eu tinha dois problemas: o primeiro era conseguir fazer, e o outro era mostrar. Diferente de hoje, que você tem um Youtube, que você faz de manhã e à tarde você já teve no mínimo 100 acessos, ou seja, foram 100 pessoas que você provocou de alguma maneira com o seu trabalho. Hoje o Canal Brasil é um espaço fabuloso.

Há as TVs Comunitárias; são mais de 120 pelo Brasil todo. Há um volume enorme de coisas sendo produzidas, mas há um número reduzido de trabalhos feitos com consciência dos efeitos que um produto audiovisual, com a enorme visibilidade que existe hoje, pode gerar de reflexão, de consciência e até de transformação.

5 ) Em sua formação, quais diretores você considera uma influência em sua carreira ?

R. Sou jornalista de formação teórica e prática. Fui para a universidade com 36 anos me formei com 40. Hoje tenho quase meio século. Estou com 48. Minhas inspirações, primeiro, foram aquelas revistas todas de que falei no início da entrevista.

Há muito tempo fui ao cinema ver um filme porque o titulo me chamou muito a atenção. Era Cabra Marcado para Morrer, e foi um soco no meio da minha barriga, Este filme era de um sujeito chamado Eduardo Coutinho e ele teria levado 20 anos para finalizar o filme. A partir daí, passei a beber desta fonte. Hoje é lugar comum, mas o Coutinho realmente é um daqueles que não tem como não se apaixonar pela obra e pela pessoa. Mas tem outros com o João Jardim, João Batista de Andrade, Walter Salles, Valter Carvalho e tem diretores de ficção que são maravilhosos como Jaco Van Dormael, Akira Kurosawa, e Fritz Lang.

Enfim, tem muita gente que nos inspira e não só gente que tem a mídia a seu favor, mas às vezes, aquela senhora que vende tempero na feira-livre, o cobrador do ônibus, o garçom simpático, o pescador de um litoral qualquer deste Brasil afora, enfim, é só ter olhar para além daquilo que estamos condicionados a ver que vamos encontrar inspiração e gente que vai nos ajudar a pensar melhor a nossa existência.




6) Sei que você tem uma equipe valorosa. Fale-nos dos seus colaboradores.

R. Tenho sim. São pessoas que estão comprometidas e têm os mesmos ideais. São elas hoje que me dão condição de executar idéias e muitas vezes as idéias vêm delas. A Miriam Cris Carlos, além de minha esposa é Doutora em Comunicação e Semiótica e é quem organiza todas as idéias antes de se gravar. O Jorge Silva (Jorge da Matta) é fotógrafo que topa qualquer parada.

O Marcelo Domingues, além de ser um cineasta de muita sensibilidade, é quem edita e dá forma aos nossos trabalhos e a jornalista Luciana Lopez é produtora e assessora de imprensa. Sem ela seria difícil dar visibilidade a nosso trabalho, pois não fazemos parte do seleto time de diretores brasileiros que tem a seu dispor verbas e visibilidade. Audiovisual não é um exercício solitário. O diretor é uma peça dentro de um processo e eu gosto muito disto: socializar é sempre bom, até no trabalho.

Aldo
Agradeço a oportunidade. São espaços como este que ainda faltam para semear idéias e levar os interlocutores a uma reflexão.

Sou um entusiasta dos novos meios, mesmo ainda não dominando tudo da Internet, pois vejo nela a possibilidade de uma comunicação democrática e alternativa, e você vem cumprindo este papel de extrema importância. Parabéns!

* O blog do diretor: www.werintonkermes.blogspot.com

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