terça-feira, 21 de junho de 2011


Cultura e Democratização

Recentemente, a posse do produtor cultural André Sturm como novo Diretor do MIS/Museu da Imagem e do Som de São Paulo e a polêmica causada por questionar o foco das instituições culturais públicas que, prioritariamente, realizam programas voltados à segmentos específicos e não buscam chegar ao seio da população, faz pensar em ações e conceitos num país em que quase toda a produção cultural depende de verbas governamentais.

Sturm propõe que o orçamento anual de 9 milhões de reais do MIS/SP esteja voltado a formar platéias e a colocar o cidadão dentro do espaço físico e do espaço conceitual, de que pode fazer parte o Museu.

" O museu tem muito espaço que não vinha sendo usado. Não dá para ficar apenas na vanguarda pela vanguarda, acho meio vazio", diz o Diretor, em entrevista à Folha de São Paulo, no dia 5 de junho de 2011.

Ele cita o caso do LAbMis, laboratório com ilha de edição que recebe 4 pessoas para uma residência durante 3 meses e que poderia servir a 2.000 pessoas, como ele enxerga, na nova visão administrativa do MIS.

Em ações recentes, a cidade de Paulínia tem enxergado mais longe e mais amplamente, ao se transformar em pólo cinematográfico, ao receber concertos internacionais e promovendo a interação de sua classe artística com o que há de mais elaborado na produção cultural contemporânea.

O evento Festa do Teatro distribui 40.000 ingressos, em São Paulo com o objetivo de promover o acesso à diversidade da produção cênica contemporânea brasileira e acontece também no Rio de Janeiro. A Virada Cultural, já tradicional e reconhecida em todo o país, é um evento que leva famílias ao universo do teatro, dança e literatura. Sem falar nos shows e concertos eruditos e instrumentais que transformam a capital paulista num grande painel gratuito da música nacional.

Aceitar o desafio de que grandes públicos podem aproveitar e se apropriar do que há de melhor e de conceitual nas produções artísticas e culturais é também reconhecer a inteligência deste público. Quando grandes eventos, festivais e projetos culturais são feitos com recursos públicos, devem propor em seus objetivos o desafio de alcançar ( através do interesse direto, uma campanha, marketing social e promoções criativas) o grande público e de alguma forma, tentar chegar até ele.

O brasileiro é reconhecido como um povo musical, mas há o estigma de que não ouve música clássica. Pois, contrariando tal conceito ( de forma errônea, consolidado em nosso inconsciente), o Festival de Música de Londrina, por exemplo, toda vez que vai às ruas, aos colégios e aos bairros, tem platéia cativa e interessada. Aceitar estes paradigmas é enclausurar a própria idéia de democratização, onde deve se oferecer, antes de supor que não é aceita.

O Festival de Música de Londrina/FML tem este mérito, assim como o Festival Internacional de Teatro de Londrina/FILO, o Carnaval Popular de Londrina e o interessante e multi-facetado Londrix/Festival Literário de Londrina.

Um concerto da OSUEL/Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina com o Maestro Daniel Havens me chamou a atenção pelo furor que causou no público, ávido por ouvir, ao vivo, trilhas de filmes tão diversos quanto um faroeste e uma ficção científica. Havens tem feito este concerto com orquestras pelo Brasil e o mundo e o sucesso, bem como a repercussão entre os novatos apreciadores de música clássica é imediato. Neste seu programa existe um foco. Mas precisamos lembrar da Bachiana Filarmônica ( idealizada por João Carlos Martins) e os concertos ao ar livre do pianista Arthur Moreira Lima, que percorrem o Brasil e que este ano esteve em Londrina. Ambos são sucessos entre o grande público, de Norte a Sul do país.

O fato é que devemos entregar ao público em geral, de forma ampla e irrestrita, o resultado de nossas obras e projetos culturais e deixar que sigam seu caminho: amadurecendo, renascendo ou sendo re-descobertos, no julgamento isento da história.


Aldo Moraes ( compositor)
composermoraes@hotmail.com

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